quarta-feira, 31 de julho de 2013

amor livre II

te quero
mas não te quero só pra mim
porque falando assim parece que quero engaiolar suas potencialidades
enjaular suas possibilidades
limitar a incrível integridade de ser quem se é

te quero
mas te quero para ti
te quero para si mesmo
te quero livre
para ser o que você escolher
te quero livre
para trilhar sua vida

te quero
porque te amo
e amar
não é possuir
é libertar

quarta-feira, 24 de julho de 2013

sigarro com s de saudade

detestava cheiro de cigarro
em parte por causa daquilo que aconteceu quando eu tinha 14 anos
em parte só detestava

depois dele aprendi a fumar
e chegava a fumar e ficar cheirando as mãos
aspirando a saudade

gosto de fumar
mas não devo
gosto dele
mas não devo

devo deixar ir
e ir também
saímos por portas diferentes
não te deixei um beijo
você não deixou
mas deixou saudades

só esteja bem
por onde for
deste lado, eu estou
e apesar de tudo
há de se continuar
não só pelos objetivos - difusos
mas pelas partes boas do processo

afinal a melhor parte do cigarro não era o apagar-se
mas a queima
o durante
o processo

mas estou bem, josef k.
espero que estejas também, tão breve quanto possível
mais importante do que nosso caminho ser o mesmo é que sigamos
carrego o que aprendi contigo
carrego o que amei em ti
carrego o que senti
e isso não é uma bola e corrente nos meus calcanhares
isso é só amor
daqueles que foram e não podem mais ser
mas amor
daqueles de verdade
"tão real quanto tudo que você acredita".


domingo, 21 de julho de 2013

amor livre é pleonasmo

acho que meu tipo de amor preferido
acho que o paradigma que realmente acredito e sigo
é o de querer bem mais do que querer para si

sobre existir

não sei exatamente quem sou
e isso me deixa feliz
parece-me que a existência de fato precede a essência
e sagrada seja a reinvenção de si
bendita a possibilidade
de recomeços incessantes

são bem-vindas as dúvidas
quero a verdade, e não a convicção estagnada
quero a verdade, não a absoluta
mas a que é real exatamente por ser circunstancial
quero a verdade, não só por capricho pessoal
mas porque verdadeiramente livre é quem liberta

e todxs deveriam poder
ser
e só

e viver e amar e crescer e cuidar 
e construir e reconstruir 
e desistir e recomeçar
e chorar e se arrepender
e gritar e respirar fundo
e sentir o peso do luto 
e a leveza da consciência do transitório
e a ir embora e voltar
para os braços de si mesmx
e sentir a dor e o pesar
e sentir-se faltar
sentir-se falhar

e no entanto apesar de todos os contratempos 
nosso corpo semi-alienado insiste em continuar
com todas as somatizações, o corpo insiste em sobreviver
e a despeito da vontade de enfiar uma faca num coração que insiste em bater
a despeito da vontade de enfiar uma faca num coração que insiste em doer
ele prossegue sem sossego
com sua sístole e diástole 
e o amor pode ser catástrofe
contudo ainda há o livre-arbítrio
a amplitude revolucionária de escolher
ser.



quinta-feira, 18 de julho de 2013

Voo

Cassandra acendeu um cigarro e se sentou no parapeito da sacada. Era um dia nublado. Cassandra tragou profundamente como se a fumaça pudesse preenchê-la, e soltou bem devagar. Cassandra lembrou-se de coisas. Olhou pra baixo.

Cassandra sentia-se pesada e exausta. Cassandra pensou "Por quantas vezes eu terei de profetizar minha tragédia?". Cassandra pensou:
"E se"
"E se"
"E se"
E Cassandra subiu no parapeito e olhou pra baixo, e pensou em pular.
Pensou em como seria cair por treze andares. Pensou no quanto doeria ao seu corpo chocar-se contra o chão. Pensou se a existência realmente cessa no instante que morremos, ou se existe algo imaterial que sobrevive. Pensou em como seria o mundo sem ela. Pensou nxs que sentiriam sua falta.


Por tantas vezes Cassandra havia chegado naquele ponto, de tantas formas.

E daquela vez Cassandra pulou.

E voou.


Cassandra descobriu que existe vida para além de se sentir miserável.

Cassandra descobriu que existe força na solidão.

Cassandra descobriu que mesmo as experiências mais insuportavelmente dolorosas de uma vida contém algum aprendizado.

Cassandra descobriu que sempre existe um caminho, e que traçá-lo cabe tão-somente a cada indivídux.

Cassandra descobriu que sempre é possível interromper o processo, mas que sempre é possível continuar e transcender o momento.

Cassandra ouviu King's Crossing e entendeu como sempre cada verso. Cassandra jamais acharia que Elliott Smith era alguém fora de si, alguém a ser internado, alguém que não estava se esforçando o bastante, alguém que havia entendido a vida errado.

Porque afinal, de dor, Cassandra entendia.

E ao voar, percebeu que entendia de sobreviver também.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

meds II

não foi uma epifania
estava mais pra overdose

não foi uma enxurrada de certezas nem dúvidas
talvez de fármacos

isso não é nenhuma promessa
é tão transitório quanto tudo é na vida

mas isso não é um adeus
é uma saudação
seja bem-vinda, paz de espírito
me ajude a encontrar quem eu sou.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

impotência

não posso ajudá-lo
não posso apontar um caminho
o máximo que pude fazer
foi sair do caminho
e desejar bem a ele
eu não posso oferecer esse bem a ele
eu não posso oferecer esse bem a ninguém
felizmente já não esperam isso
esperam de mim que eu continue
e eu espero da vida que ela cesse logo.

terça-feira, 9 de julho de 2013

rodeios

tenho fotos belíssimas
que não posso mostrar para quase ninguém

tenho sentimentos puros
que insistem em me arruinar

quero um amor abnegado
mas sou demasiado humana

quero voar
mas permaneço presa ao chão

quero partir
mas algo me detém
olho e procuro esse algo
a fim de que me guie
nunca o encontrei
achei que havia
mas nunca perdurou

às vezes só seguir basta
noutras não.

às vezes qualquer coisa supre
mas nem sempre.

"perder-se também é caminho", dizem
mergulhar no abismo também.

Florianópolis e saudade

Eu me lembrava de Florianópolis sempre como uma cidade fria e nublada. Voltei recentemente e vi que não era meu cérebro falseando coisas: realmente, faz muito frio e céu cinzento.

E agora não é ela quem me faz mingau de aveia; sou eu mesma. Com leite de soja.

Suspiro.

Hoje consigo aceitar que minha mãe se foi. Não é uma constatação fácil. Dói, muito.

Mas aceitei. Aceitei a morte como uma verdade esmagadora, inexorável e material.

E essa casa em que cresci não tem mais nossos livros. E tem pessoas mas não tem seu sorriso. E não tem nossos desenhos. E não tem nossa sintonia.

Nessas horas é difícil ser agnóstica, porque eu não sinto a presença dela. Há um mês, eu visitei seu túmulo. Foi a primeira vez que fui só. Eu estava péssima. Tinha vendido cupcakes na UnB, estava tentando ser produtiva, essas coisas. E simplesmente desabei. Eu achei que decidir que eu queria ficar bem seria um primeiro passo decisivo rumo a isso. Não que isso fosse uma panacéia - panacéias não existem -, mas um começo. "Os começos são sempre humildes."

E naquele dia desabei, depois de ter vendido quase todos os cupcakes. Comprei um chá. Procurei um lugar isolado no Minhocão. Comecei a chorar e escrever.

"Se viver é isso, eu passo."

Fui então ao cemitério. Sabia aproximadamente o local do túmulo, embora não soubesse o código. Procurei, achei. Deitei no túmulo. No chão, com a cabeça na lápide. E chorei. Muito.

Lembro-me de ter olhado pro céu e dito "Deus, se você existe, me ajude, porque eu não aguento mais."
Lembro-me também de ter, ali, deitada no chão, pensado que eu só tinha ido até lá por puro misticismo ocidental. Não me senti, ali sobre o túmulo, nem um pouco mais próxima da minha mãe. Eu estava meramente sobre os restos mortais dela. A matéria. O corpo em decomposição da mulher que foi minha mãe por 54 anos. Mas o espírito?

Acho que não há nenhum espírito, no final.

"Nuestra auto-identidad está profundamente tejida con la piel y la sangre de los otros, y es por eso que, cuando alguien próximo muere (sea o no por suicidio), se lleva una parte de “nosotros mismos”. Así, cuando alguien se suicida, nunca se mata tan sólo a “sí mismo”,o, mejor dicho, mata precisamente a ese “sí mismo” en donde ya está, desde siempre, el otro." ("Nossa auto-identidade está profundamente tecida com a pele e o sangue dos outros, e é por isso que, quando alguém próximo morre (seja ou não por suicídio), leva uma parte de "nós mesmos." Assim, quando alguém se suicida, nunca se mata tão somente "a si mesmo", ou, melhor dizendo, mata precisamente a esse "si mesmo" onde já está, desde sempre, o outro.")

Eu acho esse fragmento belíssimo e muito real.

Ela se suicidou. Ela matou a si. E me matou um pouco junto, disso não tenho nenhuma dúvida.

E, simultaneamente, se algo dela sobreviveu, isso também vive em mim.

Enquanto eu viver, e eu não faço idéia do quanto isso será.

E assim como quando eu morrer, não morrerão as partes minhas que já estão em outrxs.

Espero que essas partes não doam tanto em vocês quanto doem em mim.


segunda-feira, 1 de julho de 2013

Shakespeare - Hamlet

"Ser ou não ser, eis a questão! Que é mais nobre para o espírito: sofrer os dardos e setas de um ultrajante fardo, ou tomar armas contra um mar de calamidades para pôr-lhes fim, resistindo? Morrer... dormir; nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne! Que fim poderia ser mais devotadamente desejado? Morrer... dormir! Dormir!... Talvez sonhar! Sim, eis aí a dificuldade! Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte, quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa! Porque, senão, quem suportaria os ultrajes e desdéns do tempo, a injúria do opressor, a afronta do soberbo, as angústias do amor desprezado, a morosidade da lei, as insolências do poder e as humilhações que o paciente mérito recebe do homem indigno, quando ele próprio pudesse encontrar quietude com um simples estilete? Quem gostaria de suportar tão duras cargas, gemendo e suando sob o peso de uma vida afanosa, se não fosse o temor de alguma coisa depois da morte, região misteriosa de onde nenhum viajante jamais voltou, confundindo nossa vontade e impelindo-nos a suportar aqueles males que nos afligirem, ao invés de nos atirarmos a outros que desconhecemos? E é assim que a consciência nos transforma em covardes e é assim que o primitivo verdor de nossas resoluções se estiola na pálida sombra do pensamento e é assim que as empresas de maior alento e importância, com tais reflexões, desviam seu curso e deixam de ter o nome de ação."

Elliott Smith - See you in heaven

http://www.youtube.com/watch?v=FuxAjkzD2pw

Obrigada, de coração

"você é maravilhosa giovana, só isso que tenho a dizer, o planeta deveria ser grato por você ter estado por aqui, fique bem, aonde quer que seja ou queira, muita luz e muito amor, sempre."

 "eu queria conseguir escrever uma última palavra de amor bonita pra você. uma coisa que fosse poética, que tivesse alguma simbologia forte por detrás. mas não dá. a dor é tão grande que simplesmente anestesia qualquer outra sensação.

dor por saber que, como a elisa falou, essa mundo é tão fodido que destói a vontade de viver de pessoas tão geniais como você. dor por saber que, mais do que dói em mim, isso tudo dói em você.

tudo que eu consigo dizer é que eu te amo absurdamente. eu quero que um pedaço de mim seja um tributo a você; um tributo ao que eu aprendi com você .

quando eu estava afundada em merda você me ajudou mais que ninguém. você sempre foi a pessoa que entendeu minhas piores dores - as que eu dificilmente exponho pra alguém - e eu preciso tentar compreender a sua mais que nunca.

gi, te quero em paz. e te quero bem.

não sei mais o que dizer. só precisava te dizer mais uma, pelo menos mais uma vez, o quanto você é maravilhosa."


"Entra aqui mais uma vez só pra ver que eu te amo e adorei te ver mais uma vez
Espero que tu encontre tua paz finalmente
Tudo de bom pra ti, seja com qual for a decisão que tu quiser tomar
Cada um tem que se preocupar consigo mesmo e os outros vão superando
Quem te conhece sabe o que é melhor pra ti
Quem sabe a gente se encontra de novo, outro dia, né?
Olha, vai, mas não esquece da gente. O mundo ainda não tá pronto pra ti, mas quando tiver, vamos precisar de ti de novo."


"eu espero que você encontre.
seja lá o que for.
seja lá como for.
seja lá aonde você tenha que ir.
eu só espero que você encontre,
porque eu sei que há muito você tem procurado.
eu só espero que você encontre
logo.
e que a procura lhe seja leve
e a terra também."


"É um grito preso na garganta
Mas só acontece com quem sente
Pois o peso deste mundo é indecente
E quando nem gritar mais adianta

É que tudo se perde
E nada se acha
Aí que se morre
A cada segundo que passa
A hora nunca chega?
Ou será que já passou...
O peso insustentável da dor?
Os outros que carreguem!
Só eu sei quanto me basta
E é tudo uma questão de tempo
Vem cá e me abraça."

"Every time you say it won't change your mind
Little by little is another goodbye

This is not about leaving
as much isn't about holding

This is less about letting go
More about Falling to pieces

To lose the grip and tumble
To Loose the rope and fall

Fall graciously, my darling
Make it a flight
A hell of a flight
Destination unknown

Poetry is for those who aren't whole
And I do like to peer inside your soul
That certainly would be something to miss
Be careful with your goodbyes little miss"

obrigada
por
respeitarem minha dor
minha autonomia
e minha decisão
obrigada por me verem como alguém, e não um diagnóstico ambulante de depressão
obrigada por terem me ouvido
segurado minhas mãos
acariciado meu cabelo
ligado ou mandado sms
aparecido de repente
obrigada por cada presente - cada desenho, palavra, abraço, comida
obrigada  por cada lembrança do que é lealdade e carinho de fato
obrigada por me amarem no pior de mim
obrigada por verem algo em mim digno de ser gostado
obrigada aos que por amor pediram pra eu ficar, mas não dá
e obrigada aos que me deixaram ir a despeito de como dói ficar.
  

The Cure - From the edge of the deep green sea

I wish I could just stop
I know another moment will break my heart
Too many tears
Too many times
Too many years I've cried over you

How much more can we use it up?
Drink it dry?
Take this drug?
Looking for something forever gone
But something we will always want...

"Why why why are you letting me go" she says
"I feel you pulling back
I feel you changing shape"
And just as I'm breaking free
She hangs herself in front of me
Slips her dress like a flag to the floor
And hands in the sky
Surrenders it all...

I wish I could just stop
I know another moment will break my heart
Too many tears
Too many times
Too many years I've cried for you
It's always the same
Wake up in the rain
Head in pain
Hung in shame
A different name
Same old game
Love in vain
And miles and miles and miles and miles and miles
Away from home again...

Eternamente agnóstica

"Deus" e seus desígnios são, frequentemente, uma forma metafísica de dizer "Não sei porque o mundo é tão horrível, mas preciso achar que existe uma razão insondável para isso, porque se essa merda toda for aleatória, vou pirar." Eu pirei.
 

everything's misplaced

e no meu sonho ela estava como eu
chorando, segurando uma faca, e com saudade de alguém
e o sonho não fazia nenhum sentido
tudo no lugar errado
só imagino que figura patética devo ser
isso não é sobre desespero
é sobre derrota.