quarta-feira, 30 de outubro de 2013

que seja doce

eu me apaixonei
por ele inteiro
inteirinho

mas hoje sei
que também me apaixonei
sem saber
pela fagulha divina contida nele
há alguma em todos
nós

aquela, em específico
foi a que mais me cativou
na minha vida inteira

há uma doçura resiliente
que insiste em habitar meu peito
inutilmente tentei expulsá-la
porém hoje vejo que não há necessidade disso
o amor vai embora
quando e se for a hora

até lá, não precisa doer
pode apenas ser
ser quente
ser gentil
ser doce

"que seja doce", eu escrevi
1 de maio de 2012
"e que seja real. Só isso."

foi
tem sido
é
e só.
"If I never see you again
I will always carry you
inside
outside

on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains."
- Charles Bukowski

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Crônica de uma manhã

Luiza acordou e fez seu despertador parar. Espreguiçou-se. Espreguiçou mas continuou com preguiça. Contudo, tinha de levantar. Levantou. Preparou um café tropeiro - sem coar, o que deixa o café mais forte e não suja filtro, uma beleza só.

Preparou um sanduíche e colocou umas músicas para tocar.

Aceitar as coisas como eram sempre havia se constituído como um grande desafio para Luiza. Era inconformada. Isso poderia ser bastante benéfico quando bem direcionado, como por exemplo, contra injustiças sociais, ou para combater a própria inércia frente a algumas coisas. No entanto, voltava-se contra ela quando ela não conseguia aceitar fatos da vida que ela não tinha condição de alterar. Como seu passado. Ou os sentimentos dos outros. Neste caso, ela simplesmente se sentia muito frustrada. E isso podia ser um veneno.

Luiza estava começando a perceber isso, e a consciência de que absolutamente tudo era transitório começou a trazer mais leveza para sua vida. Enquanto tomava o café, quente, preto, mais forte do que fraco, mas adoçado, sorriu, sozinha. As circunstâncias materiais pouco tinham mudado, todavia, já não doía mais. Quando as mágoas, a saudade, a dor, o luto, a melancolia, os pesos, bateram na porta de sua alma naquela manhã e pediram permissão para irem embora, ela concedeu. Acenou adeus sem odiá-los, mas os compreendendo como parte do seu processo de aprendizado, de auto-conhecimento, de descoberta, de sobrevivência. Fizeram parte dela, sim, porém, sua hora já havia se esgotado. Abraçou uma última vez sua mágoa, a mágoa olhou para ela, sorriram, a mágoa pegou sua mala rasgada e remendada de traumas, e foi embora.

Naquele café da manhã, quem fez companhia pra ela foi ela própria. Uma ótima companheira. Não havia necessidade de sofrer mais. Ela não estava incompleta.

Fechou os olhos e saboreou o café. Quente. Combinava com sua alma aquecida pelo amor a humanidade. Sem doer mais. Ela não precisava desapropriar as dores do seu coração, chamar a PM para tirá-las de lá, as dores eram vândalas do bem, estavam ocupando e resistindo porque precisavam. Mas iriam embora quando fosse a hora. A hora havia chegado. Foram.

E a plenitude a preencheu.

brave


i am as brave as a lion
i am as brave as someone touched by the goddess
i am as alive as an undying soul
and i do know
everything will fall into place
eventually

what comes is better than what came before.

in the arms of sleep

às vezes eu sonho
com aquelas coisas que eu queria
e que por ora não estão em minhas mãos

que eu aceite as condições

de um jeito ou outro, terei paz

seja

não tema
não tema
não há trevas
que não possam ser agraciadas com a luz

não tema
seja
não tema
porque o medo paralisa
e a vida é movimento

não tema
vença
cresça
deixe florescer
permita-se curar
e ao alcançar a paz
não limite-a para si
espalhe
acolha
enriqueça
a vida alheia

seja gentil consigo mesme
seja um companheire leal a si
cuide-se e respeite seu corpo

do fundo do poço
é que se tem o maior impulso para emergir
o caos ancestral que se sente
é o mais fértil terreno para cultivar sua mente
o que parece inóspito e hostil
é uma oportunidade escondida
a crise é uma chance disfarçada
de reinventar sua estrada
quantas vezes forem necessárias
até que se orgulhe do que está atrás, durante e adiante

não tema
porque o peso que parece vergar seus ombros
não será pesado o bastante para te fazer tombar
não ceda ao abismo
não escolha o precipício
creia
sinta
siga
seja.

"Quando te vi amei-te já muito antes

Tornei a achar-te quando te encontrei."
- Fernando pessoa

sábado, 26 de outubro de 2013

deus é o silêncio e o som

uma vez vi um filme
que pertencia a uma trilogia
sobre "o silêncio de deus"
amei o filme
e me impactou

mas hoje vejo
que deus não é silencioso
por inexistir
ou por sadismo

deus está em cada batida do coração
deus está nos sons que não ouvimos
deus está no vento que sopra e na natureza que cria
deus está na morte e na vida
deus está na dor e na perda
deus está no amor
acima de tudo
deus está no amor

se deus parece silencioso
talvez seja porque precisa ser assim
ou talvez seja
porque não estás prestando atenção o suficiente

a palavra deus para mim é apenas uma metáfora
para  a multiplicidade de coisas que existem
não acredito num único caminho correto que invalide todos os outros
somos 7 bilhões de almas
somos 7 bilhões de questões
somos 7 bilhões de formas de crer
somos 7 bilhões de formas de amar

quando eu era agnóstica escrevi mais de uma vez
que eu o amava tanto que queria que deus existisse
somente para pedir
que ele o protegesse
hoje sei que existe
e sinto-me grata
e peço que o proteja e guie e ilumine os caminhos
peço que lhe ampare nos tropeços e fraquejos
peço que seja a força necessária
para reparar os erros
para combater os medos
para que todos os pesos esmaeçam 
para que a leveza se torne
constante em sua vida
para que a beleza roube todo o espaço
para que cada dia pareça uma bênção
como a bênção que é
sua existência.

Smashing Pupkins - Muzzle

"I know that I am meant for this world
And in my mind as I was floating
Far above the clouds
Some children laughed I'd fall for certain
For thinking that I'd last forever
But I knew exactly where I was
And I knew the meaning of it all
And I knew the distance to the sun
And I knew the echo that is love
And I knew the secrets in your spires
And I knew the emptiness of youth
And I knew the solitude of heart
And I knew the murmurs of the soul
And the world is drawn into your hands
And the world is etched upon your heart
And the world so hard to understand
Is the world your can't live without
And I knew the silence of the world"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Para Eny

garota ruiva da alma gentil,
que seus dias lhe tragam a glória que você merece
que seu otimismo floresça num terreno fértil
e que sejam fecundos teus sonhos

que tudo que passou de ruim revele sua natureza transitória
e vá embora
que seu caminho se abra
que deuses e deusas guiem sua estrada
que haja quem te ampare quando os pés ficarem cansados
e um colo caso haja pranto amargo

que você seja simplesmente feliz,
com tudo o que merece
sem migalhas e sem mágoas

que o futuro ainda não desbravado
mostre-se muito mais do que você esperava
muito mais do que sonhou
que te deixe estupefata
de tanta felicidade
da serena tranquilidade
de ser sem doer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

keep the things you forgot

"keep you apart
deep in my heart
separate from the rest
where I like you the best
and keep the things you forgot"

i do keep everything you forgot.

sobre seguir

amor
não é um contrato
ou um laço
tampouco garantia de eternidade
ou de cumplicidade

meu sentimento basta em si mesmo
eu sinto até esgotar
eu sinto até me esgotar

e depois de dar tudo de mim
cada célula
cada partezinha da minha devoção
resta eu mesma

e eu mesma
sou suficientemente boa
suficientemente forte
e totalmente inteira
para ser minha própria companheira

não devo ansiar pelo retorno
pois não preciso me preparar para ele
se um dia acontecer
basta desfrutar
e viver
e celebrar

preciso mesmo é me preparar
caso nunca aconteça
a vida não pára
e tenho um compromisso muito sério com o mundo
para só esperar passar

meu caminho é bonito
e nem precisa ser tão difícil
a companhia dele seria bem-vinda
mas já consigo caminhar sobre meus pés
um após o outro
desviando dos espinhos
parando pra descansar um pouquinho
respirando fundo e agradecendo a deusa
por me abençoar

hoje vou seguir
mas peço a ela
que o abençoe também.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

To Elliott Smith

sorrow
won't kill me
i won't let it
ever

sorrow
may hurt me
but i am my own savior

sorrow
can be poetry
can leave my body
and become a song

sorrow
is known by me for so long
it won't made me scared
it's kind of "oh you again?
you're not welcome
but take a sit
I'm listening to some Elliott Smith"

and it would say
"really?
are you listening to King's Crossing?"

"perhaps
but I won't kill myself
I'm a huge Elliott's fan
and I do feel his pain
but I won't kill myself
instead
I'll try to make some music
about living
and loving
and caring
and facing troubles
and letting go
and maybe about death
and pain
but I won't kill myself
no one deserves to suicide
and neither do I
or Elliott

dear Elliott,
I hope you have reached
what you seek
through the years
I hope you're not aching
anymore
thanks for all the beauty you left in the world.

soledad

eu sinto saudade
das madrugadas
não das difíceis
das bonitas
das com conversas
risadas
a intimidade mais sagrada
o carinho e a delicadeza e o toque
os filmes
o amor
os gatos
o deck
a delicadeza
o cuidado
eu sinto saudade
dos olhos
da curva dos olhos
das pálpebras
da íris escura
dos zigomas
da boca
dos lábios
do cabelo
do cheiro do cabelo
do pescoço
do sorriso
dos olhos e dos olhares
das mãos
dos braços
dos ombros
do tronco
das pernas
de cada curva do corpo
de cada sutileza do gosto
sinto falta de poder te chamar de meu amor
sinto falta do sorriso que eu recebia quando nos encontrávamos
como se minha existência te fosse tão preciosa 
sinto falta de olhos carinhosos
sinto falta da voz
sinto falta de tudo
sinto falta
e é isto.

aquela parte do meu coração
anseia pelo retorno
essa parte talvez anseie sem nunca se satisfazer
nem sempre essa parte machuca
às vezes ela só existe

hoje tá difícil.


o corvo

Era uma vez um corvo. O corvo gostava de pegar coisas brilhantes e levá-las para seu ninho. Joias, pedaços de alumínio. Devia ser um corvo libriano. O corvo era um corvo, não uma pessoa, então ele nunca mensurou o que escolhia por seu valor monetário, e sim pelo quanto brilhava. Um cordão de ouro esquecido no banco de um parque ou um papel prateado de maço de cigarro eram para ele igualmente belos. E a beleza bastava. Não havia necessidade de ser útil, só de brilhar.

Era uma vez uma mulher. Ela se chamava Samantha. Ela era apaixonada por um amigo. Ele sabia, mas não correspondia. Samantha, à sua maneira, catava coisas brilhantes para levar para ele. Fragmentos de textos que ela achava bonitos. Músicas, daquelas suavemente melancólicas. Comidas, situações engraçadas. Seu amigo gostava de quase tudo, e sabia que ela se esforçava. Às vezes ficava constrangido com isso, porém, nunca pediu para ela parar. Sabia que era importante para ela. E sabia que ela se contentava em oferecer a ele o que ela achava digno de ser compartilhado.

Um dia, o corvo engoliu um anel de lata de cerveja. Samantha estava indo para casa e o viu convulsionando no chão. O corvo havia ficado interessado por aquilo, prateado, mas opaco. O corvo nem sabia que aquilo era considerado lixo, resto, e menos ainda que pessoas que também não eram consideradas muita coisa pela maior parte da sociedade catavam aquilo para seu sustento. O lixo de uns era o sustento de outros. O lixo de uns era a beleza no ninho de outros.

Porém, o corvo não teorizou isso tudo. Ele apenas pegou com o bico aquele anel de lata de cerveja. Na mesma hora, um adolescente jogou uma pedra em sua direção. O corvo ficou assustado e engoliu o anel.

Quando Samantha viu o corvo no chão, convulsionando, não soube o que fazer. Tentou pegá-lo nas mãos e pegou um táxi para um veterinário. O corvo já quase não era mais. No calor das mãos de uma moça gentil, o corvo emitiu um som baixo, como de quem descansa, e morreu.

Samantha chorou, e não entendeu porquê. Era só um corvo, ou não. Chegou em casa e o enterrou. À noite, chorou mais um pouco. As pequenas perdas às vezes são metáforas das grandes. O que importava era tudo que brilhava enquanto podia brilhar.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

freedom

once i was a mountain of sadness
an ocean of sadness
once i was sadness itself

once i couldn't stand myself
the girl in the mirror was someone i would kill
once pain was so overwhelming
i couldn't recognize myself

to be happy is to be free
to be myself
and to tell the girl in the mirror
she is fine the way she is

once i ran against the wind
and it blew in my ear
"you don't need to hurt yourself
in order to fit in a world
that you think wasn't made for you

this world is also yours
and so is the universe
you don't need to kill yourself
in order to be free
your body is not a burden
and your life is not a mistake"

once i took a cup of wisdom
and i knew that i could be useful
mother nature will show me how.

domingo, 20 de outubro de 2013

de alma a alma

eu o amo por todas as razões racionais
que aqui poderia listar
(algumas -
são tantas)
amo porque me fez bem
amo porque me amou
amo porque cuidou de mim
amo porque é lindo
amo porque é correto
amo porque é sobrevivente
daqueles que não se deixaram corromper

mas amo também
por aquilo
que não consigo descrever
amo por aquela parte imaterial
que não dialogou com meu racional
e sim de alma pra alma
eu vi a sua
e me apaixonei
e o que vi de abismo
não me assustou
eu não fugi
eu não temi
eu não pedi arrego

o que tiver de difícil
eu encaro
o que tiver de pesado
eu ofereço meus ombros para ajudar com o fardo
o que tiver de escuro
eu tenho luz o bastante para iluminar
o que tiver de profundo
não é mais profundo do que meu amor
e minha força para dissipar

não preciso de laço firmado
e tampouco de reciprocidade
preciso só que receba
a força de cada palavra
que senti que deveria estar aqui.

sábado, 19 de outubro de 2013

real deal

just like as they say in fake plastic trees
you look and taste like the real thing

but you are not a fake plastic love
you're my love
and you're the real deal

this is why i can't be with anyone else but you
as long as i still love you like i do
i can't pretend someone else is other than wrong

you're the real deal
and you're my favoite thing
even though you're not a thing
you're my new deal
even though you're not mine

but for sure
you're my love
you're the one i love
you're the one i dream about
you're the one i love
you're the one that awake my soul
you're the one that made me shine
and i'm shining, sweetheart

i wish you were here to see me shine
and maybe
you would fall in love in with me
one more time

but you're not here
and even if you were
things are not that simple

but at least
you made me a poet
you made me a lover
you made me a living one

maybe someday my love will vanish
maybe not
thing is
i'm fine
and i'm gonna give every cell of mine
for you to be fine too
you don't need to love me
you don't need to thank me
you only need to keep on living
and shining
too.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

rainha

quando escrevo sou rainha
de um império imaterial

aqui nesse feudo
nesse reino
nesse pedaço
crio e recrio
a meu bel prazer

eu poderia escrever infâmias
e vilezas
ou sutilezas
eu poderia fazer rimas pobres
aliterações
versos livres e brancos
ou livres e negros
versas livres e negras

eu poderia criar uma personagem
com tudo que eu não sou
(sempre há
algo de autobiográfico
na escrita
nem que seja pra se inspirar e fazer tudo ao contrário)

eu poderia reescrever mil vezes
ou deixar a palavra fluir quase sem pensar
sem refrear
inspiração bruta
ou não

eu poderia escrever uma história
sobre uma menina perfeitamente bem ajustada
que estaria a essa hora dormindo para ser produtiva
em vez de ruminar e escrever
fingindo que não tem louça a lavar

e eu poderia nesse império escrito em que sou rainha
entregar minha coroa
celebrar a anarquia
descer do pedestal
e dançar
a beleza
das coisas
que simplesmente
são.

gosto das palavras
pela ilusão de que as controlo.

existência bonita

às vezes eu quero chorar de saudade
mas me esforço
pra sorrir
porque você existe

e isso é de fato algo pra se sorrir bastante

você é tão bonito
quanto a vida

e eu amo você
com as melhores partes de mim

a sua existência nesse corpo, bem como a minha, um dia cessará
mas esses versos são imortais
talvez um dia daqui a décadas ainda haja alguém pra achá-los casualmente
e pensar
"poxa
eis algo
que apesar de tudo
sempre foi
de verdade"

a vida

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!


- Manuel Bandeira

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

haikai de inverno

o nome é pura fanfarronice
não tenho a elegância sintética dos japoneses
o ethos do meu país é a angústia adolescente

maio/2012

o amor dele
salvou minha vida
hoje vivo sem
consigo viver sem
mas só cheguei nesse ponto
porque em maio tive alguém pra me fazer sorrir
tive alguém pra me abraçar e se preocupar comigo
tive alguém que respeitou minha dor
tive alguém que teve paciência
tive só o melhor companheiro do mundo
é natural que eu sinta saudades
é esperado que eu sinta saudades
e eu
vou
superar
(espero)
mas nunca
vou
esquecer.

In a parallel universe

hoje andando sozinha
eu percebi
que Perfect do Depeche Mode
já não me dói
e sim consola

em algum universo paralelo
em alguma existência em algum plano
talvez estejamos juntos
de mãos dadas
dormindo
suas costas estreitas envolvidas pelos meus braços
sua pele macia ao alcance da minha
seus poros ao alcance dos meus olhos
seu cheiro bem perto de mim

em algum universo paralelo
o que durou um ano
talvez dure 50
em algum universo parelelo
aquilo de envelhecermos lado a lado e você me achando linda enrugada
talvez seja verdade
talvez tenha acontecido bem daquele jeito
ou de outro ainda melhor

em algum universo paralelo
em vez de eu sonhar com você todas as noites
eu acordo do seu lado
e sorrio
e te faço café da manhã

em algum universo paralelo
as coisas fazem sentido
embora nesse também façam
preferia que fizessem contigo ao meu lado

em algum universo paralelo
eu não te feri tanto
em algum universo paralelo
nada te faz não querer me amar
nada te refreia de confiar em mim

em algum universo paralelo
nossos corpos se unem
e eu choro de alegria
e sinto seu corpo junto ao meu
como a coisa mais viva e preciosa em que já toquei

em algum universo paralelo
talvez eu gerasse seus filhos
talvez fôssemos uma família
talvez fôssemos só eu e você
e os gatos
com certeza bastaria

em algum universo paralelo
as coisas não precisariam ser perfeitas
as coisas não precisariam ser exatas
me bastaria que as coisas apenas fossem
eu só queria estar contigo.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sobre Watchmen e ser feliz

Eu estou muito feliz por estar viva. Eu literalmente agradeço a Deus por isso várias vezes por dia. O engraçado é que isso é algo totalmente novo pra mim.

Eu tenho 19 anos. Eu sou bem jovem. Contudo, eu passei 18 anos sofrendo muito. Eu fui uma criança extremamente melancólica, eu tentei me matar pela primeira vez com 10 anos. E às vezes eu achava que meus problemas eram as circunstâncias desfavoráveis, em especial questões familiares. Muito pior foi quando comecei a achar que o problema estava em mim - que eu simplesmente tinha vindo a esse mundo quebrada de um jeito irrecuperável. E suicídio é uma ideia que faz muito sentido quando você acredita que é quebrada de um jeito irrecuperável.

Atualmente, eu me sinto, totalmente bem. Como disse a May F., aquela linda, "É como ser um bebê, fascinado com as próprias mãos e pés". É uma ótima definição. É delicioso mudar sua ótica sobre tudo. Redescobrir beleza em coisas pequenas e simples.

Na série de quadrinhos Watchmen (senta que lá vem spoiler), existe um personagem chamado Dr. Manhattan. Ele é um cientista que sofre um acidente no laboratório e se torna uma espécie de mutante com vários poderes. Ele tem um romance com uma moça, e após ela deixá-lo, por ele ser demasiadamente frio e inacessível, ele resolve ir embora da Terra.

Numa época muito péssima da minha vida, eu me identificava com o trecho que o Dr. Manhattan diz a sua ex companheira, quando ela vai vê-lo em Marte:
"Quando você me deixou, eu deixei a Terra. Isso não lhe diz nada?". Eu me identificava com esse trecho porque eu acreditava que com o rompimento de certos laços, eu não tinha mais o que fazer aqui. Eu queria partir da Terra, também.

Atualmente, eu me identifico é com outro trecho:
Dr. Manhattan: Milagres termodinâmicos… eventos tão improváveis que são impossíveis na prática, como oxigênio virar ouro espontaneamente. Eu quero muito observar algo assim. No entanto, em cada par humano, milhões de espermatozóides avançam rumo a um só óvulo. Multiplique as possibilidades por incontáveis gerações, junte à chance de seus ancestrais estarem vivos; de se encontrarem; de conceberem esse precioso filho; essa exata filha… Até mesmo sua mãe amar um homem que tinha todas as razões para odiar, e dessa união, das milhões de crianças competindo pela fertilização, foi você, apenas você que emergiu… extraindo uma forma específica desse caos de improbabilidades, como o ar se transformando em ouro… Isso é o pináculo do improvável. O milagre termodinâmico.  
Laurie: Mas… se eu, meu nascimento, se isso for um milagre termodinâmico… pode-se dizer o mesmo de qualquer pessoa no mundo!  
Dr. Manhattan: Sim. Qualquer pessoa no mundo. Mas o mundo é tão cheio de pessoas, tão repleto desses milagres que eles se tornam lugar comum e nós esquecemos… eu esqueci. Nós contemplamos continuamente o mundo e ele se torna opaco às nossas percepções. No entanto, encarado de um novo ponto de vista, ainda pode nos tirar o fôlego. Vamos… enxugue as lágrimas, porque você é vida, mais rara do que um quark e mais imprevisível do que qualquer sonho de Heisenberg; a argila na qual as forças que moldam a existência deixam as impressões digitais mais visíveis. Enxugue as lágrimas… e vamos para casa.

Eu tenho um milagre termodinâmico preferido, cuja mera lembrança me faz sorrir e querer continuar. Mas todes somos milagres.

É muito novo para mim enxergar a minha vida como preciosa, e não um fardo. É novo e lindo. Quando eu tomava antidepressivos, eu sentia que eles me davam uma paz artificial, como se nada pudesse me perturbar. E de fato, era artificial. Agora é real. Adversidades e vicissitudes virão, fazem parte da condição humana nessa fase de nossa existência. Porém, hoje sei que sou forte o bastante para enfrentar o que acontecer. Hoje sei que viver é possível e incrível. Hoje sei que quero continuar. Hoje sei que enquanto eu estiver aqui, eu posso evoluir e tentar fazer o máximo de bem possível para outres.

Estou muito feliz por estar viva.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

da arte da paciência

o amor vai embora
quando for a hora
a angústia eu combato
com um pouco mais de paciência
o receio eu combato
com a fé no meu futuro

eu suspiro e sonho
todas as noites
mas eventualmente
tudo irá pro seu devido lugar
em sentido mais amplo, meu lugar é o mundo
ainda bem que permaneci aqui

"they say that I'll recover my love for her once in a while
but I don't know, I don't think so"

eu ainda acho que não
mas já não me defino em função dessa ausência
ou das outras
eu sou inteira
mesmo com saudades.

dueto

eu sou muito boa em amar as pessoas
mas meu amor por você foi minha obra prima.

a espera

se eu te mostrar coisas bonitas
se eu mantiver meu coração puro
se eu ficar quieta
você sentiria minha falta?

sobre medos e amores

você ama alguém
ou uma projeção?
você ama o que está na sua frente
ou uma criação da sua mente?
você ama pra fugir da vida
ou celebrá-la?

você ama porque teme o abismo
ou porque sabe que amar é força para enfrentá-lo?
você ama com compaixão
ou você ama com vício e obsessão?
você ama enxergando quem você ama como um ser humano
com respeito pelas fraquezas, limitações, traumas, defeitos
ou você ama esperando salvação?
você ama alguém
ou você não ama a si?
você ama na transitoriedade do possível
ou esperando uma ilusória eternidade numa vida de vacuidade?

você tem amor
ou você tem medo?

sábado, 12 de outubro de 2013

verso solto

respeito teu silêncio como expressão de Deus.

not frightened of dying

"And I am not frightened of dying
any time will do, I don't mind
why should I be frightened of dying?
there's no reason for it
you've gotta go sometime."

and I am still not frightened of dying
now I know someday I will leave this body
but I won't leave life
only this life

I am not frightened of dying
but these days I don't want to die
anymore
I want to live
and rise and shine
I don't want to die
'cause I've got so much to do
I want to see people and places
I want to celebrate
and I want to build a better world
I want to hold the ones who are aching
I want to help
as much as I can
as long as I can

I don't want to die
but I am still not frightened of dying
now I know
there's much more
and I feel peace
and I feel safe and whole
in my own arms
even though
I still miss yours.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vento

o vento vibra com a vida
a palavra fluida me escapa entre os dedos
lembro do seu cheiro e seus silêncios
lembro dos seus olhos escuros e seus braços

eu lembro como quem celebra o que teve
como quem sente na brisa um sopro do divino
como quem se sente agraciada
com a doce serenidade do universo
como quem se sente abençoada
com a paz da comunhão

eu caminho com Quíron em Escorpião
eu amo com a força ancestral da união

eu vivo com a vibração do desconhecido
eu sinto com o destemor dos que amam.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Calle 13 - La vuelta al mundo

No me regalen más libros
Por que no los leo
Lo que he aprendido
Es porque lo veo
Mientras más pasan los años
Me contradigo cuando pienso
El tiempo no me mueve,
Yo me muevo con el tiempo
Soy las ganas de vivir,
Las ganas de cruzar
Las ganas de conocer
Lo que hay después del mar
Yo espero que mi boca nunca se calle
También espero que las turbinas de este avión
Nunca me fallen
No tengo todo calculado,
Ni mi vida resuelta
Solo tengo una sonrisa
Y espero una de vuelta
Yo confío en el destino
Y en la marejada
Yo no creo en la iglesia
Pero creo en tu mirada
Tú eres el sol en mi cara
Cuando me levanta
Yo soy la vida que ya tengo
Tú eres la vida que me falta
Asi que agarra tu maleta,
El bulto, los motetes
El equipaje, tu valija,
La mochila con todos tus juguetes.
Y! Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
La renta, el sueldo,
El trabajo en la oficina
Lo cambié por las estrellas
Y por huertos de harina
Me escapé de la rutina
Para pilotear mi viaje
Por que el cubo en el que vivía
Se convirtió en paisaje
Yo! era un objeto
Esperando a ser ceniza
Un día decidí
Hacerle caso a la brisa
A irme resbalando detrás de tu camisa
No me convenció nadie
Me convenció tu sonrisa
Y me fui tras de ti
Persiguiendo mi instinto
Si quieres cambio verdadero
Pues, camina distinto
Voy escaparme hasta la constelación mas cercana
La suerte es mi oxigeno
Tus ojos son mi ventana
Quiero correr por siete lagos
En un mismo día
Sentir encima de mis muslos
El clima de tus nalgas frías
Llegar al tope de la tierra.
Abrasarme con las nubes
Sumergirme bajo el agua
Y ver como las burbujas suben
Y! Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo

terça-feira, 8 de outubro de 2013

só o amor salva

amor
é contemplar o abismo
é conseguir contemplar o abismo
é encarar o abismo
sem temer
sem correr
é tentar proteger
com tudo de si
é ver as trevas
e não deixá-las entrar
amor é enxergar a alma
na sua frente
como merecedora
de Deus
da salvação
da paz
da cura
amor é suportar a verdade
e descobrir a força
que nem se imaginava ter 
porque alguém pode precisar dela
amor é compaixão
delicadeza
e devoção
aceitar pacientemente as coisas como são
amor é querer não simplesmente para si
é te querer para o universo
livre
brilhante
fulgurante como um cometa
o rabo do cometa do divino
do sagrado
do etéreo
e do eterno.

sábado, 5 de outubro de 2013

salvai

mãe
ó mãe, ó mãe, ó mãe
salvai, salvai, salvai
iluminai os caminhos
guiai os desígnios
salvai, salvai, salvai
sob a proteção de Deus
amém.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Hoje foi um bom dia.

''Yesterday, I spent 60 dollars on groceries, took the bus home, carried both bags with two good arms back to my studio apartment and cooked myself dinner. You and I may have different definitions of a good day. This week, I paid my rent and my credit card bill, worked 60 hours between my two jobs, only saw the sun on my cigarette breaks and slept like a rock. Flossed in the morning, locked my door, and remembered to buy eggs. My mother is proud of me. It is not the kind of pride she brags about at the golf course. She doesn’t combat topics like, ”My daughter got into Yale” with, ”Oh yeah, my daughter remembered to buy eggs” But she is proud. See, she remembers what came before this. The weeks where I forgot how to use my muscles, how I would stay as silent as a thick fog for weeks. She thought each phone call from an unknown number was the notice of my suicide. These were the bad days. My life was a gift that I wanted to return. My head was a house of leaking faucets and burnt-out lightbulbs. Depression, is a good lover. So attentive; has this innate way of making everything about you. And it is easy to forget that your bedroom is not the world, That the dark shadows your pain casts is not mood-lighting. It is easier to stay in this abusive relationship than fix the problems it has created. Today, I slept in until 10, cleaned every dish I own, fought with the bank, took care of paperwork. You and I might have different definitions of adulthood. I don’t work for salary, I didn’t graduate from college, but I don’t speak for others anymore, and I don’t regret anything I can’t genuinely apologize for. And my mother is proud of me. I burned down a house of depression, I painted over murals of greyscale, and it was hard to rewrite my life into one I wanted to live But today, I want to live. I didn’t salivate over sharp knives, or envy the boy who tossed himself off the Brooklyn bridge. I just cleaned my bathroom, did the laundry, called my brother. Told him, “it was a good day.''

"Hoje, eu gastei 60 dólares em mantimentos, peguei ônibus para casa, carreguei ambas sacolas com dois bom braços de volta ao meu apartamento e cozinhei meu próprio jantar. Você e eu podemos ter diferentes definições do que é um bom dia. Essa semana, eu paguei meu aluguel e meu cartão de crédito, trabalhei 60 horas entre meus dois empregos, só vi o sol nas minhas pausas pro cigarro e dormi como uma pedra. Passei fio dental pela manhã, tranquei minha porta, e lembrei de comprar ovos. Minha mãe está orgulhosa de mim. Não é o tipo de orgulho que ela discorre sobre no trajeto de golf. Ela não combate assuntos como "Minha filha entrou em Yale" com "Ah sim, minha filha lembrou de comprar ovos.". Mas ela está orgulhosa. Veja, ela se lembra do que veio antes disso. As semanas nas quais eu esqueci como usar meus músculos, como eu fiquei silenciosa como uma neblina espessa por semanas. Ela achava que cada ligação de um número desconhecido era a notícia do meu suicídio. Esses foram os dias ruins. Minha vida era um presente que eu queria retornar. Minha cabeça era uma casa com torneiras vazando e luzes queimadas. Depressão é uma boa amante. Tão atenciosa; tem esse jeito nato de fazer tudo ser sobre você. E é fácil esquecer que seu quarto não é o mundo. Que a sombra escura que sua dor causa não é iluminadora de humor. E é mais fácil continuar nessa relação abusiva do que consertar os problemas que ela criou. Hoje, eu dormi até às 10, lavei cada louça que eu tenho, briguei com o banco, cuidei de papelada. Você e eu podemos ter diferentes definições de ser adulto. Eu não trabalho por salário, eu não graduei na faculdade, mas eu não falo mais pelos outros, e eu não me arrependo de nada que eu não possa genuinamente me desculpar por. E minha mãe está orgulhosa de mim. Eu pus abaixo uma casa de depressão, eu pintei em cima de murais em escalas de cinza, e é difícil reescrever minha vida em uma que eu queira viver. Mas hoje, eu quero viver. Eu não salivei por facas afiadas, ou invejei o garoto que se jogou da ponte de Brooklyn. Eu só limpei meu banheiro, lavei as roupas, liguei para meu irmão. E disse a ele: Hoje foi um bom dia."

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

imagens

escrevo para evocar imagens
minto; escrevo inicialmente para desfazer-me da dor
mas com sorte, gosto da catarse
de alguém ler estas palavras e sentir-se contemplada
escrevo porque sou uma desajustada
que quer fazer arte e poesia a partir da dor

me orgulho de meus êxitos
em todos os sentidos

o principal, sempre
é estar viva e íntegra.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

One of a kind

O tipo de amor que vale só por existir. Sem necessidade de cobranças, exigências, mesquinharias humanas. Só por existir.

O tipo de beijo no qual você não consegue pensar em mais nada; só sentir. Que parece uma droga por oferecer tantas nuances e sutilezas de sentimentos e sensações.

O tipo de amor em que olhar por horas alguém dormir não é uma hipérbole. Em que analisa-se cada poro, cada detalhe, mesmo os mínimos - eu o amo como uma virginiana.

O tipo de amor em que você tem vontade de agradecer ao Insondável pela pessoa existir. Que faz uma agnóstica desejar que exista algo além apenas para pedir a esse algo que proteja a pessoa amada. Que ilumine seus caminhos. O tipo de amor que faz você desejar que alguém jamais esteja só, imerso em sofrimento, que jamais alcance seu ponto de ruptura.

O tipo de amor que poderia ser resumido num querer-bem. Um querer-bem total, completo; muito mais espiritual, profundo e íntimo do que um mero querer para si.

Quero-o pra mim apenas na medida que isso for o que ele quiser, se quiser. Apenas se eu puder ser o que ele merece. Quero-o, em suma, na transitoriedade do possível. E na serenidade da aceitação do não-possível.

Querer bem a ele, porém, é para sempre. O tipo de amor que aquece seu coração com os sentimentos mais bonitos e elevados que uma alma humana pode ter.