sábado, 31 de agosto de 2013

"você é a melhor pessoa do mundo"

algumas ausências
talvez a gente não supere
apenas se acostume
ao buraco

nem é tão ruim assim
depois que você consegue sobreviver

19

eu vou aprender a tocar violão
e musicar meus poemas
(talvez piano também)
eu vou ser uma boa música

eu vou deixar meu cabelo crescer
eu vou fazer tatuagens lindas
eu vou praticar algum esporte

eu vou melhorar meu francês
eu vou melhorar meu inglês
e talvez eu aprenda espanhol

eu vou entrar na faculdade
e dessa vez vou fazer as coisas direito
tirarei muitos SS
e serei pesquisadora

eu vou ler sobre vários temas
e vou refletir e escrever também

eu vou conhecer pessoas
e saber que cada uma tem uma história
que sempre vale a pena ouvir
caso elas queiram
ou precisem

eu vou amar meus amigues
e vou tentar acolhê-los tão bem quanto possível
hoje e sempre

eu vou vender meus bolinhos
e vai um pouco de amor em cada coisa que cozinho

eu vou fazer muitas coisas
e nem todas darão certo
outras podem ser frustrantes
de algumas posso desistir
sempre posso mudar de ideia

mas hoje,
eu vou viver.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A ausência é uma força criativa.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

sempre é possível aprender algo com as pessoas

nem que seja a deixá-las ir.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

disfarça e chora

meus poemas são seus
mas você já não os vê
porque minha obra te dói
e possivelmente constrange

aqui estão desnudos
meus sentimentos por ti
expostos como em carne viva
nessa tela em branco
meus dedos deslizam pelas teclas procurando as palavras
não precisam ser exatas, servem as aproximadas
para que eu diga, eu diga, eu diga
o que preciso dizer
mesmo que você não vá ler

talvez tanto amor te agradasse quando era mútuo
mas agora você pode só escolher não ver
e eu não posso desligar o botão de senti-lo
posso respeitar que você não veja
posso torcer para que estejas feliz

contudo continuo a amá-lo
"como se ama a um passarinho morto"

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

e há pesar, apesar

nesse exato momento do espaço-tempo
há pesar de tudo

mas apesar de tudo, tudo
se eu não vou me matar, 
eu tenho a vida inteira pra tentar
 todas as reconstruções e melhorias de mim possíveis

e apesar de tudo
eu nunca eu me senti
tão confortável em ser quem eu sou 
e buscar me tornar cada vez mais o que quero 
a utopia, esse horizonte inalcançável que nos impele a caminhar

afinal, apesar de tudo
sempre posso voltar a velha filosofia
de continuar o esforço hercúleo da própria caminhada

às vezes ela basta, noutras não muito
mas ao caminhar vem os raros sagrados momentos em que sinto
que valeu a pena continuar
ora caminhando, ora me arrastando
por tortuoso que tenha sido o trajeto, farei 19 anos
eu, que tentei tirar minha vida pela primeira vez aos 10

sobrevivi
cheguei até aqui, eis minha maior conquista
estar lúcida e respirando nesse momento
meu coração pode pesar
mas ele pesa porque bate
e isso já é o bastante para viver
em algum momento ele vai cessar de doer
e a única coisa que me pesarão
serão meus 46kg de integridade
e de potencialidade de vida pulsante

desejo
que meu amor só cure
pulse livre
e não me mate.

sábado, 24 de agosto de 2013

O morto que canta

"Há uma morte que vem de fora e uma morte que cresce por dentro. Cada uma delas produz uma dor diferente. Nas representações artísticas, como na tela terrível de Brueghel, a primeira que é representada - como cavaleiro de alfanje na mão. Ela chega sem ser convidada, como intrusa, nas mãos do assassino, no acidente que mata como um raio, na doença que entra e vai tomando conta do corpo, por mais que se tente mandá-la embora... Aparece como uma interrupção. No seu livro 'Lições de abismo', Gustavo Corção lamentava-se de que a vida não fosse como uma sonata de Mozart: curta, não mais que 20 minutos. E, no entanto, nesse curto tempo, tudo que há para ser dito é dito. Os últimos acordes nada interrompem. Apenas completam. O que se segue, então, é o silêncio da saudade, abençoadamente feliz, pois é o silêncio que vem depois da experiência da beleza. Que pena que a vida não seja assim... Pois o que acontece é que a sonata é abruptamente interrompida pela morte intrusa, um golpe de desarmonia bruta desferido por uma potência sinistra, surda à melodia que se queria cantar. E a sonata fica ali, quebrada ao meio, fragmento, caco, incompleta...

 A morte do suicida é diferente. Pois ela não é coisa que venha de força, mas gesto que nasce de dentro. O seu cadáver é o seu último acorde, término de uma melodia que vinha sendo preparada no silêncio do seu ser. A primeira morte não foi um gesto; foi um acontecimento de dor. Mas no corpo do suicida encontra-se uma melodia para ser ouvida. Ele deseja ser ouvido. Para ele valem as palavras de César Vallejo: "su cadáver estava lleno de mundo". O seu silêncio é um pedido para que ouçamos uma história de cujo acorde necessário e final é aquele mesmo, um corpo sem vida.(...)"

O Quarto do Mistério
, Rubem Alves

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

apartamento vazio

saio
passo o dia fora
me distraio
troco palavras com estranhos
sinto-me bem
sinto-me melhor
sinto o sol na minha pele
sinto a vida me preencher
sinto de um jeito leve

mas ora ou outra eu preciso ir para casa
e ora ou outra chega a madrugada
e a saudade me atinge
e eu sinto sua falta
aquela falta desesperançada
de quem sabe que nunca mais vai estreitar nos braços
aquele amor enorme

de dia eu te amo tanto que te quero bem seja como for
de madrugada eu lembro do quanto a ausência dói
e eu nunca quis que doesse em ti
quis só que você continuasse
em mim

pode ir, meu bem
eu já deixei
antes disso, você foi
reclamou seu direito de ir
reclamou seu direito a uma vida livre
da minha existência tempestiva

você foi
e eu deveria ir pela outra porta
mas eu fiquei
e afinal, depois de tudo isso
eu ainda estou aqui
como quem não consegue sair
de um apartamento vazio que não é mais seu
pelas memórias

mas o apartamento já não é mais meu
e a imobiliária logo deve ligar
pedindo a chave
daqueles metros quadrados que me abrigaram no pior ano da minha vida
que foi também onde eu tive o que eu mais quis no mundo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Bukowski - Raw with love

I won’t blame you,
instead
I will remember the kisses
our lips raw with love
and how you gave me
everything you had
and how I
offered you what was left of
me,
and I will remember your small room
the feel of you
the light in the window
your records
your books
our morning coffee
our noons our nights
our bodies spilled together
sleeping
the tiny flowing currents
immediate and forever
your leg my leg
your arm my arm
your smile and the warmth
of you
who made me laugh
again.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

final

acho ele a coisa mais bonita do mundo
acho que ele me acha constrangedora.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

in vino veritas

tal como em os três mal amados do joão cabral de melo neto
achei que o amor comia tudo
até por fim comer quem o sentia
numa deprimente autofagia
(hoje o rolê é vinho e nostalgia)

hoje eu tento pensar que não
que amor é amor, destruição é destruição
que um paradigma de amor que naturalize o sofrimento extremo é algo a ser abolido
logo eu dizendo isso, a suicida

então eu me esforço dia e noite para que o amor que não consigo fazer passar
ao menos não me faça definhar e morrer
que tudo que amo nele seja força pra lutar e viver
me impelir nessa caminhada
e que essa caminhada não seja uma espera de longo prazo pela morte
mas vida
das pulsantes e úteis
das apaixonadas
mas paixão sem páthos

"o amor romântico é o único que mata
todos os outros se alinham com a potência da vida"

e eu quero viver
eu quero viver
quero até sem você

mas me dou esse luxo de te amar
ciente de que não vou ter
nunca mais em meus braços
mas vou amar, sim
a 1700 km
vou viver e vou amar
para que eu possa continuar aqui
de todas as formas possíveis
sem me trair.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

shwarmas

eu queria dizer
que lembro de você com coisas bonitas
com poemas e músicas
com textos e fragmentos
quando vejo algo
que me faz querer viver

eu queria agradecer
pelas pequenas coisas
pelas grandes também
pela sua existência
e o que ela representa pra mim

eu queria dizer
que meu amor por você
já não dói nem pesa
mas me mantém firme
em buscar quem eu quero ser

e essa caminhada
já não é algo que faço de olhos fechados
não mais uma corda bamba sobre o abismo
não é a ânsia pelo supremo desconhecido
da morte
e sim um caminho novo
desbravado com cuidado
porém, de olhos abertos
afastando os galhos que ferem
pisando com cuidado aqui e ali
parando pra descansar e respirar se necessário
contudo, disposta a continuar
a caminhar

o melhor presente que você me deu
foi ter me mantido viva
enquanto eu não conseguia
e tudo bem ter ido embora
porque esse presente é uma dádiva eterna
e, sem demora,
eu o honrarei
sendo pra mim mesma
ainda melhor do que eu quis ter sido pra você
e falhei
todavia, por estar viva, tudo é possível
inclusive melhorar
até às raias da mais sublime imperfeição

mas olha que loucura
eu já sou exatamente a pessoa que eu quero ser.


"And it's funny how I imagined
That I could win this win-less fight
Maybe it isn't all that funny
That I've been fighting all my life
But maybe I have to think it's funny
If I want to live before I die
And maybe it's funniest of all
To think I'll die before I actually
See
That I am exactly the person that I want to be


Fuck yes
I am exactly the person that I want to be"
Amanda Palmer - In my mind

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Heatmiser - Plainclothes man

you're everybody's second home
always trying to get me alone
an easy way to lose it all
always there when all else fails
over by the west side rails

but i don't really need that now
i never really did anyhow
i only really needed alcohol
something that'll treat me okay
and wouldn't say the things you'd say

please turn out the light
i get a sick confusion headache trying to figure out who's right

dreaming on the silver strand
waking up to plainclothes man
you little bastard, little boy in blue
someone's gonna get to you
and f*** up everything you do

he's so unhappy inside
he's serious with everyone
and he thinks he'll win you with his angry kiss
acting like he has no needs
wanting you to watch him bleed

made for each other bet you pay me any mind
just goes to show my continual decline
they say that i'll recover my love of her once in a while
but i don't know
i don't think so

there's something that i'll tell you now
now that no one else is around
the sort of lesson that i learned from you
not quite the way you planned
but i know you'll understand
someone takes a photograph
a picture while their sweetheart laughs
a perfect moment in a flash of light
counting back from 3 to 1
that's exactly what you've done

and i'm so unsurprised
i remember, i remember why i dream in black & white

goes to show my continual decline
they say that i'll recover my love of her once in a while
but i don't know
i don't think so
i don't think so

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Cuitelinho

Estou lendo "A língua de Eulália", do Marcos Bagno, uma "novela sociolinguística". Uma delícia. E aí cheguei num capítulo que tem a música Cuitelinho, um clássico das canções sertanejas.

E eu conheço essa música, que é linda. Eu conheço porque quando eu tinha 12 anos, minha mãe pediu pra eu procurar no youtube e ficou super feliz por poder ouvi-la, e quantas vezes quisesse. E eu não gostava da música. Eu não gostava porque o português dela era de caipira, e é uma música sertaneja, enfim.

E hoje eu quero ouvir essa música espontaneamente. Hoje, mesmo antes de começar esse livro, eu já sei que preconceito linguístico é uma besteira e que o português da música não é errado.

 Minha mãe não está aqui pra eu mostrar esse meu pequeno avanço rumo a tolerância. Onde ela está, não sei. Os restos mortais, a 1700km. A alma, muito aqui. Em mim, que a amo.

A dor do luto e da saudade não me parece que sejam algo que passe; contudo, certamente o tempo ajuda a amenizar. Em parte, o vazio se torna parte de ti, e você se acostuma a doer e sentir a falta em tempo integral. Porque são uma nova realidade imutável.

Porém, hoje, quando cheguei naquele capítulo, eu não quis chorar. Nem chorei. Não foi como uma marretada inesperada de dor quando eu menos esperava (embora eu ainda tenha momentos assim). Foi só saudade. E eu sorri. Sorri com saudade.

Mas estou aprendendo a deixar ir.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

inspiração

ele é minha inspiração preferida
a mais simples
honesta
bonita
a inspiração mais viva

e involuntária

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

keep me warm

seja como for
seja por onde for
só esteja bem

seja com quem for
seja por quem for
seja do jeito que for

seja livre
e feliz

é isso que desejo para ti
ainda mais do que desejo a ti.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

vernissage

o mar corrói tudo
a maresia, o sal e o vento
a areia, as ondas e o tempo

apesar disso, os objetos são reconhecíveis
com suas crostas e desgastes
as intempéries os transformaram
mas essas, ao menos, não os destruíram

quisera eu que meus vazios fossem belos detalhes pálidos também




*parcialmente escrito após vernissage de Sandra Favero

esforço

 Homem, 32 anos, simpático. Garota, 18, brincando com o estofado do sofá.

- Então tu só não volta pra lá por ele?
- Sim. É a única razão.
- Nossa... acho que nunca vivi um amor assim.
- É...

*

e como algo tão bonito
precisa ser tão talhado para não doer?

dia e noite nesse processo mental
de conseguir amar e desejar sem sofrer
nem morrer

entre o amor e a vida
escolho ambos
para não me trair.