segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

A escolha política da omissão

O dramaturgo alemão Bertolt Brecht sintetizou muito bem em seu poema "O analfabeto político" a incoerência ignorante de alguém que declara não importar-se com política: Toda a nossa vida, todo o nosso cotidiano estão inevitavelmente ligados a ela. Se alguém declara não interessar-se por política, este também é um ato político.

A política é um tema complexo. É compreensível que pareça enfadonha para muitos. Porém, é equivocada a ideia de que política é algo alheio aos cidadãos comuns, restrito ao Congresso Nacional e altas esferas similares. A advogada militante dos Direitos Humanos Érika Pretes intitulou brilhantemente um artigo em seu blog acerca das identidades de gênero divergentes do padrão heteronormativo: "Ir a padaria é um ato político" (http://inquietudine.wordpress.com/2010/07/20/ir-a-padaria-e-um-ato-politico/)

Frequentemente, interpretamos nossas ações como meras escolhas pessoais, cujas consequências ficariam restritas ao âmbito privado e individual. Contudo, isso raramente é verdade. Ao declarar que não se interessa por política, o indivíduo está fazendo a escolha política da omissão. Se à primeira vista a decisão de se abster da vivência política parece uma escolha de foro íntimo legítima, ao analisar-se mais profundamente, essa ideia revela sua fragilidade.

A omissão custa para todos. Afinal, a política permeia nossa vida de maneira indissociável. Todavia, essa omissão custa especialmente caro para aqueles que insistimos em chamar de minorias - mulheres, negros, homossexuais, transexuais, pobres. É fácil dizer "Não me interesso por política" quando seus direitos humanos mais básicos estão preservados.

Somos seres dotados de empatia. E, como disse o religioso Desmond Tutu, que lutou contra o apartheid na África do Sul, "Se você permanece neutro numa situação de injustiça, você escolheu o lado do opressor." Ser apolítico é ser omisso. E o mundo se torna mais perigoso quando escolhemos não escolher.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Teorizar a minha dor não vai buscar o meu amor

Procurando alguém que não acenda a discussão
Sobre minha indigestão mental
Meu colapso cerebral
Teorizar a minha dor não vai buscar o meu amor
Não quero respostas ou conselhos
De um pentelho que pensa ser Freud

Por dentro eu posso chorar
Me pergunto:

Quem dessa vez vem me ajudar?
Eu sei que não vou encontrar saída nenhum no bar pra mim
Apenas quero sorrir assim
Sem ter de lembrar do quanto vou chorar depois.

Stratopumas - Paranóia de Freud

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Vazio

Diferentemente de outros momentos da minha vida, neste não há aquele desespero agudo. Não há surtos e nem o pensamento de "Eu não consigo viver assim". Eu consigo, sim. Talvez eu viva até anos assim.

O que há é vazio. Um vazio completamente melancólico, nostálgico, e amargo. E fisicamente doloroso.Vem na forma de náusea. Vem na forma de taquicardia. Vem na forma de uma certa dificuldade pra respirar. Vem na forma de muito sono.

Eu não vou fazer nenhuma besteira. Esforçarei-me em ser produtiva, estudar, sair com as amigas, sorrir, cozinhar, cuidar dos meus lindos gatos, ficar na internet.

Mas o vazio. O vazio. O vazio permanece. O vazio me segue, e, quando eu abaixo a guarda, o vazio me abraça. Me envolve. Me aperta. E quando eu olho nos olhos da Pandora, inexplicavemente, eu tenho certeza que ela sabe o que eu tô sentindo. E me sinto desarmada. Me sinto horrivelmente frágil. Sozinha. Abandonada.

E velha. Eu me sinto velha. Só que "I'm too young to feel this old". Quanta dor a gente acumula com os anos. Espero que os próximos sejam mais suaves. Espero que eu ame menos. Porque esse amor imenso e que a tudo, tudo perdoa tem me envenenado, tem sido minha ruína. Meu corpo está me punindo por amar demais, por sentir demais, por sofrer demais.

"A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal

You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide

No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent silence

This is my final fit, my final bellyache with.

No alarms and no surprises please (let me out of here)"



Às vezes acho que, quando eu morrer, eu terei uma expressão muito serena no rosto.