sábado, 29 de junho de 2013

cid f33

É bem mais fácil patologizar meu sofrimento do que cogitar que a vida nem sempre vale a pena, em todas as ocasiões, para todas as pessoas no mundo, e que frente a isso, algumas pessoas preferem ir embora. É mais fácil jogar um rótulo de doente mental nelas, porque são numericamente poucas, do que pensar "o que leva 1 milhão de pessoas por ano a decidirem destruir o próprio corpo na esperança de cessarem de existir?"

É muito melhor para a estrutura de uma sociedade medíocre obcecada com produtividade / ser funcional pensar em mim como uma doente mental do que aceitar que uma pessoa completamente lúcida pode sentir tanta dor que viver não vale a pena para ela.

Acho até uma questão filosófica interessante: as pessoas recriminam tanto os suicidas porque enxergam que em sua negação individual da vida consiste, no fundo, uma negação da vida humana em geral?

De minha parte, nego ambas e respeito quem discorda. Não estou pintando cartazes escritos "Suicídio sim". Só quero respeitada minha autonomia para ir embora. Só isso.

"A society in which no tear is shed is inconceivably mediocre."


Não é por falta de amor que quero morrer

Sentir-me deslocada, ter a sensação de não-pertencimento, é uma das minhas memórias mais antigas. Não consigo me lembrar de alguma época em que eu não tenha sentido isso. Eu ficava muito triste quando era criança por não conseguir fazer amigxs. Eu me esforçava, eu puxava papo, eu era prestativa, e simplesmente não rolava. As crianças não gostavam de mim. E, mesmo que eu soubesse e sentisse quão diferentes elas eram de mim, eu queria ter amigxs. E não conseguia.

Nos últimos anos, eu consegui. Consegui não só fazer amigxs, mas tê-lxs sem ter de fazer concessões absurdas. Não abri mão de quem sou e não vendi minha alma; por menos satisfeita que eu seja comigo mesma, conquistei corações dispostos a me acolherem. De verdade.

Não é por falta de amor que quero morrer. Sei que sou muito querida, amada, importante e bem-vinda pra um número de pessoas que me surpreende de grande. Sei que fiz diferença, sei que fui útil, sei que tornei alguns universos individuais melhores.

E isso é lindo. Isso aquece um pouco meu coração.

Mas isso não muda minha vontade de morrer. Isso, na verdade, só me faz achar que meu legado é bonito.

Um legado bonito e válido.

Porém, como a frase que postei aqui  esses dias, "Suicídio não serve: não apaga o fato de ter sido." E, por melhor que seja esse legado de amor que dei e recebi, acho que ainda teria sido melhor não ter nascido. Porque temo que tudo que fiz de bom por outrxs se transforme exatamente em mais razões para sentirem minha falta quando eu for. Quando, não "se". Quando.

Espero estar enganada.

I wanna be forgotten
And I don't wanna be reminded
I say: Please, don't make this harder

quinta-feira, 27 de junho de 2013

anarcasuicida

se for pra fazer um bloco negro por mim
não façam nenhum tipo de cortejo fúnebre:
vão pra rua.

Despedida

Sem sombra de dúvida, haverá quem me chame de fraca - principalmente pessoas que me conhecem pouquíssimo mas acham que conhecem. Em número maior, haverá xs que se solidarizarão com minha dor mas dirão "Ela deveria ter tentado mais um pouco, só mais um pouco. Se ao menos (...)" e aí pode ser "ela tivesse voltado pra medicação/ terapia/ tivesse esperado mais tempo/ tivesse mudado algo na vida dela/ tivesse conhecido Mel Dels", etc. etc.

Um número mínimo de pessoas entenderá de fato, ou, igualmente nobre, respeitará minha decisão como legítima ainda que não a entenda e me ame e me quisesse vivona.

Vai doer pra muita gente. Não posso fingir pra mim mesma que não sou querida, porque sou, imensamente. Nunca fui tanto.

Mas uma vez uma amiga que me conhece bastante bem me disse "Sim, as pessoas vão sofrer, mas sabe, Gi, pra maior parte das pessoas, viver não é tão difícil. Eventualmente, elxs  vão superar." Com isso, ela não queria dizer que eu sou O Ser Humano Com a Pior Vida do Mundo. Nem ela achava isso, nem eu. O ponto dela é que nem todo mundo quer tanto morrer quanto eu quero. E acho que, via de regra, não querem. As pessoas encontram formas de justificar sua caminhada. Mesmo eu tentei vários caminhos, embora muitxs vão menosprezar isso porque eu sou ~muito nova~ e portanto é fácil dizer que tentei pouco em vez de lembrar-se do esforço fodido que cada dia tem sido pra mim há MUITO tempo.

Eu amo muita gente. Muita gente. E eu espero ter demonstrado isso enquanto estive aqui. O número de ligações, sms, visitas e ofertas de visitas que recebi por volta da época que fui internada me faz crer que tive exito.

Voces, certamente, demonstraram muito e de formas lindas e criativas o quanto me amavam e o quão importante eu fui pra voces. Muito obrigada por isso.

Contudo, "O fim é importante em todas as coisas". Para muitxs, estou indo na hora errada, cedo demais. Pra mim, já demorou. Pra mim, se a vida é uma doença sexualmente transmissível com 100% de fatalidade, estou meramente seguindo o script.

Sim, estou escolhendo minha morte. E podem dizer que isso é anti-natural. Pode ser. Mas é comum, também. Não estou inventando a roda. Só estou morrendo. Morrer é nossa única garantia nessa vida.

Se eu passo a mão no meu tornozelo, ainda dói onde tentei injetar vaselina pra me suicidar (me inspirei num caso em que fizeram isso acidentalmente, mas em grande quantidade, e morreu uma menina. Mas não sei acertar minha veia). Essa dor física é mínima, porém, vem duas dores na sequencia: A de várias tentativas frustradas que estão se tornando ridículas, e o fracasso dessas tentativas. É com pesar que sobrevivi. Eu quis muito morrer.

Espero que dessa vez eu consiga.

Sejam tão felizes quanto possível nesse mundo de merda.

Sim, eu poderia ir além dessa noite, me forçar a continuar o caminho. Tenho feito muito isso. Mas prefiro ir embora. Sempre é possível sobreviver, mas a que preço? Não sei nem mais quem eu sou, e isso é horrível.

Voces nunca vão aceitar minha ida. Eu entendo isso.

Sinto muito.

Por favor, não sofram muito. Estarei bem melhor que aqui. Sem sombra de dúvida. A não ser que voces acreditem num Dels cruel que vai me foder ainda mais depois de morta. Bom, aí essa crença não me concerne mais, porque acredito na compaixão.

Julio Cabrera e Thiago Lenharo di Santis - Porque te amo, NÃO nascerás!

"Aqui se trata de descrição, não de atitudes. E, por outro lado, já no pólo máximo da dor, não se pode continuar dizendo sim a vida 'apesar de tudo'. Pois, nesse caso, eu mesmo me transformo no 'pesar' de viver: o aceitar a estrutura 'apesar de tudo' transforma-se no aceitá-la 'apesar de mim mesmo', algo que já não posso permitir-me.

Quando o próprio Nietzsche viu-se nessas circunstancias, escolheu a loucura."

"E muito pior: desejariam eles serem responsáveis pela existencia de uma pessoa que possa ser tão sensível, machucada, devastada e até destruída pelas dores da existencia? Bem, ao decidir por ter um filho responde-se sim a essa questao."

"Suicidio não serve: não apaga o fato de ter sido" - Max Frisch, O Viajante.

"Sim, acredito que voce observe muito bem que a maioria das pessoas continua vivendo porque consegue se adaptar, aguentar, suportar. O ser humano modelo parece ser aquele que, independentemente de acometimentos, continua respirando, se alimentando, urinando, defecando, procriando, e, de preferencia, trabalhando e se dizendo feliz. É possivel adaptar-se a uma infinidade de circunstancias: a perda de pessoas queridas, a falta de visao ou de pernas, a escassez de alimentos, e assim por diante. Nosso corpo é uma máquina adaptativa, porque afinal de contas, é uma máquina de sobrevivencia."

"Certa vez, segundo li em algum lugar, parece que Cabrera ficou furioso numa fala sobre suicídio, oferecida em alguma universidade brasileira, porque alguém do público lhe disse que se a vida humana não tinha nenhum valor (como Cabrera sustentava) entao o suicídio era a única saída. Ele respondeu que a condição humana era composta pela tensão entre a estrutura terminal do ser e a criação intramundana de valores, e que a escolha acerca do que fazer com este delicado equilíbrio pertencia ao ser humano singular em cada caso e que, portanto, não podia haver receitas gerais sobre suicidar-se ou não suicidar-se."

"Um mundo onde precisamos ser estóicos não parece ser um mundo bom."

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Goodbye blue sky

the flames are all long gone
but the pain lingers on

Time to die

"I've seen things, you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion.
I've watched C Beams glitter in the dark near the Tannhauser Gate.
All those moments will be lost in time like tears in rain. Time to die."

(Blade Runner)

submergindo

mergulharia
em quase qualquer coisa
para salvar-me
tentei, de fato

mergulhei fundo demais nele
mas o abraço do afogado derradeiro
foi meu.

Suicídio, pelo filósofo Julio Cabrera

"Nuestra auto-identidad está profundamente tejida con la piel y la sangre de los otros, y es por eso que, cuando alguien próximo muere (sea o no por suicidio), se lleva una parte de “nosotros mismos”. Así, cuando alguien se suicida, nunca se mata tan sólo a “sí mismo”,o, mejor dicho, mata precisamente a ese “sí mismo” en donde ya está, desde siempre, el otro."


"En la época post-medieval, Erasmo, en Elogio de la Locura (1508), vincula muerte voluntaria con sabiduría y preservación de la vida con locura. (...) Ya en la época moderna, David Hume, en su escrito publicado póstumamente “Acerca del suicidio” (en torno de 1750), argumenta - en una línea directamente opuesta a Santo Tomás - que el suicidio no puede ser considerado ni como ofensa a Dios (porque tanto obecedemos Su voluntad cuando nos matamos como cuando continuamos vivos), ni contra los otros (puesto que el suicida tan sólo deja de contribuir con la sociedad, pero no la perjudica), ni contra sí mismo (porque cada humano conserva con gusto la vida siempre que la misma lo merezca). A pesar de su condenación general del suicidio, Schopenhauer acentúa, en su madurez, que el suicidio es un acto de la inteligencia, y que sólo la voluntad quiere vivir."


"Según una cierta concepción de la filosofía, se considera que las cuestiones importantes del pensamiento pasan por una primera etapa filosófica antes de recibir un tratamiento científico. El suicidio no ha sido excepción a este punto de vista: abordajes médicos, psicológicos, sociológicos, antropológicos, biológicos, jurídicos, históricos, económicos y estadísticos han sido presentados para explicar el “fenómeno” y ofrecerle “salidas”, sean sanitarias o legales. Pero los abordajes científicos del suicidio han conservado, en general, la actitud substancializada y moralista del abordaje filosófico, considerándolo como enfermedad, anomalía social o crimen. Desde el punto de vista médico y psicológico, el suicidio ha sido visto como enfermedad que precisa de observación, diagnóstico y prevención. La idea de matarse aparecería en personas que atraviesan algún tipo de “crisis”, durante la cual pierden el control de sí mismas, caen en estados depresivos, pierden el contacto con la realidad, y practican auto-agresión en consecuencia de ese estado mórbido. Las motivaciones del suicidio suelen vincularse con frustración y decepción, traducidas en deseos de fuga de una realidad penosa y acesso a una realidad mejor o en deseos de castigo o venganza. En todos los que intentan suicidarse existirían estos elementos, considerados mórbidos y excepcionales. Muchos tratamientos psiquiátricos enfrentan estos cuadros mediante la administración de fármacos funcionales (los famosos “anti-depresivos”). En el psicoanálisis, que presenta una mayor sensibilidad reflexiva sobre la muerte y el morir, los suicidas continúan siendo vistos como casos clínicos, y sus problemas analizados en términos de la dificultad que los sujetos tienen de asumir la existencia del inconsciente, y mantenerse como sujetos deseantes. El “cuadro suicida” es objeto de un tratamiento que retoma, por así decir, la “causa” del sujeto."


"Un primer pensamiento sobre suicidio como posibilidad de la existencia es que el suicida no trae al mundo nada que ya no esté en él. Tan sólo realiza, dentro de un acto determinable, la misma estructura que está allí para ser realizada desde siempre. Si estuviéramos realmente “dirigidos a la vida”, el suicidio sería insurgente, porque perpetraría un acto fuertemente contrario a la dirección normal de las cosas. Si fuera así, posiblemente no habría tantos suicidios, o no los habría en absoluto. En nuestro mundo, por el contrario, los hay en tan alto número precisamente porque ellos constituyen una posibilidad del existir perfectamente sintonizada con la dirección mortal de nuestras vidas, dada la conexión interna entre el nacer-mortal y MP."

"Si la condición humana es tan trágica como la tradición filosófica siempre la presentó, mucho más que “condenaciones” al suicidio deberíamos tejer elogios y homenajes a los que consiguen continuar."


- Julio Cabrera
http://pt.scribd.com/doc/71033046/SUICIDIO-Version-minima

terça-feira, 25 de junho de 2013

06/05/2012

Ela: Você acredita em Deus?
Eu: Não
Ela: E na Bíblia? A Bíblia fala a verdade
Eu: Pra mim é um livro de histórias
Ela: E que Jesus veio na terra?
Eu: Não
Ela: ...e no amor?
Eu: Sim, eu acredito no amor. Eu acredito que eu amo minha mãe e ela me amou o melhor que pôde. E eu não tenho raiva nenhuma dela, eu entendo, e queria ter abraçado ela mais. Só.
"esteja aí/viva/inteira até x data para nos vermos"

não
posso.

Todos os amores são insubstituíveis

hipotequei a minha vida
para tentar quitar a dívida
de ter comprado o mito do amor romântico

-

"There are all kinds of love in the world, but never the same love twice." 
-F. Scott Fitzgerald
 (Existem todos os tipos de amor no mundo, mas nunca o mesmo amor duas vezes)

Acho que a parte sua que ama alguém ou continua, ou morre. Mas ela nunca é substituída. O pedaço do seu coração que amou alguém nunca ama outra pessoa. Todos os amores são insubstituíveis. Mesmo os menores. E, principalmente, os maiores.

A parte mais difícil é quando todos os quartos fechados em seu coração (inclusive os de ausências não-românticas) parecem virar um buraco negro disposto a engolir você e sua vida.

2007 era, até recentemente, o pior ano da minha vida.

2013 está sendo pior.

Tive uma terrível epifania:
O problema não eram as circunstâncias.

O problema sou eu.

É possível escapar de quem se é? Mesmo as pessoas mais otimistas que conheço não negam que os momentos ruins - e a dor - fazem parte inerente da vida.

E se eu simplesmente negar o pacote?

domingo, 23 de junho de 2013

genitores gera-dores

a tragédia primordial é ter nascido
todo o resto deriva disso
elogio meus genitores: não planejaram
essa tragédia
fui acidente levado a cabo
egoísmo e otimismo falaram mais alto
ninguém pensa "estou gerando uma vida num mundo cheio de dor"
ninguém planeja gerar uma suicida

passei anos me queixando a minha mãe: "por que você me teve?"
vez ou outra ela se enfurecia
e respondia
"não era pra ser você"
pura verbalização do descontrole



não deveria mesmo ser eu.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

love is watching someone die
so who's gonna watch you die?

fechando o círculo ou o cerco

as mesmas escápulas salientes
o mesmo sangue, afinal

em comum: só

o vazio não foi preenchido
só transposto
foi cavado mais um pouco
e a pá nunca enterra o que(m) exatamente eu queria
esqueci que viver é exatamente isso.

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobreviver é sobre deixar ir: eu não sou minha depressão

Minha mãe morreu há um ano. Esses dias, eu remexi uma pasta bem grande em que ela guardou inúmeros papéis nossos de quando eu era criança.

Eu e minha mãe nos amávamos muito. Aqueles papéis são desenhos meus, dela, "passatempos" que ela fazia pra mim - labirinto com "leve o Bin Laden até as Torres Gêmeas", cruzadinhas que não tinham respostas -, fragmentos de textos enigmáticos dela ou meus.

Chorei, claro, sempre. Eu sinto muita saudade dela. Era a pessoa mais parecida comigo no mundo e eu carrego muitíssimo dela.

O  ponto é que, na melhor das hipóteses, somos todxs mortais. E meu novo imperativo categórico é querer ser uma boa lembrança para xs que me amam.

Acho que estou tendo muito êxito, levando em conta as mais de 20 ligações / sms / mensagens no facebook / visitas e ofertas de visitas. Muito carinho sincero e gratuito. Muita gente citando alguma coisa que eu fiz que foi importante para elxs - ouvi-lxs em alguma ocasião, falar de feminismo ou veganismo, oferecer suporte no luto, oferecer minha casa imunda mas cheia de amor, gatos e comida para alguém dormir.

Eu não sou minha depressão. Depressão não é só tristeza. Sou contra a medicalização e patologização de qualquer coisa que existe em nossa sociedade, adoro e recomendo esses dois textos:

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/01/permissao-para-ser-infeliz.html
http://revistaepoca.globo.com//Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/06/os-loucos-os-normais-e-o-estado.html

fui internada compulsoriamente por dois dias, foi uma merda e não ajudou em nada, vi minha mãe passar por internação no HPAP também e isso abriu toda a questão das doenças mentais e marginalização pra mim, enfim.

De qualquer forma, quando digo eu não sou minha depressão, eu não estou dizendo que não tenho algo grave que acho, no meu caso, que precisa ser tratado porque quase me levou ao suicídio - oito vezes.

O que estou dizendo é que eu sou mais do que esse sentir-se mal. Eu sou mais do que minhas cicatrizes emocionais, eu sou mais do que o meu luto, eu sou mais do que uma fodida problemática. Eu sou uma pessoa, sensível, e que mesmo devastada nunca negou ajuda a ninguém. E acho que posso sim me orgulhar disso. E acho sim que posso pensar em Sartre - "A existência precede a essência" - ou em budismo tibetano - "Porque você está vivx, tudo é possível" - e tentar encontrar um caminho.

Eu não preciso morrer.

Todo esse blog, praticamente, são tentativas de expiação de dor através da escrita. Às vezes funciona melhor, noutras nem tanto, às vezes saem textos que dizem ser maravilhosos, noutras não falam nada. Sobretudo, porém, esse blog tem sido um diário de tentativas de sobreviver.

E eu estou viva. Vivíssima. Vivona. Muito ferida, certamente. Disposta a lutar para melhorar, também. E disposta a lutar por quem sofre.

Eu não vou mudar o mundo a nível macroscópico, eu não sei nem se existem muitas pessoas com poder político e financeiro para tal.

Mas o mundo é constituído por bilhões de universos individuais e hoje, agora, tenho plena certeza que já alterei vários. E alguns, para melhor.

Eu não vou mudar o mundo, contudo, jamais vou me resignar e dizer "É assim mesmo". Não vou passar reto por mendigxs, ou por alguém que sei que está mal. Não vou me furtar de fazer tudo o que eu puder, mesmo que seja muito pouco.

Acho que nenhum ato de gentileza nesse mundo é em vão. Nenhum.

Então estou dedicando esse post - e minha vida, e minha sobrevivência, a todxs vocês que me querem vivona  e viram em mim alguma coisa que tornava essa vida valiosa quando eu realmente só conseguia ver em mim uma criatura patética e estragada que sempre se sentiu outsider. Obrigada por discordarem.

Eu amo vocês, e eu estou aqui. E isso já é um grande começo.

Obrigada.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

A dor

Minha dor é como uma criança pequena que esta angustiada há muito tempo tentando chamar minha atenção. Ela puxa minha mão, diz "Giovana!!", cruza os braços. Por fim, exausta, ela começou a gritar, gritar, gritar até ficar rouca. E eu parei meu caminho para me abaixar e abraça-lá. Sim, ela estava certa. Vamos para casa. A Terra não é nosso lugar. Nunca foi. Qual ele é? Não sei nem se existe. Aqui, não é.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

"Do or do not. There is no try."

Sempre achei essa frase meio cruel. Mas no momento ela faz muito sentido.

Atirei para todos os lados na tentativa de melhorar. Recebi elogios entusiasmados de quem gosta de mim por isso. Vender cupcakes, ir na prática de Tara Vermelha, ler mais, sair de casa, fazer planos de toda espécie.

Contudo,
estou igual. Não adiantou. Não adiantou.

Tentei muitas coisas. Não tentei outras tantas. Sempre teremos deixado possibilidades inexploradas.

Mas minha energia acabou. Meu ânimo acabou. Minha esperança acabou. Minha persistência acabou.

"E se tudo mais falhar,
[sempre esperei a morte."

The final cut

Uma vez sonhei, pouco depois do suicídio da minha mãe, que ela me mandava uma carta vinda do céu. Literalmente. Nela, minha mãe dizia que lá todo mundo era legal e tal, mas que ela estava chateada/decepcionada por eu não ter ido junto com ela.

A pior parte é que eu sempre quis.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Keep walking

Eu não quero salvação. Eu quero um caminho. Um caminho do meio.

Eu não exijo companheirxs. Já não tenho mais idade para cobrar eternidade dos laços. Às vezes as pessoas se vão até sem querer. Mas quem quiser caminhar ao meu lado, que venha. Será bem acolhidx, sempre. E, se quiser ir embora, eu vou entender. Eventualmente. Sem ressentimentos, sempre.

Eu não quero - nunca mais - remédios. E eu não quero creditar a ninguém o peso de ser eu, porque esse fardo-fado é só meu. "A existência precede a essência", e, se eu me tornei isso, eu também posso lutar para reverter o que sinto como bola & corrente na construção do meu futuro.

Eu não quero ser uma sombra do meu passado, e não quero ser uma sobrevivente exausta que se sente constantemente quebrada de um jeito irrecuperável. Eu não sou um copo quebrado grudado grosseiramente com Superbonder - eu sou uma pessoa cujas cicatrizes existem, contudo, não precisam só doer e sangrar. Não precisam ser contempladas com auto-piedade. Podem só ficar lá, talvez. Podem sumir com o tempo.

Eu ainda tenho muitos livros para ler. Ainda tenho muitos textos e quadrinhos para ler. Eu ainda tenho muitas comidas a cozinhar, muitos doces a fazer com amor. Eu ainda tenho muitas conversas a conversar e muitos sorrisos a trocar. Eu ainda tenho muitas gentilezas com estranhxs a trocar. Eu ainda tenho muito carinho a fazer em meus gatxs, talvez outrxs gatxs a adotar. Eu ainda tenho muito bem a realizar. Eu ainda tenho muita indignação a ser convertida em luta por quem tem menos voz do que eu. Eu ainda tenho meu pai a conhecer. Eu ainda tenho lágrimas a chorar, e eu ainda tenho de deixar certas dores irem embora. E viver é exatamente isso. É um processo.

Eu não estou decidida a viver porque estou escandalosamente feliz por algum acontecimento. Eu não estou prometendo nada, aliás. Eu estou decidida a continuar tentando porque acho que nesse processo de dor-desconstrução-reconstrução-aprendizado-experiências-amores-saudades-ausências-transitoriedade-recomeços-hiatos ainda existe muita coisa inexplorada.

E sempre vai haver. O desconhecido não vai ser sempre um consolo, e haverá dias em que a consciência de que essas partes ruins são inerentes ao processo me deixará péssima. Todavia, como disse ela, "Quando chegar ao limite, se segure só mais um pouco."


Tem funcionado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Amar e só

talvez o mais importante no amor
não seja a existência de reciprocidade
e sim o que fazer do sentimento
também não é sobre mergulhar de cabeça ou fugir
e sim sobre permitir a ele curar
deixá-lo preencher seu ser
como um bálsamo em feridas antigas
deixá-lo transformar e melhorar quem se é
inspirar-se em crescer e cuidar

então talvez esteja tudo bem em ser unilateral
porque viver e celebrar o amor talvez seja
bem mais do que precisar ser amado
talvez só amar já baste, se é sincero.

domingo, 2 de junho de 2013

As horas

comecei a escrever poemas porque o amava
procurei terapia porque o amava
obriguei-me a continuar viva porque o amava
e de um jeito ou outro isso permanece
isso se segue
quantos amores tem um saldo tão imensamente positivo?

há a hora de chorar a dor da saudade
e da possível impossibilidade
e há a hora da gratidão absoluta pelo privilégio de ter vivido tudo que vivi
sentido tudo que senti
amado como amei
ter sido amada como por 17 anos sonhei
o timing foi errado sob certos ângulos
e perfeito de outros
há a hora de chorar por talvez não poder continuar
e há a hora de sentir-se abençoada por ter tido a honra de tentar

e no final o amor que você pega nem sempre é igual ao amor que você fabrica
e isso não importa
nem todo amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura, com todo respeito, Guimarães Rosa
mas se sincero já é muita coisa
se usado pra tentar fazer o bem já é muita coisa
e se salvou alguém já foi muita coisa
se valeu estar viva, já foi mais do que qualquer coisa.


sábado, 1 de junho de 2013

Imperfeito

- Não podia ter sido diferente.
- Sempre pode.
- Desculpa.
- Nunca culpei.


Mikko Kuorinki