quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

somehow i became 18
somehow 2012 is going to an end
somehow i've got real love

i'm hurt but somehow i'm still sane
i'm broken but somehow i'm still alive
i'm trying hard but somehow i'm still breathing
i'm tired but somehow i have survived

and still
and still
somehow
i still have time
to rebuild myself one more time
to mend some pieces of my life
to hold myself in order to not to die.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

há quem pergunte
como estou
e eu respondo
"tô vivona"

superficialmente
parece
redundante

mas
não
é.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

#15

O amor chega
De mansinho ou de assalto
E até o suspiro final, você nunca sabe se vai voar ou cair no abismo

sábado, 8 de dezembro de 2012

Fale com ela - Almodóvar

- Levei dez anos para esquecê-la, mas juro estar mesmo acabado.
- Marco...
- A Ângela e eu viajávamos muito sob o pretexto de escrever guias turísticos de locais exóticos, mas na verdade era para afastá-la das drogas, para fugir de Madrid. A vida em Madrid era infernal, só nos dávamos bem nessas fugas. Após cinco anos de tentativas e sete guias turísticos, trouxe-a para cá, para Lucena, para os pais dela - que conseguiram curá-la definitivamente da droga e de mim.
- Mas ainda gostava dela.
- Por isso chorava sempre que me emocionava, por não poder partilhá-lo com ela. Não há nada pior do que se separar de alguém que ainda ama.
- Que história triste...
- "O amor é a coisa mais triste do mundo quando se desfaz", diz uma canção de Jobim.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

naquela noite
você me abraçou tão forte
tão forte
tão forte

nunca tive
tão forte
a noção
de como eu estar viva
era importante
para alguém.

Sobre continuar

Hoje eu daria
Todo o dinheiro que não tenho
Todos os sonhos dos quais abri mão
Toda a dor que tento domar
Para conversar com ela

Hoje eu abriria mão
De sucesso, mas não das minhas convicções
Do futuro, mas não de responsabilidade moral
Da minha vida, mas não das minhas lutas

Hoje eu faria
Algumas coisas de um jeito diferente
Levaria o "be kind" mais a sério
Mas eu não podia ser mais velha do que era

Hoje entendo bem mais
Sobre solidão, loucura e ausência
Sobre devoção, saudade e presença
Sobre morte, amor e limites
Mas é tarde

Se eu apenas pudesse abraçá-la
E agradecê-la
Pois sou filha da saudade e da dor
Da solidão, deslocamento e sensação de não-pertencimento
Mas sou filha da coragem, da honra e da resistência
E da noção de que viver é mais do que existência

Parte de mim é luto
Parte de mim é luta
Parte de mim é saudade
Parte de mim é combate
Contra o mundo e contra a dor

A ela devo minha vida
E muito a recriminei por isso
Mas enquanto eu estiver aqui
Que minha vida seja um tributo a sua memória
E que eu honre a sua glória
De ter sido fiel a si
Por cinquenta e quatro anos até o fim.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Gratidão

Eu te digo "obrigada"
e você diz que eu não preciso agradecer

mas persisto, insisto
dentro do meu coração,
te agradeço todo dia
pelo amor,
pelo cuidado,
pela devoção

te agradeço por não querer meus "obrigada"
e por aceitar meus "eu te amo"

te agradeço pelo alívio da solidão
e pela verdadeira companhia

te agradeço pela sinceridade
pela paciência
pela doçura

te agradeço pelos dias em tua presença
te agradeço pela delicadeza
e pela permanência.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Queria dormir contigo
E nunca mais acordar
Mas acima de tudo
Queria dormir contigo


O maior tributo de amor que posso dar é acordar.

sábado, 17 de novembro de 2012

The Cardigans - Communication

For twenty-seven years I've been trying
To believe and confide in
Different people I've found
Some of them got closer than others
Some wouldn't even bother
And then you came around

I didn't really know what to call you
You didn't know me at all
But I was happy to explain
I never really knew how to move you
So I tried to intrude through
The little holes in your vanes
And I saw you

But that's not an invitation
That's all I get
If this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you
But I don't know how to connect
So I disconnect

You always seem to know where to find me
And I'm still here behind you
In the corner of your eye
I'll never really learn how to love you
But I know that I love you
Through the hole in the sky
Where I see you

And that's not an invitation
That's all I get
If this is communication
I disconnect
I've seen you, I know you
But I don't know how to connect
So I disconnect

Well, this is an invitation
It's not a threat
If you want communication
That's what you get
I'm talking and talking
But I don't know how to connect
And I hold a record for being patient
With your kind of hesitation
I need you, you want me
But I don't know how to connect
So I disconnect
I disconnect

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eu queria que você estivesse aqui

Eu queria que você estivessse aqui.

Em primeiro lugar, eu te abraçaria. Eu te abraçaria como me arrependo amargamente de não ter feito a última vez que nos vimos. Eu te abraçaria como tenho sonhado fazer, e acordo com o coração doendo, doendo, doendo. Eu te abraçaria apertado e forte como você fazia comigo e como faço com quem gosto.

Eu te apresentaria ao meu namorado. Você gostaria dele no início, e depois não mais, como fazia com qualquer pessoa, me frustrando até a exaustão. Mas ele é bom pra mim. Ele me salvou um pouco do terror que é sua ausência.

Eu discutiria com você sobre os livros que tenho lido. Eu te falaria sobre a faculdade, a aula de Antropologia. Eu te falaria sobre o brilhantismo da Beauvoir ao aplicar o conceito de alteridade a Mulher. Eu te levaria em palestras, caso você quisesse.

Eu te mostraria Amanda Palmer, e as músicas novas que toco no violão. Eu cozinharia pra você.

Você conheceria minha casa nova. Você veria como os gatinhos estão enormes.

A gente poderia conversar sobre biopoder. A gente poderia conversar sobre qualquer besteira.

Você veria minhas metamorfoses capilares. Você veria meus pilcens. Você veria meus dentes se ajustando ao aparelho.

Eu te contaria sobre como a solidão persiste. E você entenderia tudo, na hora, porque partilhamos isso em comum desde que você me pôs nesse mundo escroto. Você também o achava escroto.



Eu perdi minha mãe. Mas eu não perdi só a mulher que tinha meu sangue e me criou, não. Eu perdi minha companheira, minha amiga, minha origem. Perdi minha família. Perdi a pessoa que mais me conhecia e entendia nesse mundo, não por, como no estereótipo materno, apenas conviver comigo, mas porque éramos tão parecidas. Divergentes em muita coisa, mas irmãs de alma no essencial.

"É preciso ser íntegro até a dureza nas questões do espírito para tão-somente suportar a minha seriedade, a minha paixão." - Nietzsche. Você tinha bom gosto, mãe.

A saudade continua numa espiral intoxicante.

Eu penso em você todos dias. Eu espero que, se há alguma coisa depois dessa vida, que seja melhor, porque você sofreu muito. E espero que de alguma forma nossos espíritos se encontrem no ar um dia e eu possa te abraçar e ver seu sorriso de novo. Eu espero que eu possa ver seus olhos sem tristeza. Espero acima de tudo que você não sofra. Porque eu já sofro o bastante por nós duas.

Eu queria que você estivesse aqui. E eu sei que seria muito mais difícil pelos próximos anos do que vai ser. Mas você sempre disse pra eu sair da zona de conforto. Dessa vez, eu sairia. Eu prometo que eu sairia.


Queria que você tivesse orgulho de mim, hoje. Você teria? Eu não tenho.


"E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão."
Você me perdoaria? Porque eu não consigo me perdoar.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

The Smiths - Asleep


Sing me to sleep
Sing me to sleep
I'm tired and I
I want to go to bed
Sing me to sleep
Sing me to sleep
And then leave me alone
Don't try to wake me in the morning
'Cause I will be gone
Don't feel bad for me
I want you to know
Deep in the cell of my heart
I will feel so glad to go

Sing me to sleep
Sing me to sleep
I don't want to wake up
On my own anymore
Sing to me
Sing to me
I don't want to wake up
On my own anymore
Don't feel bad for me
I want you to know
Deep in the cell of my heart
I really want to go

There is another world
There is a better world
Well, there must be
Well, there must be
Bye bye

domingo, 4 de novembro de 2012

Houve um tempo em que eu tive esperança. Houve um tempo em que eu rezei - mesmo sendo desde sempre profundamente agnóstica - para o vazio para que minha vida melhorasse. Que a solidão diminuísse. Que aquele que invadiu minha família fosse embora. Que o tempo passasse, e eu crescesse, e construísse uma vida bonita.

Houve um tempo em que eu desejei estar morta, mas tive medo. Medo da dor, medo do que poderia vir depois, medo de me arrepender. E sobretudo, medo de ferir aqueles que me amavam. Rezei para o vazio para que eu adoecesse, ou sofresse um acidente, para poder morrer sem ter de fazê-lo com minhas mãos.

Houve um tempo em que eu amei com toda a minha alma desesperada, torta e sombria. Houve um tempo em que o amor foi minha grande esperança, e houve um tempo em que ele foi minha devastação e minha ruína.

Houve um tempo em que eu acreditei que eu poderia ser uma adulta relativamente feliz. Houve um tempo em que eu confiei nas minhas potencialidades para me levarem para um lugar melhor.

Houve um tempo em que eu tive uma certa ânsia de realizar coisas, projetos, viagens, produção acadêmica, o diabo.

Houve um tempo que eu quis cantar, ter uma banda, me apresentar. E não tive energia pra investir porque não conseguia achar que as pessoas poderiam gostar.

Houve um tempo no qual eu desenvolvi uma técnica para abafar totalmente meus soluços ao chorar, para que ninguém em casa ouvisse. E houve um tempo no qual isso não era necessário porque eu me forçava a um estoicismo extenuante, porém eficaz.

Houve um tempo em que eu sofri muito porque meus colegas de escola não gostavam de mim mesmo eu me esforçando. Sofria muito por pensar que eu era indigna da afeição. E houve um tempo no qual eu constatei que isso não mudou e que eu não tenho mais ela pra falar sobre o quanto dói.

Houve um tempo em que eu fui dominada pela dor, pelo luto, pela saudade. Pela saudade dela, e pela saudade de mim.

Há um tempo em que eu procuro por uma razão.

sábado, 20 de outubro de 2012

Sobre tentar e esperar

Um dia acordei
Era um dia como os outros
Um dia acordei
[mesmo sem querer, como raramente quis

E o vazio estava lá
E a melancolia e a solidão
E os livros como refúgio
E o ativismo como refúgio
E o amor como o maior e pior dos refúgios

E eu tentei, tentei, tentei
Tentei a vida inteira
Continuo tentando
Digo a mim mesma que tenho um objetivo
Seja lá qual for
Forjo planos mas meu íntimo sabe
Que meu único caminho sempre foi
[continuar o esforço hercúleo da própria caminhada

Eu espero por algo que não sei o que é nem se virá
E no entanto continuo esperando
E se tudo mais falhar,
[sempre esperei a morte.

sábado, 29 de setembro de 2012

Eu não tenho mais fé no meu futuro. Já não possuo a esperança de que minha inteligência, resiliência, perseverança, esforço, boas intenções um dia me salvem. Já não espero salvação. Muitíssimo mesmo na forma de emprego ou carreira acadêmica. Nem em conhecimento, seja lá como você, leitor inexistente, interpreta isso.

Eu não me orgulho de nenhuma conquista minha, até porque eu mal conquistei algo. Contudo, se teve algo que me custou muito, muito mesmo, de verdade, foi permanecer viva. Isso sim me custou muito. Isso sim deixou marcas em mim inteira.

Não há glamour algum na tristeza, sabe. Não é agradável constatar que aos dezoito anos você já perdeu as esperanças. Por mais que eu preferisse estar morta desde pelo menos os onze anos, pensava que se eu sobrevivesse até os dezoito, eu poderia talvez sair de casa e construir uma vida bonita com minha inteligência e esforços. Eu estou com dezoito, moro sozinha, passei numa federal no meu primeiro vestibular, faço um preparatório pra concurso.

Continuo infeliz. Continuo me sentindo miseravelmente sozinha. Voltei a ser insone. Engordei. Durmo o máximo possível.


Se tem uma coisa realmente boa, linda e doce nesse momento da minha vida, é ele. Ele, que me abraça quando choro de madrugada (é sempre pior de madrugada) e me faz chá. Ele, que se esforça como ninguém mais se esforça para me animar, me alegrar, cuidar de mim.

Eu não acredito em deus. Nem em mim. Nem na humanidade.

Se tem algo no qual eu acredito, é nele.

Amar é um vôo livre sobre o abismo.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

The xx - Angels

Light reflects from your shadow
It is more than I thought could exist
You move through the room
Like breathing was easy
If someone believed me

They would be as in love with you as I am
They would be as in love with you as I am
They would be as in love with you as I am
They would be in love, love, love...

And everyday
I'm learning about you
The things that no one else sees
And the end comes to soon
Like dreaming of angels
And leaving without them
And leaving without them

Being as in love with you as I am
Being as in love with you as I am
Being as in love with you as I am
Being as in love, love, love...

Love, love, love...
Love, love, love...

And with words unspoken
A silent devotion
I know you know what I mean
And the end is unknown
But I think I'm ready
As long as you're with me

Being as in love with you as I am
Being as in love with you as I am
Being as in love with you as I am
Being as in love, love, love.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

"And I laughed and said, Life is easy. What I meant was, Life is easy with you here, and when you leave, it will be hard again."

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Você era Deméter e eu era sua Cora
Eu, ausente mais do que presente
Mas supostamente quando eu vinha, você iluminava
(Embora eu ressentidamente achasse que você tolerava bem minha falta)

Cartas e faltas
<  insira aqui muita dor e caos e ódio e mágoa e suspiro, tentativa, suspiro, tentativa, desistência, ausência.
eterna  >

Ou talvez os papéis tenham se invertido
Você passa o tempo todo debaixo da terra
E eu alterno entre inverno e primavera

Perséfone e Cora
mas as trevas incrustaram
há mais tempo que isso tudo.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

- Se você for mãe, seu filho nunca vai poder dizer que reprovou no vestibular por problemas emocionais, você diria "Aqui isso não cola"
- Eu nunca diria isso pra ninguém, ainda mais um filho meu. Eu não acho saudável o que eu me tornei.
- ...

terça-feira, 17 de julho de 2012

Pink Floyd - Coming back to life

Where were you when I was burned and broken
While the days slipped by from my window watching
Where were you when I was hurt and I was helpless
Because the things you say and the things you do surround me
While you were hanging yourself on someone else's words
Dying to believe in what you heard
I was staring straight into the shining sun

Lost in thought and lost in time
While the seeds of life and the seeds of change were planted
Outside the rain fell dark and slow
While I pondered on this dangerous but irresistible pastime
I took a heavenly ride through our silence
I knew the moment had arrived
For killing the past and coming back to life

I took a heavenly ride through our silence
I knew the waiting had begun
And headed straight...into the shining sun

terça-feira, 3 de julho de 2012

The Cure - The Reasons Why

I won't try to bring you down about my suicide
Got no need to bring you out about my big surprise
I won't try to pull you down about my love of life
If you promise not to sing about the reasons why

I am writing you a letter
Getting better
Can I see you?
When...
All the lights go out together
Blame the weather
Yeah the cold again
In the darkness for a second
I am sure I see them smiling then
I feel them calling me
Yeah they are calling me...

And I am falling through the stars
You remember now?
Yeah I am falling in their arms
You remember how?
Oh I am falling through the stars
You remember this ?
I am falling in their eyes
You remember the kiss?

I won't try to pull you down about the other side
Got no need to pull you out about my right to die
I won't try to bring you down about my suicide
If you promise not to sing about the reasons why

I am calling you at midnight
Feeling alright...can I tell you?
When?
On the line no sound but my words
Must be night birds on the wire again
In the silence for a second
I am sure I hear them laughing then
I feel them calling me
Yeah they are calling me...

I am falling through the stars
You remember now
Yeah, I am falling in their arms
You remember how
I am falling through the stars
You remember this
I am falling in their eyes
You remember the kiss

"We know"
They said
"You're holding on
To nothing left of something gone"

"We know"
They said
"In letting go
Of fear and dread
And all you know
You'll lose the need of certainty
And make-believe eternity
To find the true reality
In beautiful infinity...."

But I won't try to bring you down about my suicide
If you promise not to sing about the reasons why.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Zeca Baleiro - Minha casa

É mais fácil
Cultuar os mortos
Que os vivos
Mais fácil viver
De sombras que de sóis
É mais fácil
Mimeografar o passado
Que imprimir o futuro...

Não quero ser triste
Como o poeta que envelhece
Lendo Maiakóvski
Na loja de conveniência
Não quero ser alegre
Como o cão que sai a passear
Com o seu dono alegre
Sob o sol de domingo...

 Nem quero ser estanque
Como quem constrói estradas
E não anda
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas
Quero no escuro
Como um cego tatear
Estrelas distraídas...

Amoras silvestres
No passeio público
Amores secretos
Debaixo dos guarda-chuvas
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar
Tempestades que não param
Pára-raios quem não tem
Mesmo que não venha o trem
Não posso parar...

Veja o mundo passar
Como passa
Uma escola de samba
Que atravessa
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Pergunto onde estão
Teus tamborins?
Sentado na porta
De minha casa
A mesma e única casa
A casa onde eu sempre morei
A casa onde eu sempre morei
A casa onde eu sempre morei...

quinta-feira, 14 de junho de 2012

4 in the morning

São quase 4 horas da manhã e as coisas que tanto doíam parecem não doer mais.

Pode ser só nesse momento. Se é assim, que momento abençoado, então.

Eu o agradeço com a convicção de que se não fosse seu amor, eu não conseguiria suportar.

Eu o agradeço por me lembrar que amor não precisa ser sempre vulnerabilidade. Que o amor não precisa ser sempre meu calcanhar de Aquiles. Por me lembrar que o amor pode ser força, resistência e paz.


"Se existe aquele que só sabe ferir, também há quem cuida dessas feridas. Também há quem as cure. E são essas pessoas que nos fazem olhar para frente."
- Fruits Basket

terça-feira, 29 de maio de 2012

Corpo

Um corpo morto é apenas um corpo. Um cadáver. Um corpo é rígido. É gelado. A expressão facial é completamente diferente da expressão de quando a pessoa era viva.

"Que expressão serena. Está em paz."

Dizer isso é um lugar comum. Para mim, nos mortos que vi até hoje, a expressão não era serena; era vazia, era uma face sem expressão. E mesmo que pareça serena, de que isso adianta se tira do rosto a identidade?

Um corpo morto, no velório, tem os olhos fechados. Os olhos, a janela da alma, estão fechados. A vida se esvaiu.

Um corpo é rígido e gelado. Mas eu o abracei. Digo "o" porque não abracei ela. Não abracei minha mãe. Abracei só um corpo, sem vida, sem identidade, sem calor.

Mas abracei. Abracei um corpo.
Preferia ter abraçado minha mãe.



Há uns três anos, ela me mandou uma carta na qual contava que um vizinho de nossa casa em Florianópolis havia morrido enquanto estava agachado pintando o muro. E lá ficou, morto e agachado. Quando sua esposa chegou, chamou a polícia e as formalidades cabíveis.

Mas, segundo minha mãe, não tocou no corpo. Em nenhum momento. Minha mãe comentou na carta que eles eram um casal convencional, juntos há décadas. Que a mulher era uma mulher convencional. E que não tocou no corpo. Minha mãe achava que ela deveria ter tocado.

Eu não sei se ela deveria ter tocado. Isso é de foro íntimo. Mas eu toquei. Eu fiz carinho na testa gelada e desejei ter feito mais isso quando era quente.

Vou sentir saudade todos os dias da minha vida.Que essa saudade por vezes tão cruel e dolorosa me sirva como lembrete para amar direito os presentes.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Florence and the machine - Blinding

No more dreaming of the dead as if death itself was undone
No more calling like a crow for a boy, for a body in the garden
No more dreaming like a girl so in love, so in love
No more dreaming like a girl so in love, so in love
No more dreaming like a girl so in love with the wrong world. 

domingo, 27 de maio de 2012

"Devo manter meu coração cheio de amor hoje pois de que outra maneira poderei suportar mais esse dia?"

Sempre pensei assim.





Mas hoje sei que o amor não vai me salvar.

Acho que nada vai.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Carissa's Wierd - September come take this heart away

This room has so many windows
Too many windows
I've sat and watched the trees framed to fade outside
I hope the seasons treat you well
I hope the seasons treat you kind
As kind as I never was
As comforting as I never could be

I saw 2 fake long stemmed roses
On the windshield of a car
September come please take this heart away
All of these windows
Bring in the cold air
I hope you have a coat
To keep you warm
Warmer than those last times we spoke
Warmer than the last words we said
I'm sure the wind blows gently on you now

I hope that nothing will ever remind you of me
Glue that faded photo on a worn out journal page
It reads September come, please take this heart away

quinta-feira, 24 de maio de 2012

O único conselho que eu talvez possa dar

A gente endeusa os ausentes. Aqueles ausentes porque as vidas  pararam de se cruzar com as nossas e tomaram rumos diferentes. Galeras diferentes, cidades diferentes, hobbies diferentes, empregos diferentes. Endeusa como se houvesse sido uma época gloriosa e dourada, porque a ausência dá uma tonalidade totalmente nova às lembranças. E a gente endeusa os mortos.

Esse post é só uma dica humilde de uma garota de dezessete anos bastante ferrada, mas com boas intenções:
A vida é terrivelmente transitória. Terrivelmente breve, terrivelmente frágil. Portanto,

é importante dizer a quem você ama o quanto você os ama enquanto eles ainda podem te ouvir.

E não só dizer, porque dizer às vezes é muito fácil. É importante abraçar, cuidar, ouvir. Ouvir. Ligue pras pessoas que você gosta, pergunte, com sinceridade, como elas estão. Não as deixe só, imersas em dor.


Só digo isso porque eu queria ter feito isso. Pior que eu sou uma pessoa que acredita de verdade que amor, devoção, responsabilidade e lealdade devem andar sempre juntos. Costumo levar isso a sério e me esforçar pra ser assim com quem eu amo.

Mas falhei, falhei, falhei. Falhei miseravelmente com ela.

Perdão.


E você aí, que me lê, ou não: Ame. Ame direito. Não queira esperar sentir a dor de quando a ausência é definitiva e eterna. Acredite: dói demais. Cuide bem das pessoas que você ama enquanto você tem oportunidade.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Björk - Hyperballad

It's real early morning
No-one is awake
I'm back at my cliff
Still throwing things off
I listen to the sounds they make
On their way down
I follow with my eyes 'til they crash
And imagine what my body would sound like
Slamming against those rocks

And when it lands
Will my eyes be closed or open?

I go through all this
Before you wake up
So I can feel happier
To be safe up here with you.

sábado, 19 de maio de 2012

A morte é a verdade absoluta.

Esmagadora. Inexorável.

Não há lágrimas que revertam a morte. Não há dinheiro, não há desespero ou desamparo que a compadeçam. Especialmente quando essa morte foi escolhida.

Queria abraçá-la de novo. Acima de tudo, queria abraçá-la de novo. Queria sentir aquele 1,57m e ouvir sua risada e mostrar coisas a ela.

Dói, dói, dói. Disseram-me: "Perdi minha mãe há 20 anos e ainda dói." Tenho um belo futuro pela frente então.

É possível encontrar um lugar no mundo para mim? Ela jamais encontrou; ela me disse isso ano passado.

A pessoa mais parecida comigo.


Que fim horrível.

Queria ter fé. Não a parte dos preconceitos e da esquizofrenia. Queria só o conforto de conseguir acreditar num deus compassivo que assegurasse paz a ela. A paz que eu queria ter dado.

A presença da ausência é muito forte. Parece que eu morri um pouco junto. É um universo enorme de coisas que fazem falta e coisas que eu queria compartilhar e não posso. De comidas a viagens. De discussão sobre livros a xícaras de chá mate.

Que saudade. Se ao menos esse pranto servisse pra aliviar sua alma.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Poucas coisas são tão tristes quanto ver algo que você gostaria de compartilhar com alguém que morreu.


Vou passar o resto da vida imaginando suas respostas.



"Vou-me embora. Estou triste: mas sempre estou triste."
- Pablo Neruda

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vai, Giovana, ser gauche na vida

Eu espero por epifanias que não virão
Pelo súbito despertar de consciência e iluminação
Por certezas, verdade e convicção

Queria respostas prontas e dogmas
Queria crenças enlatadas
Queria ser quem aceita de bom grado isso tudo
Mas eu me ofendo com mediocridade
Eu não toleraria uma vida de superficialidade

Não, na verdade
Não me serve a alienação
Não me serve viver no raso
No fácil, no óbvio, no supostamente nato
Não me servem coisas impostas

Eu escolhi o amor, a verdade, a política e a empatia
E mesmo que isso me arruine
Eu escolhi
E vou até o fim.

domingo, 6 de maio de 2012

In memoriam

Você está no meu jeito de abraçar. No meu jeito de gostar de mãos, de ser prestativa e atenciosa com quem eu gosto. Você está na minha atenção com os detalhes. Você está no meu jeito de amar.

Você está nas minhas mãos que se tornaram levemente marcadas por cortes estúpidos na cozinha, como as suas eram. Você está no meu gosto pelos livros, na minha alfabetização precoce. Na Mafalda, Grimble, no Voltaire, George Orwell, no livro do Nietzsche que eu convenci ele a te comprar uma vez. Você está no fato de eu saber escrever Nietzsche e saber mais ou menos quem ele foi.

Você está na minha suposta habilidade na escrita. Você está no meu gosto por The Wall, por Pink Floyd, Brain Damage. Por If. Por Cremant nuvols, por Run run se fue pa'l norte, por The Scientist, When you were young, O Peixe, Colorblind.

Você está no meu gosto por chá mate, erva doce, cidreira, hortelã. Do mingau de aveia que talvez eu nunca mais tome. Na lentilha, no feijão, no tahine, no quiabo, na torta de limão, nos bolos que você não sabia fazer.

Você está na tua risada escandalosa, como você contou da primeira frase que eu li - "Alugo mobilete". Eu era novíssima (3 anos? 4?), e você contou que ficou encantada e riu bem alto. E eu fiquei meio assustada. Isso é bem nossa cara.

Você está nas correções que não fez na minha alfabetização, porque achava meus erros (como um "E" com muito mais de três traços) bonitinhos.

Você está no meu senso de humor, no meu jeito contestador. Você está no meus valores, na integridade e honestidade que eu tento sempre ter.

Você está no fato de eu gostar do jeito que certas pessoas mexem no meu cabelo - porque é parecido com o jeito que você mexia. Você era muito carinhosa. E dizem que eu também sou.

Você está na minha baixa estatura."Soy pequena pero cumplidora/compridona". Você está nos nossos infinitos trocadilhos e piadas internas. Você está nas nossas análises intuitivas sobre as pessoas e fatos. Você odiava hipocrisia.

Você está nas coisas que costurou pra mim, e no pouco que sei costurar. Você está nos nossos desenhos. Você está nas nossas viagens.

Você está em mim inteira. Em inúmeros aspectos meus. Você está nos sucessos que eu espero obter e queria que você assistisse. Você está em dezessete anos de lembranças. Você está no mero fato de eu existir, e o tanto que te condenei por isso.

E eu te amo. E você está na minha crença no amor.

"Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." 
- João Guimarães Rosa, teu escritor favorito. E eu espero que você descanse, mãe, que você descanse. Espero que encontre paz. Queria ter te abraçado mais nos últimos tempos. Mas acho que você me perdoa. 


Vou honrar sua memória.


Eu te amo. Você tinha duas pastas de desenhos nos quais eu dizia basicamente isso. Mas eu ainda queria ter dito isso mais.



Enquanto eu viver, sentirei saudade. Descanse.

* 21/11/1957
†  04/05/2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Pequenas epifanias

"Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura."
- Guimarães Rosa

Esses dias tem sido doces. E li algumas postagens muito bonitas hoje.

Cheguei a uma conclusão simples, mas abençoada: Eu ainda sei amar. O amor continua sendo parte inerente da minha essência.

Isso pode parecer tão leve ou clichê. Mas para mim, significa muito. Porque eu sofri o suficiente pra ficar um bocado amargurada. E conheci pessoas o suficiente para me perguntar se eu não havia perdido a capacidade de amar. E isso me angustiou. Porque eu acredito de verdade que, se existe salvação para uma alma, ela é através do amor. Romântico, fraternal, seja pela humanidade, por uma única pessoa ou pelo seu gato. Mas algum tipo de amor. De conexão. 

(que fique claro que cada um encontra seu próprio caminho. Mas temi ter perdido esse que sempre me pareceu ser o meu.)

Sinto-me em paz. Espero que dure. A paz, digo. O resto... que seja doce. E que seja real. Só isso.

domingo, 29 de abril de 2012

The Pains of Being Pure at Heart - My terrible friend

What did you take? 'Cause that's what I'll take,
and I can't take it without you

When I feel dead, I lay in my bed
I don't want to lay here without you

Now you can't stand, well I understand
You can take my heavy hand

'Cause I can't resist the touch of your lips
I feel the bliss on my fingertips-oh shit

And I'm scared that this could end
face down in the park again
wondering where I left my mind last night
but that's alright, you're my terrible friend


Everyone is pretty and fun, everyone is lovely and young
Everyone is gentle and gone, but everyone's just everyone

And you're the one who's breaking me
And you're the one who just won't leave
Still I don't want it to end, you are my terrible friend

domingo, 22 de abril de 2012

Tão alegre que quase esqueci
Da habitual vergonha de sorrir

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Por infâncias sem violência

A Lei da Palmada (Lei 7.672/2010) proíbe o uso de castigos corporais em crianças. A lei, extremamente polêmica, baseia-se na ideia de que é possível educar sem castigos corporais, que seriam potencialmente prejudiciais e até mesmo traumáticos para a criança.


Há equívocos acerca do que representa essa lei: ela não criminaliza nem multa os pais ou guardiões adeptos da “palmadinha para educar”. O que ela determina é que , caso sejam denunciados por aplicarem castigos corporais em crianças, eles sejam advertidos e recebam orientação e tratamento psicológico ou psiquiátrico, bem como a criança receba tratamento especializado.


Porém, mesmo entre aqueles que sabem disso, a lei é polêmica. Por muito tempo, educar crianças com castigos corporais foi comum, e ainda é. É interessante observar que herdamos esse costume dos jesuítas portugueses na colonização brasileira, e não dos indígenas. Segundo o professor da UERJ José Ribamar Bessa Freire, índios não batiam em seus filhos, e eram amplamente condenados por isso pelos jesuítas. No entanto, a pedagogia hoje tem quase como consenso que castigos físico não são recomendáveis.


Além do argumento de que crianças educadas sem palmada (e por alguma razão, muitos acreditam que uma “palmadinha” é completamente diferente de violência contra a criança) crescerão sem limites, sem disciplina e sem caráter, há o argumento de que a Lei da Palmada representaria uma intromissão excessiva e autoritária do Estado dentro dos lares brasileiros.


Ora, “Uma democracia não é uma ditadura da maioria. (...) Em uma democracia, há direitos que são tão fundamentais que devem ser respeitados mesmo que haja oposição por parte da maioria. Estes direitos estão previstos na Constituição brasileira e não podem ser suprimidos nem mesmo por emenda constitucional.”, explicou o doutor em Direito do Estado Túlio Vianna.


A dignidade da pessoa humana é direito tão essencial que é um dos fundamentos da Constituição brasileira de 1988. E não é possível haver dignidade numa vida com violência. Se alguém fosse agredido pelo seu chefe no trabalho, e este dissesse que foi apenas uma “palmadinha corretiva”, soaria absurdo. Mas para muitos, é aceitável que crianças passem por isso através daqueles que deveriam zelar por elas. Crianças não são propriedade de seus pais, como já disse Khalil Gibran: “Vêm através de vós, mas não são de vós.” Infância e violência não podem coexistir.


(Referências:

http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamazonia/blog/2012/01/15/faz-mal-uma-palmadinha/

http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_materia.php?codMateria=8887 )

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

- Manuel Bandeira

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Burn it down till your heart is an empty room

Às vezes tenho a impressão de que alguns amores não necessariamente morrem.

Alguns amores, creio eu, você é obrigado a abandonar ou desistir. Por ser um amor platônico, unilateral, inatingível, ou por ter se esgotado em si mesmo ou esgotado você.

Alguns amores vsão como um quarto que você tranca a chave e deixa lá. Se tornarão um quarto trancado no seu coração. Mas é mais fácil fingir que um quarto trancado está vazio. Mesmo que dificilmente esteja.

E lá fica o quarto trancado. A besta do amor aprisionada. Ocasionalmente, você pode destrancá-lo, cuidadosamente, e dar uma olhada. Sentar-se no chão do quarto e contemplar as lembranças. Às vezes, o quarto está claro, acolhedor e nostálgico. Noutras, chuvoso, frio, hostil e doloroso.

Mas um dia o quarto haverá de se tornar vazio. E então, eu o abrirei novamente.

domingo, 18 de março de 2012

The Magnetic Fields - I Don't Want to Get Over You


I don't want to get over you
I guess I could take a sleeping pill and sleep at will
and not have to go through what I go through
I guess I should take Prozac, right,
and just smile all night at somebody new,
Somebody not too bright but sweet and kind
who would try to get you off my mind.
I could leave this agony behind
which is just what I'd do if I wanted to,
but I don't want to get over you
cause I don't want to get over love.
I could listen to my therapist, pretend you don't exist
and not have to dream of what I dream of;
I could listen to all my friends and go out again
and pretend it's enough,
or I could make a career of being blue
I could dress in black and read Camus,
smoke clove cigarettes and drink vermouth
like I was 17 that would be a scream
but I don't want to get over you.

"Eu queria te dizer que passa. Mas não passa"

Luciana nunca mentiu pra mim.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Violeta Parra - Run run se fue pa'l norte

Sin pena ni alegría,
sin gloria ni piedad,
sin rabia ni amargura,
sin hiel ni libertad,

vacía como el hueco
del mundo terrenal,
Run Run mandó su carta
por mandarla no más.
Run Run se fue pa'l norte,
yo me quedé en el sur;
al medio hay un abismo
sin música ni luz.
¡Ay, ay, ay, de mí!

sábado, 10 de março de 2012

La Roux - Armour Love
La Roux - Cover my eyes
Daft Punk - Something about us
Phoenix - Consolation Prizes
Eisley - Ambulance
Dave Matthews Band - #41
The Kooks - Gap
The Pains of Being Pure At Heart - Heart in your heartbreak
Volantes - Dez minutos

Cada a vez que eu ouço essas músicas, ou, pior, que o random do meu ipod vai para elas, eu suspiro e sinto um aperto no peito. Às vezes, leve o suficiente para cantá-las. Mas simplesmente não consigo ouvir Gap (nem Armour Love, nem Something About Us. Já chorei pesadamente com elas.)

Eu lembro que coloquei um trecho de Gap no livro que dei para ele de aniversário. Numa página aleatória, para ele ler um dia. Já falei isso pra ele.



Ainda dói.

Sigo em frente e muito bem, obrigada. Estudando, trabalhando, sorrindo, conhecendo pessoas, etc. Durmo muito bem, pois fico exausta. Tenho distrações e também tenho coisas e pessoas que realmente gosto por perto.

Mas é complicado, não é? Todo um universo associado a alguém. 5 anos, ou 2. E sou tão jovem.

A vida tem sido boa para mim. E eu sigo. Mas faz falta. Faz falta.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A escolha política da omissão

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht sintetizou muito bem em seu poema "O analfabeto político" a incoerência ignorante de alguém que declara não importar-se com política: Toda a nossa vida, todo o nosso cotidiano estão inevitavelmente ligados a ela. Se alguém declara não interessar-se por política, este também é um ato político.

A política é um tema complexo. É compreensível que pareça enfadonha para muitos. Porém, é equivocada a ideia de que política é algo alheio aos cidadãos comuns, restrito ao Congresso Nacional e altas esferas similares. A advogada militante dos Direitos Humanos Érika Pretes intitulou brilhantemente um artigo em seu blog acerca das identidades de gênero divergentes do padrão heteronormativo: "Ir a padaria é um ato político" (http://inquietudine.wordpress.com/2010/07/20/ir-a-padaria-e-um-ato-politico/)

Frequentemente, interpretamos nossas ações como meras escolhas pessoais, cujas consequências ficariam restritas ao âmbito privado e individual. Contudo, isso raramente é verdade. Ao declarar que não se interessa por política, o indivíduo está fazendo a escolha política da omissão. Se à primeira vista a decisão de se abster da vivência política parece uma escolha de foro íntimo legítima, ao analisar-se mais profundamente, essa ideia revela sua fragilidade.

A omissão custa para todos. Afinal, a política permeia nossa vida de maneira indissociável. Todavia, essa omissão custa especialmente caro para aqueles que insistimos em chamar de minorias - mulheres, negros, homossexuais, transexuais, pobres. É fácil dizer "Não me interesso por política" quando seus direitos humanos mais básicos estão preservados.

Somos seres dotados de empatia. E, como disse o religioso Desmond Tutu, que lutou contra o apartheid na África do Sul, "Se você permanece neutro numa situação de injustiça, você escolheu o lado do opressor." Ser apolítico é ser omisso. E o mundo se torna mais perigoso quando escolhemos não escolher.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Teorizar a minha dor não vai buscar o meu amor

Procurando alguém que não acenda a discussão
Sobre minha indigestão mental
Meu colapso cerebral
Teorizar a minha dor não vai buscar o meu amor
Não quero respostas ou conselhos
De um pentelho que pensa ser Freud

Por dentro eu posso chorar
Me pergunto:

Quem dessa vez vem me ajudar?
Eu sei que não vou encontrar saída nenhum no bar pra mim
Apenas quero sorrir assim
Sem ter de lembrar do quanto vou chorar depois.

Stratopumas - Paranóia de Freud

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Vazio

Diferentemente de outros momentos da minha vida, neste não há aquele desespero agudo. Não há surtos e nem o pensamento de "Eu não consigo viver assim". Eu consigo, sim. Talvez eu viva até anos assim.

O que há é vazio. Um vazio completamente melancólico, nostálgico, e amargo. E fisicamente doloroso.Vem na forma de náusea. Vem na forma de taquicardia. Vem na forma de uma certa dificuldade pra respirar. Vem na forma de muito sono.

Eu não vou fazer nenhuma besteira. Esforçarei-me em ser produtiva, estudar, sair com as amigas, sorrir, cozinhar, cuidar dos meus lindos gatos, ficar na internet.

Mas o vazio. O vazio. O vazio permanece. O vazio me segue, e, quando eu abaixo a guarda, o vazio me abraça. Me envolve. Me aperta. E quando eu olho nos olhos da Pandora, inexplicavemente, eu tenho certeza que ela sabe o que eu tô sentindo. E me sinto desarmada. Me sinto horrivelmente frágil. Sozinha. Abandonada.

E velha. Eu me sinto velha. Só que "I'm too young to feel this old". Quanta dor a gente acumula com os anos. Espero que os próximos sejam mais suaves. Espero que eu ame menos. Porque esse amor imenso e que a tudo, tudo perdoa tem me envenenado, tem sido minha ruína. Meu corpo está me punindo por amar demais, por sentir demais, por sofrer demais.

"A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal

You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide

No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent silence

This is my final fit, my final bellyache with.

No alarms and no surprises please (let me out of here)"



Às vezes acho que, quando eu morrer, eu terei uma expressão muito serena no rosto.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

there was such a bright light
i thought it was salvation, but it burned me inside
love is a bittersweet pain
it often kills but sometimes it heals
healing wounds better than time
and leaving you so desperate you think you're going to die

love destroy all the defences you built in a lifetime
holds you tight until you cry until you're dry
i already knew it, but I'm a love believer
that's why I was so broken
you hurt me so badly, worse than everyone could do
'cause i don't expect much of people
but i was always saying how amazing i thought you were
always saying your eyes were the prettiest damn thing the world
'cause i thought they reveal your beautiful soul
but you're just as fucked up as everyone i know
all i wanted was somebody to trust
i thought you were reliable but you left me so fucking hurt

i forgive everyone, that's what i do
i can't be different, but i get so bitter 'cause i know you're not even sorry
you think you learnt from your mistakes, you think hurting someone so deeply is okay
you better did, 'cause no one deserves this shit

but Beck said everybody's gotta learn sometime
and i think i'll be fine
someday i won't feel this pain
and i hope i love someone who won't drive me insane

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

The Wall - Breve análise

No meu 2º ano do Ensino Médio, em 2010, tive que fazer um trabalho mais ou menos no formato de uma monografia, com um capítulo. Escolhi como tema o filme The Wall, baseado no álbum homônimo do Pink Floyd. Resolvi publicar porque curti, rs

“Ele é o menino que Papai Noel esqueceu
E Deus sabe
Ele não queria muito.”
Pink Floyd – The Little Boy That Santa Claus Forgot


“The Wall é sobre “o caminho do meio” e a percepção de que o que você faz afetam os outros tanto quanto as coisas que são feitas a você. É sobre ser um indivíduo, mas não ao ponto de alienação social e pessoal; é sobre como uma pessoa pode ser tão consumida por ódio que se torna a coisa que ela mesma odeia; é sobre o perigo de fazer deuses de homens; é sobre a importância da comunicação, o vácuo do excesso, a importância dos pequenos momentos, e acima de tudo, é sobre responsabilidade pessoal, comunal e social”

- Bret Urick. Disponível em: http://www.thewallanalysis.com/faq.html#essay


1 RESUMO

The Wall é um filme/ópera-rock baseado no álbum conceitual homônimo da banda Pink Floyd. Conta a história de Pink, um garoto cujo pai morreu na guerra, possui uma mãe superproterora, é humilhado por um professor frustrado, torna-se um rockstar, e acaba por surtar, afundando-se cada vez mais no isolamento e alienação iniciados por ele mesmo. É uma obra complexa e cheia de simbolismos, construída sobre as imagens e letras de música, havendo pouquíssimos diálogos no filme. O filme foi dirigido por Alan Parker, escrito por Roger Waters, vocalista, baixista e letrista do Pink Floyd, e estrelado por Bob Geldof, e mistura animações com realidade. Fala sobre alienação, isolamento, guerra, solidão, sociedade, consumismo, traumas, etc. tudo brilhantemente acompanhado e descrito por rock de alto nível.

2 INTRODUÇÃO

Este trabalho falará sobre o filme The Wall, baseado no álbum conceitual homônimo da banda de rock progressivo inglesa Pink Floyd. Produzido em 1982, foi dirigido por Alan Parker, e seu roteiro foi escrito por Roger Waters, vocalista, baixista compositor do Pink Floyd.

Bob Geldof interpreta Pink, um garoto cujo pai morreu na 2ª Guerra Mundial, perda essa que sua mãe superprotetora tenta amenizar com mimo excessivo. Pink é humilhado por seu professor frustrado por escrever poemas, o que não o impede de se tornar um rockstar de sucesso e casar-se. Porém, ele não resiste a pressão e acaba entrando em surto. Pink, então, constrói “O Muro” (The Wall, em inglês), metáfora para o isolamento emocional no qual mergulha.

De forma extremamente simbólica, The Wall vai além da história de Pink: o filme critica, instiga, provoca, choca, demonstra. A sociedade, as relações humanas, a música, a família, enfim, vários são os pontos levantados ou sugeridos. Humildemente, tentarei introduzir a obra.

3 THE WALL, EM SI: HISTÓRIA E ANÁLISE

Como brevemente abordado na introdução, The Wall pode ser enquadrado como ópera-rock. Este termo designa produções musicais que combinam características de ópera com letras de rock, ou seja, tentam contar uma história através de letras, personagens, cenário, etc. Exemplos de ópera-rock, além de The Wall, incluem: Tommy, American Idiot, The Black Parade, etc.

Focada na vida de Pink, The Wall possui nítida influência da vida de Roger Waters, baixista, compositor e vocalista do Pink Floyd. Tal como Pink, Waters perdeu o pai na guerra e tornou-se um rockstar de enorme sucesso. Deve-se também levar em consideração que as letras do álbum homônimo, no qual baseia-se o fime, foram, em sua maioria, compostas por Waters, o que acentua a influência do genial compositor. O roteiro, aliás, foi escrito por ele.

Sem tratar de problemas sociais como fome e miséria, The Wall ainda assim fala (e critica) a sociedade, especialmente na pressão e censura silenciosas que exercem, e os reflexos disso no universo individual de cada um.

O filme se inicia com a música The Little Boy That Santa Claus Forgot, cantada por Vera Lynn. A letra, que fala de um menino esquecido pelo Papai Noel, apesar de seu pedido ser singelo, é uma introdução ao drama de Pink, que se sente decepcionado e frustrado em seus desejos mais simples, como ter um pai.

Pink perdeu o pai na 2ª Guerra Mundial, como conta a música When The Tigers Broke Free – Part 1. Essa perda se reflete no comportamento da mãe de Pink, superprotetora e com mimos excessivos (conforme a música Mother).

Em In the Flesh?, um homem com trajes de ditador totalitário questiona aos adolescentes presentes se eles desejavam ir ao show em que estão, com ironia. Ao final, o ditador afirma: “If you wanna find out what's behind these cold eyes, you'll just have to claw your way through this disguise.” (“Se você quer descobrir o que há por trás destes olhos frios, você terá de rasgar seu jeito através desse disfarce.”) Esse trecho já dá a idéia de construir máscaras para sobreviver, em busca de proteção. Os adolescentes são brutalmente espancados por soldados.

The Thin Ice continua a idéia de fragilidade do indivíduo perante a sociedade: “If you should go skating / On the thin ice of modern life / Dragging behind you the silent reproach / Of a million tear stained eyes / Don't be surprised, when a crack in the ice / Appears under your feet / You slip out of your depth and out of your mind / With your fear flowing out behind you / As you claw the thin ice” ( Se você fosse patinando sobre o gelo fino da vida moderna / Arrastando-se atrás de você, a censura silenciosa de um milhão de olhos borrados de lágrimas / Não se surpreenda quando uma rachadura no gelo aparecer debaixo de seus pés / Você desliza até não dar mais pé e fica fora de si / Com seu medo fluindo atrás de você enquanto você arranha o gelo fino.”

When The Tigers Broke Free – Part 2 retoma a morte do pai de Pink, e descreve a carta pomposa e oficial que trouxe a notícia. Já em Goodbye Blue Sky, é feita referência à Guerra, e seus trechos falam de pessoas assustadas em busca de abrigo, apesar da promessa de “um admirável mundo novo”.

Extremamente simbólica, a sequência de Goodbye Blue Sky começa com uma pomba branca voando para fugir de um gato. A pomba, porém, é destroçada por uma sinistra águia negra, que mancha os céus de sangue. A águia negra voa como um avião. Aviões de bombardeio assustam pessoas que andam como animais e usam máscaras de gás. Os aviões tornam-se crucifixos. Um esqueleto vestido tomba no chão, após fazer um gesto de desistência. A bandeira da Inglaterra torna-se uma cruz sangrenta. A música diz “As chamas há muito se foram, mas a dor permanece”. O esqueleto vestido levanta-se, e réplicas dele se tornam crucifixos. O sangue oriundo da cruz escorre por um bueiro.

A águia negra está presente no brasão de armas da Alemanha, embora isso não seja mostrado no filme. É, portanto, uma alusão à Segunda Guerra Mundial, quando a promessa do 3º Reich de Hitler (o “admirável mundo novo”) assustava inocentes. O desperdício de sangue e vidas humanas, bem como a destruição, causados pela guerra, também são simbolizados.

Uma das cenas mais famosas de The Wall é durante a canção Another Brick in the Wall – Part 2, com crianças que pedem para seus professores os deixarem em paz, pois estão cansados dos controles de mentes e sarcasmo sombrio. Essa canção, bem como The Happiest Days of Our Lives, servem de pano de fundo para mostrar o professor frustrado que humilha Pink, por escrever poemas, e outros alunos, por razões diversas.

Mother é escrita em primeira pessoa, e Pink (ou Waters?) indaga sua mãe acerca do que fazer sobre diversos assuntos. Dentre eles, pergunta se deve construir O Muro. A mãe diz que certamente o ajudará nisso, bem como mantê-lo próximo a ela e monitorar suas namoradas e companhias.

Empty Spaces mostra duas flores com aparência de genitais, e a flor que representa a mulher devorando a que simboliza o homem, de forma agressiva, mutilando-o. Ora, a mãe de Pink o sufoca e o prejudica emocionalmente, e sua esposa o trai (Pink não enxerga que causou isso, ao ignorá-la e fechar-se em seu próprio mundo); na visão dele, as mulheres são, de fato, destrutivas. Em What Shall We Do Now?, listam-se de coisas comuns a sociedade consumista, mas conclui-se que, no final, “Nunca relaxar de verdade, com nossas costas contra o muro”. As imagens vão mostrando o muro sendo construído rapidamente, transformando flores em arames farpados, um bebê num soldado violento, uma Igreja em algo parecido com uma boate ou cassino. Enquanto isso, uma face grita, de dentro dos tijolos: possivelmente um eco do desespero de Pink. Ao final da música, dentre outras imagens, há um baixo, mais uma provável referência a Roger Waters, baixista.

Outro ícone que surge a partir de What Shall We Do Now? é o martelo, que pode simbolizar tanto o desejo de Pink de pôr o muro abaixo, quanto a destruição. Após a animação, mostra-se uma cena em que vandalizam vitrines, quebrando-as com martelo. Os vândalos são presos, mas duas senhoras recolhem coisas das vitrines destroçadas. Pode-se interpretar esse trecho como a corrupção de pessoas que o estereótipo diz estarem acima de suspeitas, quando trata-se do consumismo.

A canção Young Lust, comparada com o restante das letras do Pink Floyd, pode ser vista como uma paródia de músicas de rock 'n' roll populares cujos autores usam sua fama meramente pra obter mulheres. Ao mesmo tempo, retrata a tentativa de Pink de “vingar-se” de sua esposa com uma groupie. A moça o acompanha até sua casa, e tenta seduzi-lo, mas ele não tira os olhos da televisão.

Em One of My Turns, Pink continua contemplando a televisão, enquanto a música aparentemente explica seu comportamento: “Day after day, love turns grey / Like the skin of a dying man / Night after night, we pretend it's all right / But I have grown older and you have grown colder and nothing is very much fun, anymore” (“Dia a dia, o amor se torna cinza como a pele de um homem morrendo / Noite após noite, nós fingimos que está tudo bem / Mas eu fiquei mais velho e você ficou mais fria / E nada mais é muito divertido”) Provavelmente, estes versos se referem a esposa de Pink, e não a groupie, que ele acabou de conhecer.

Ainda em One of My Turns, a música diz que “And I can feel one of my turns coming on”, ou seja, “E eu posso sentir uma de minhas crises vindo”. De fato, isso acontece, e Pink surta, destruindo inúmeros pertences e o próprio quarto, deixando a groupie assustadíssima. Ele tenta justificar-se “Don't look so frightened, this is just a passing phase / Just one of my bad days” (“Não fique tão assustada, é só uma fase passageira / Um de meus dias ruins”), mas continua a destruir o quarto e atirar coisas perto dela, e ela foge. Pink grita com ar desvairado para a cidade, Take that, fuckers” (“Peguem isso, otários”) pendurado em sua janela, após atirar sua televisão através do vidro, sem importar-se com suas mãos cortadas.

Don't Leave me Now é um apelo de Pink, que vê-se abandonado por todos, enquanto exibem-se cenas de sexo entre sua esposa e o amante. O rockstar em surto aparece em seu quarto, assistindo TV, enquanto uma flor de aparência feminina e sinistra faz referência à sua mãe, encurralando-o.

Another Brick in the Wall - Part 3 é uma sequência de mais destruição enlouquecida de Pink, bem como diversos flashbacks de sua vida. Goodbye Cruel World soa como uma despedida de suicida, embora trate mais de morte espiritual/emocional do que física. A música Is There Anybody There? quase não possui letra (apenas é repetido o título algumas vezes no início, que em português é “Tem alguém aí fora?”), e consegue ser eloquente mesmo assim, especialmente ao combinar-se sua melodia triste com as imagens de Pink construindo uma fileira com suas coisas destruídas, e, após isso, depilando todo seu corpo, cabelos e sobrancelha.

Nobody home é um triste e sarcástico inventário de Pink, enquanto ele assiste TV. “I've got a strong urge to fly / But I've got nowhere to fly to” (“Eu tenho uma forte ânsia de voar / Mas eu não tenho para onde voar”) é uma provável referência ao desejo de Pink de fugir, sair do muro que o aprisiona, porém, ele não sabe como fazer isso, nem como agir depois.

Pink criança visita o Pink adulto, demente e sozinho num hospício vazio, e foge, com medo. Vera é uma homenagem a Vera Lynn, cantora inglesa muito popular durante a 2ª Guerra Mundial, por suas letras incitarem esperança na nação em guerra. Vera Lynn, aliás, é quem canta a música de abertura de The Wall, The the Little Boy That Santa Claus Forgot.

Bring the Boys Back Home, assim como Vera, mostra cenas numa estação de trem, com o retorno dos soldados após a Guerra. Pink criança vaga sozinho, talvez com a esperança inconsciente de encontrar seu pai, morto quando ele era bebê.

Comfortably Numb mostra o apartamento de Pink sendo invadido por seus agentes e médicos, enquanto a letra parece falar clichês médicos: “Você pode me mostrar onde dói?”, “Somente uma picadinha”, e o refrão fala de dor e retorno, e de uma febre que o eu lírico teve quando criança. “Confortavelmente entorpecido” (Comfortably numb), portanto, pode fazer referência tanto a febre e ao torpor causado pelos medicamentos que o médico injeta nele, quanto ao estado no qual Pink mergulha para sobreviver a dor emocional. Além disso, mostram-se flashbacks da infância de Pink.

O trecho “This is not how I am” (“Isso não é como sou”) mostra o desespero de Pink ao ver no que está se tornando. A música encerra os flashbacks de Pink, e conclui: “The child is grown, the dream is gone / I have become comfortably numb.” (“A criança cresceu, o sonho se foi / Eu me tornei confortavelmente entorpecido.”)

In the Flesh mostra Pink como um carismático ditador de inspiração nazista/fascista, que diz ter vindo substituir Pink. Ele incita o ódio na platéia, e seus soldados perseguem gays, negros, judeus e usuários de maconha. Sua atitude é aplaudida e aprovada pelo público, que marcha, mães oferecem seus bebês para Pink beijar. É importante ressaltar o caráter satírico dos trechos preconceituosos dessa música, que refletem os regimes totalitários discriminatórios, e não a opinião da banda Pink Floyd.

Run Like Hell continua a mostrar o regime totalitário comandado por Pink, e seus soldados, que estupram a namorada branca de um negro, espancado. Waiting for the Worms continua a falar do regime, construindo uma forte referência ao nazismo/fascismo e as destruição e perseguição disfarçadas de nacionalismo. Enquanto isso, martelos (o símbolo de Pink totalitário) marcham.

Stop é um apelo desesperado de Pink, num banheiro público, que quer ir para casa, sair do show e tirar o uniforme. Mas, mais importante, ele se questiona se a culpa de tudo que está ocorrendo é dele.

The Trial, “O Julgamento”, é uma animação que mostra Pink sendo acusado de mostrar “sentimentos de natureza quase humana”. Além disso, seu antigo professor aparece e diz que poderia tê-lo corrigido, mas foi impedido pelos artistas e sensíveis. Sua mãe também o acusa de abandoná-la, e o eu lírico declara-se louco. Por fim, o juiz afirma estar enojado com Pink, e decreta como pena que o muro seja destruído.

Outside The Wall encera brilhantemente o filme, fala sobre o muro e sobre o desejo e necessidade de colocá-lo abaixo, presente nas pessoas que amam, sensíveis e artistas, enquanto uma criança brinca com os fragmentos do muro, numa mensagem tanto de otimismo quando de alerta para não recomeçar o ciclo que leva ao muro.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar do desagrado manifestado por Alan Parker, o diretor, e Roger Waters, o roteirista, com o resultado final, The Wall é uma obra brilhante e simbólica, carregada de críticas, alertas e alguma esperança.

O muro é uma metáfora bastante eficaz para as proteções que construímos em busca de sobrevivência, de enquadrar-se na sociedade, porém, como no filme, o muro pode causar isolamento, alienação e dor.

Cabe a nós conhecer os limites e forma mais adequada de resistência emocional, para não chegar no ponto de Pink, de embotamento emocional profundo e pouco humano. Proteger-se é necessário, mas comunicar-se, viver e amar, também.

REFERÊNCIAS

PINK FLOYD THE WALL. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2010. Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2010.

URICK, Bret. The Wall Analysis. Disponível em: Acesso: 17 nov.de 2010.

PEZZIN, Erico C. The Wall - Uma obra de arte conceitual. Disponível em: Acesso: 18 nov. 2010.

?title=Rock_brasileiro&oldid=21352754>. Acesso em: 23 ago. 2010.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Mundo hostil

Eu amo ser mulher. Mas eu odeio que isso seja razão para viver com medo.

Eu amo ser mulher. Eu amo várias coisas que atribuem a meu gênero - usar vestidos, saias, maquiagem, bonecas, ser romântica, cozinhar, ser vaidosa. Mas eu odeio que essas coisas sejam impostas a alguém que não se sinta confortável com elas. Eu odeio que alguém queira realizá-las mas não possa, por ser - ou ser considerado - homem. Eu amo ser mulher. Mas eu odeio cissexismo.

Eu amo homens (ou, eu amo um específico). Mas eu odeio homofobia. E eu odeio heteronormatividade.

Eu amo ser mulher. Mas eu odeio viver num mundo hostil pra isso. Eu odeio que exista um padrão de beleza para mulheres irreal e mutilador. Eu odeio que nossa sexualidade seja reprimida, condenada e distorcida. Eu odeio temer violência sexual e saber que, se tantos homens são capazes de fazer piada de estupro, como evidenciado pelo caso do BBB, quantos me socorreriam e quantos me culpariam por qualquer razão que fosse? Eu amo ser mulher, mas eu amo a liberdade de ser e de não ser. De ser mulher, caso eu queira ser (porque a única pessoa que pode definir meu gênero sou eu), e que seja do meu jeito, com as especificidades minhas, apenas minhas. E de não ser, caso eu escolha não ser.

Eu amo ser mulher. Mas eu odeio quem permite (através de piadas, através de ofensas, através do silêncio, através da omissão) que isso ainda seja tão difícil.