sexta-feira, 18 de outubro de 2013

rainha

quando escrevo sou rainha
de um império imaterial

aqui nesse feudo
nesse reino
nesse pedaço
crio e recrio
a meu bel prazer

eu poderia escrever infâmias
e vilezas
ou sutilezas
eu poderia fazer rimas pobres
aliterações
versos livres e brancos
ou livres e negros
versas livres e negras

eu poderia criar uma personagem
com tudo que eu não sou
(sempre há
algo de autobiográfico
na escrita
nem que seja pra se inspirar e fazer tudo ao contrário)

eu poderia reescrever mil vezes
ou deixar a palavra fluir quase sem pensar
sem refrear
inspiração bruta
ou não

eu poderia escrever uma história
sobre uma menina perfeitamente bem ajustada
que estaria a essa hora dormindo para ser produtiva
em vez de ruminar e escrever
fingindo que não tem louça a lavar

e eu poderia nesse império escrito em que sou rainha
entregar minha coroa
celebrar a anarquia
descer do pedestal
e dançar
a beleza
das coisas
que simplesmente
são.

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