segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Ponto

Pegou a folha de dias de trabalho. Colocou na máquina, que a preencheu: 22:01.
- Vocês deveriam ficar juntos. Você gosta tanto dele!
- Também acho.

Sorriu.

domingo, 22 de dezembro de 2013

compromisso

há algo nele
que nem minha habilidade com as palavras poderia transpôr
tento
como mero exercício da poética
como honesta tentativa da exaltação do que vem do alto

o que vem do altíssimo
reconheço sem hesitação
as dádivas que couberam a mim
me comprometo a honrar com devoção

se Deus é amor
estou cheia de Sua presença
se Deus é compaixão
me firmo no eterno compromisso de exercê-la
dia após dia
enquanto me for permitido

não vim para este plano à toa
se missão ou expiação só saberei na hora certa
mas dessa existência, que eu faça bom uso

a divina presença
não é para uns poucos escolhidos
meu Deus é o que quer que todos seus filhos sejam livres e felizes
sem cessar
farei o que for possível
da parte que me cabe

que eu seja luz
como foram pra mim
que tudo que brilha
seja real.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

loud like love

can you imagine
a love that is so proud
it never to question why or how

and neither do i
the right kind of love
won't hurt you
instead it'll set you free
love is not ball and chain

love is freedom
love is the wings that hold the divine

tender is the ghost
the ghost i love the most

i don't know if it is possible to show
how grateful i am to him
for helping me to live at the worst days and everything

i don't know if is it really necessary, either
he knows
i love him
as my whole soul
love his whole body
i love his own atma
i love him completely
and i don't need him to love me
i don't need him to save me
i am my own savior
nowadays i fight my own battles
and i win
everyday
i'm a winner

i don't need him
i just want him
to be my partner in crime
to laugh and smile by my side
i want to give him my happiness and my strength

i was just wondering if you'd come along
hold up my head when my head won't hold on
i'll do the same if the same's what you want
buf if not, i'll go
i will go alone

don't need him to save me
just want to be his lover

mostly
i do want him to be as happy
and as free
as myself
i want him to smile by the grace of God
and i want him to chase a path that makes him proud

love
means freedom
love's no ball and chain
love is wings
and i'm happy to fly
this time
i'm not gonna falling down
'cause love gave me  wings
falling down only happens because of the wrong kind of attachment

Buddha is wiser than most of us
but i think i can learn to fly too

and i'm flying
tonight i am no moth
i'm a butterfly
and i bring changes
not death
this time.

domingo, 15 de dezembro de 2013

eu sou, eu sou amor

hoje é um dos dias
em que meu coração transborda de amor
pelas pessoas
pelas obras
pelas artes
pela culinária
pela liberdade
pela capacidade humana infinita
de recriar-se

hoje é um dos dias
em que meu coração transborda de amor
amor do tipo certo
que não dói nem aperta
e muito menos pesa
amor do tipo que liberta
asas das que enlevam e elevam

hoje é um dos dias
em que meu coração transborda de amor
e aqui só nesse quarto com meus sonhos
meus doces
meus livros
minha bagunça
eu celebro
a vida
e  Deus
que a deu a mim.

sábado, 14 de dezembro de 2013

à Lucia

Lucia gosta do que vê por aqui
Lucia vem de luz
assim como lucidez

lucidez que tanto prezo
e tanto temi perder
mas as luzes sempre vêm
exatamente quando tem de vir
porque Saturno é inexorável
em apressar o que ainda não convém

mas Lucia é de peixes
e Júpiter é benévolo
e grandioso
generoso
como o amor
que flui.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

screwdriver

tightening screws
cleaning up my room
enlightening my shadows

i don't want to suffer
what i learn from pain
can be learned from things that does not ache too

when i see something very beautiful and very bright
i want to give it to him as a gift
still scares me, though
the thought that he could think it was inappropriate

my love's not inappropriate
so why am i still scared?
why does it hurt me so much
not to know if i can express my deepest of truth
or if i may sound just silly and unwanted

when i am sure that i am loved at my fullest
all this fear will fade away
while things sometimes are blurry
i'll wait
till i undestand

("if you love
i will love
till my last breath"
but if you don't
my path will shine
too.)

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

piece of land

you're my country
you're my favourite piece of land
warm and safe as God's place
we are from the same planet
it must be a very wonderful place
full of flowers and kindness
full of lovers and candles
full of truth and beauty
and truth is beautiful
and you are as beautiful
as the truth is
my love is everlasting
I don't know if yours will be
I don't care either

I write about you
I dream about you
I feel about you
what poets do feel about the ones they love

you can always take your time
there's no strings attached
you can always say "this is not what I was looking for
so sorry
bye"
I'll smile
(in a while)
and understand

you can always take your time
choice is up to you
I won't force you and I won't blame you
I'll always love you, instead
the kind of love that not only poets
but also prophets describe
and when you see something so inspiring
everything will fall into place
because I love you
I'll never be afraid.

inteiros

hoje posso amá-lo por inteiro
sendo inteira
pois sobrevivi


no caminho do sublime

deus me guia
e ilumina
o grande espírito me firma
pachamama me orienta ao sublime
mamãe oxum me sopra o caminho
mãe lua lança luz sobre meus desígnios
natureza reenergiza meu ser renascente

tudo que é bom
que vive
que vibra
que encanta
está no universo
está aqui dentro
e está em quem eu amo.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

love should lead to heaven
as well

love's not painful and love's not hell
"hell is asking to be loved"
but love is not about to ask
is about to give
and celebrate

even
in
silence

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Deus sabe o que faz
e eu sei que faço o meu melhor.

obaluaê

da morte você entende
e apesar de filha de Oxum, eu também
dos mortos, entendemos
cada um de nós entende
uma esfera diferente

de velhice você entende
e da cura, também
do amor eu entendo
e de cuidar, também

*

de ir embora eu não entendo não
mas tem coisas que só se aprendem sob pressão.


sexta-feira, 29 de novembro de 2013

193 dias

193 dias depois
tudo mudou
mas o amor ainda não foi embora
se instalou na cadeira de balanço da sala
um velho moribundo fumando cachimbo
e já cogita até ir na justiça pedir usucapião
daquela parte minha que parece pertencê-lo
daquela parte minha que parece que nunca será minha de novo
daquela parte minha que entreguei a alguém que a deixou do lado de fora de casa
na escada
ao relento pegando chuva
pegando pneumonia
pegando tristeza

e se o amor entrar na justiça com usucapião sobre mim
eu entro com reintegração de posse
a cura é um processo lento
mas a justiça chega
nem que seja no meu último suspiro
tudo fará sentido.


exílio saturnino

acorda, levanta
prepara café tropeiro
só pra não ter de comprar filtro

café quente
como o calor
de alguém que foi embora há seis meses atrás

quente pra aquecer a alma
que não obstante não se contenta
não se engana
clama por ele
e ele não está


mudei de casa
mudei de cidade
mudei de vida
mudei de opiniões
mudei até de crença

não mudei no amor
infelizmente?
ou não

se existir um significado por trás disso tudo
se houver aprendizado apesar disso tudo
que venha
logo
porque Saturno, senhor do tempo
já me exilou demais.

For Jane

225 days under grass
and you know more than I.
they have long taken your blood,
you are a dry stick in a basket.
is this how it works?
in this room
the hours of love
still make shadows.

when you left
you took almost
everything.
I kneel in the nights
before tigers
that will not let me be.

what you were
will not happen again.
the tigers have found me
and I do not care.

(Bukowski)

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

mitologia grega

Orfeu desceu até os infernos para buscar sua amada Eurídice
se necessário
eu também iria
sem hesitar

já fui Perséfone
mas cansei das trevas
agora ajudo Deméter a manter a terra fértil
e deixo os ciclos se alternarem

não mais Cassandra
profetizando a própria desgraça
não mais Psique
rastejando aos pés da deusa, humilhada
não mais Ifigênia imolada
não mais os karmas dos Átridas

Cronos devora tudo
mas dessa vez aferrei-me ao que é imortal
não temo mais

e qual é a deusa grega para a felicidade?
qual é a deusa grega para o amor que vibra com a vida, e não dói?
os gregos entendiam muito de tragédias
cansei-me delas
quero paz

encontrei.

and in the end

the love you take
isn't equal to the love you make

but in the end
the love you made
was enough in itself

and in the end
i don't want to cry a single tear anymore
i don't want to die this time
i don't want to kill my body
and I don't want to leave right now
I want to hold myself really tight
and every piece that fell down
actually fell into place
I'll be fine
eventually
I'll dance with the fire
and I'll be warm and safe
by the grace of a God
that wants me to be happy as well.

lua é uma forma definitiva de amar um pássaro azul

se calas teu pássaro azul
de tal forma que ninguém pode ouvi-lo cantar
a lua é uma forma definitiva de amá-lo
a lua é uma forma definitiva de amar um pássaro azul
largou as cinzas e o álcool que o sufocavam
mas artifícios outros ainda persistem
e a lua entende
lânguida e pálida
compassiva, de longe
entende
e sente
muito.

not meant to be

falling in love
does not mean to work out
does not mean "made for each other"
and even fall in love in another universe
does not mean
coexist.

domingo, 24 de novembro de 2013

sarça ardente

eu sou a sarça ardente
e digo: eis me aqui, para a graça de ti
queimo mas não me consumo
consumo o ato da propagação da vida

eu sou a fênix
e queimo, mas permaneço
não pereço
se não para continuar
a amar

"o fogo refina tudo"
o fogo purifica tudo
e o fogo arde
mas não precisa doer

deixar doer é uma escolha
que já não faço mais.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Filha da floresta e do astral

somos filhos da floresta
somos filhos do astral
somos filhos de Deus
temporariamente feitos de carne
e eu te amo porque você vibra com a vida

cada um trabalha a seu modo
cada um trabalha como pode
e eu trabalho com amor
essa é minha canção
esse é meu hino
e canto com força
e canto com a Força
e eu sinto fluir e eu sinto vibrar
o poder de Deus
eu sinto e creio
e me firmo na graça da divina mãe

eu rezo com a firmeza
de quem sabe que a verdade é o caminho mais sublime
eu não vou correr e não vou fugir
eis-me aqui, mãe
faça de mim o uso que a terra precisar.
como poderia eu me envergonhar
de um amor que é um dom de Deus?

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

moon

lua crescente
lua crescendo
lua sorrindo

"i'm the moon and i can give you
everything if you want me to
from the skies i watch over you
don't be blind, i will help you

i'm the moon
in the sky just follow the blue light"

lua de fases
lua de ciclos
lua da mãe
lua da deusa
lua da terra
lua dos benefícios de Baudelaire

lua em câncer domiciliada
lua na casa 9
lua como apoio espiritual
lua como amor cálido

lua como minha face pálida
lua como a antiga criança melancólica
lua como o etéreo
lua como como a leveza
lua como a pureza de ser.

Sobre encontrar-se

Não se apaixone para mergulhar no outro a fim de esquecer quem você é, buscando não encarar o que você teme. Mergulhe em si, ame o que está dentro e então mergulhe no outro pra viajar de mãos dadas.
Dissolva-se no outro, mas sem perder sua essência. Dissolva-se no abraço, embriague-se com o cheiro. Segure as mãos, suspire, seja. Sinta o milagre de cada batida no coração, a vida pulsante, o sangue irrigando cada parte do seu corpo. Apaixone-se pelo milagre da vida que você é. Ame-se e seja gentil consigo mesme. Respeite sua intuição, seu passado, aprenda com suas falhas. Seja firme na hora de decidir melhorar. Não ceda à  imobilidade do "é tão difícil". Cada dia repetindo que é difícil é um dia a menos sendo livre e feliz. 
O apego vem da noção ilusória de que as coisas devem ser perenes. Não são. Este é um mundo de transitoriedade, e ela não torna algo menos real. As coisas valem na medida em que existem, e cabe a nós ressignificá-las de um jeito que não doam. Somos responsáveis por nos tornarmos quem queremos ser. 
E ao final de tudo isso, ao final dessa busca, da jornada individual na busca de si mesme, de progredir, de fazer o bem, de viver a verdade, acordar e dormir sentindo-se perfeitamente feliz na própria pele é um presente do universo que todos merecemos encontrar.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

devoção

amar de verdade
é uma lição de devoção
daquelas só verdadeiramente aprendidas se vividas.

não o quero para mim como propriedade
quero-o como fagulha flamejante de vida pulsante
quero-o como cria do universo
quero-o para ele próprio
e se assim se vendo refletido e gostando do que vê
talvez  lembrar de mim
estarei aqui
com a paciência dos que amam
não por medo
nem capricho ou vaidade
não para fugir e se esconder
mas a paciência dos que amam com a virtude do amor
que basta em si mesmo
que se preenche por si só
que nutre por estar lá
e sempre
sempre
sempre vai estar.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

everlasting

you'll live forever in my poems
we'll live forever by the grace of God

après vie

mon amour, mon coeur
mon âme soeur

après vie, além-vida
eu sou a fênix que ressurge intata do meio das cinzas do que me mata
somos espíritos com potencialidades infinitas
muito melhor utilizadas para se recriar
do que para se destruir

cada coisa que amamos de todo coração
é um reduto de força e poder de criação
cada prece em nome do bem
é ouvida com carinho pelas forças que emanam do ser
do além-ser

além-vida, além-mar
mar adentro, vida afora
vida escorrendo pelos poros
vida tangível e alma intangível
para o tato
não aqui dentro
aqui dentro flui

minha criança índigo preferida
meu caleidoscópio do infinito.

sábado, 2 de novembro de 2013

o fim

firmei a promessa no astral
e vou zelar por ele a vida inteira
sou uma boa filha da floresta
obediente e disciplinada
cheia de amor e de fé
sempre vou amar e proteger
sempre vou interceder e socorrer

mas hoje eu deixei ir.
vá com Deus.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

que seja doce

eu me apaixonei
por ele inteiro
inteirinho

mas hoje sei
que também me apaixonei
sem saber
pela fagulha divina contida nele
há alguma em todos
nós

aquela, em específico
foi a que mais me cativou
na minha vida inteira

há uma doçura resiliente
que insiste em habitar meu peito
inutilmente tentei expulsá-la
porém hoje vejo que não há necessidade disso
o amor vai embora
quando e se for a hora

até lá, não precisa doer
pode apenas ser
ser quente
ser gentil
ser doce

"que seja doce", eu escrevi
1 de maio de 2012
"e que seja real. Só isso."

foi
tem sido
é
e só.
"If I never see you again
I will always carry you
inside
outside

on my fingertips
and at brain edges
and in centers
centers
of what I am of
what remains."
- Charles Bukowski

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Crônica de uma manhã

Luiza acordou e fez seu despertador parar. Espreguiçou-se. Espreguiçou mas continuou com preguiça. Contudo, tinha de levantar. Levantou. Preparou um café tropeiro - sem coar, o que deixa o café mais forte e não suja filtro, uma beleza só.

Preparou um sanduíche e colocou umas músicas para tocar.

Aceitar as coisas como eram sempre havia se constituído como um grande desafio para Luiza. Era inconformada. Isso poderia ser bastante benéfico quando bem direcionado, como por exemplo, contra injustiças sociais, ou para combater a própria inércia frente a algumas coisas. No entanto, voltava-se contra ela quando ela não conseguia aceitar fatos da vida que ela não tinha condição de alterar. Como seu passado. Ou os sentimentos dos outros. Neste caso, ela simplesmente se sentia muito frustrada. E isso podia ser um veneno.

Luiza estava começando a perceber isso, e a consciência de que absolutamente tudo era transitório começou a trazer mais leveza para sua vida. Enquanto tomava o café, quente, preto, mais forte do que fraco, mas adoçado, sorriu, sozinha. As circunstâncias materiais pouco tinham mudado, todavia, já não doía mais. Quando as mágoas, a saudade, a dor, o luto, a melancolia, os pesos, bateram na porta de sua alma naquela manhã e pediram permissão para irem embora, ela concedeu. Acenou adeus sem odiá-los, mas os compreendendo como parte do seu processo de aprendizado, de auto-conhecimento, de descoberta, de sobrevivência. Fizeram parte dela, sim, porém, sua hora já havia se esgotado. Abraçou uma última vez sua mágoa, a mágoa olhou para ela, sorriram, a mágoa pegou sua mala rasgada e remendada de traumas, e foi embora.

Naquele café da manhã, quem fez companhia pra ela foi ela própria. Uma ótima companheira. Não havia necessidade de sofrer mais. Ela não estava incompleta.

Fechou os olhos e saboreou o café. Quente. Combinava com sua alma aquecida pelo amor a humanidade. Sem doer mais. Ela não precisava desapropriar as dores do seu coração, chamar a PM para tirá-las de lá, as dores eram vândalas do bem, estavam ocupando e resistindo porque precisavam. Mas iriam embora quando fosse a hora. A hora havia chegado. Foram.

E a plenitude a preencheu.

brave


i am as brave as a lion
i am as brave as someone touched by the goddess
i am as alive as an undying soul
and i do know
everything will fall into place
eventually

what comes is better than what came before.

in the arms of sleep

às vezes eu sonho
com aquelas coisas que eu queria
e que por ora não estão em minhas mãos

que eu aceite as condições

de um jeito ou outro, terei paz

seja

não tema
não tema
não há trevas
que não possam ser agraciadas com a luz

não tema
seja
não tema
porque o medo paralisa
e a vida é movimento

não tema
vença
cresça
deixe florescer
permita-se curar
e ao alcançar a paz
não limite-a para si
espalhe
acolha
enriqueça
a vida alheia

seja gentil consigo mesme
seja um companheire leal a si
cuide-se e respeite seu corpo

do fundo do poço
é que se tem o maior impulso para emergir
o caos ancestral que se sente
é o mais fértil terreno para cultivar sua mente
o que parece inóspito e hostil
é uma oportunidade escondida
a crise é uma chance disfarçada
de reinventar sua estrada
quantas vezes forem necessárias
até que se orgulhe do que está atrás, durante e adiante

não tema
porque o peso que parece vergar seus ombros
não será pesado o bastante para te fazer tombar
não ceda ao abismo
não escolha o precipício
creia
sinta
siga
seja.

"Quando te vi amei-te já muito antes

Tornei a achar-te quando te encontrei."
- Fernando pessoa

sábado, 26 de outubro de 2013

deus é o silêncio e o som

uma vez vi um filme
que pertencia a uma trilogia
sobre "o silêncio de deus"
amei o filme
e me impactou

mas hoje vejo
que deus não é silencioso
por inexistir
ou por sadismo

deus está em cada batida do coração
deus está nos sons que não ouvimos
deus está no vento que sopra e na natureza que cria
deus está na morte e na vida
deus está na dor e na perda
deus está no amor
acima de tudo
deus está no amor

se deus parece silencioso
talvez seja porque precisa ser assim
ou talvez seja
porque não estás prestando atenção o suficiente

a palavra deus para mim é apenas uma metáfora
para  a multiplicidade de coisas que existem
não acredito num único caminho correto que invalide todos os outros
somos 7 bilhões de almas
somos 7 bilhões de questões
somos 7 bilhões de formas de crer
somos 7 bilhões de formas de amar

quando eu era agnóstica escrevi mais de uma vez
que eu o amava tanto que queria que deus existisse
somente para pedir
que ele o protegesse
hoje sei que existe
e sinto-me grata
e peço que o proteja e guie e ilumine os caminhos
peço que lhe ampare nos tropeços e fraquejos
peço que seja a força necessária
para reparar os erros
para combater os medos
para que todos os pesos esmaeçam 
para que a leveza se torne
constante em sua vida
para que a beleza roube todo o espaço
para que cada dia pareça uma bênção
como a bênção que é
sua existência.

Smashing Pupkins - Muzzle

"I know that I am meant for this world
And in my mind as I was floating
Far above the clouds
Some children laughed I'd fall for certain
For thinking that I'd last forever
But I knew exactly where I was
And I knew the meaning of it all
And I knew the distance to the sun
And I knew the echo that is love
And I knew the secrets in your spires
And I knew the emptiness of youth
And I knew the solitude of heart
And I knew the murmurs of the soul
And the world is drawn into your hands
And the world is etched upon your heart
And the world so hard to understand
Is the world your can't live without
And I knew the silence of the world"

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Para Eny

garota ruiva da alma gentil,
que seus dias lhe tragam a glória que você merece
que seu otimismo floresça num terreno fértil
e que sejam fecundos teus sonhos

que tudo que passou de ruim revele sua natureza transitória
e vá embora
que seu caminho se abra
que deuses e deusas guiem sua estrada
que haja quem te ampare quando os pés ficarem cansados
e um colo caso haja pranto amargo

que você seja simplesmente feliz,
com tudo o que merece
sem migalhas e sem mágoas

que o futuro ainda não desbravado
mostre-se muito mais do que você esperava
muito mais do que sonhou
que te deixe estupefata
de tanta felicidade
da serena tranquilidade
de ser sem doer.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

keep the things you forgot

"keep you apart
deep in my heart
separate from the rest
where I like you the best
and keep the things you forgot"

i do keep everything you forgot.

sobre seguir

amor
não é um contrato
ou um laço
tampouco garantia de eternidade
ou de cumplicidade

meu sentimento basta em si mesmo
eu sinto até esgotar
eu sinto até me esgotar

e depois de dar tudo de mim
cada célula
cada partezinha da minha devoção
resta eu mesma

e eu mesma
sou suficientemente boa
suficientemente forte
e totalmente inteira
para ser minha própria companheira

não devo ansiar pelo retorno
pois não preciso me preparar para ele
se um dia acontecer
basta desfrutar
e viver
e celebrar

preciso mesmo é me preparar
caso nunca aconteça
a vida não pára
e tenho um compromisso muito sério com o mundo
para só esperar passar

meu caminho é bonito
e nem precisa ser tão difícil
a companhia dele seria bem-vinda
mas já consigo caminhar sobre meus pés
um após o outro
desviando dos espinhos
parando pra descansar um pouquinho
respirando fundo e agradecendo a deusa
por me abençoar

hoje vou seguir
mas peço a ela
que o abençoe também.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

To Elliott Smith

sorrow
won't kill me
i won't let it
ever

sorrow
may hurt me
but i am my own savior

sorrow
can be poetry
can leave my body
and become a song

sorrow
is known by me for so long
it won't made me scared
it's kind of "oh you again?
you're not welcome
but take a sit
I'm listening to some Elliott Smith"

and it would say
"really?
are you listening to King's Crossing?"

"perhaps
but I won't kill myself
I'm a huge Elliott's fan
and I do feel his pain
but I won't kill myself
instead
I'll try to make some music
about living
and loving
and caring
and facing troubles
and letting go
and maybe about death
and pain
but I won't kill myself
no one deserves to suicide
and neither do I
or Elliott

dear Elliott,
I hope you have reached
what you seek
through the years
I hope you're not aching
anymore
thanks for all the beauty you left in the world.

soledad

eu sinto saudade
das madrugadas
não das difíceis
das bonitas
das com conversas
risadas
a intimidade mais sagrada
o carinho e a delicadeza e o toque
os filmes
o amor
os gatos
o deck
a delicadeza
o cuidado
eu sinto saudade
dos olhos
da curva dos olhos
das pálpebras
da íris escura
dos zigomas
da boca
dos lábios
do cabelo
do cheiro do cabelo
do pescoço
do sorriso
dos olhos e dos olhares
das mãos
dos braços
dos ombros
do tronco
das pernas
de cada curva do corpo
de cada sutileza do gosto
sinto falta de poder te chamar de meu amor
sinto falta do sorriso que eu recebia quando nos encontrávamos
como se minha existência te fosse tão preciosa 
sinto falta de olhos carinhosos
sinto falta da voz
sinto falta de tudo
sinto falta
e é isto.

aquela parte do meu coração
anseia pelo retorno
essa parte talvez anseie sem nunca se satisfazer
nem sempre essa parte machuca
às vezes ela só existe

hoje tá difícil.


o corvo

Era uma vez um corvo. O corvo gostava de pegar coisas brilhantes e levá-las para seu ninho. Joias, pedaços de alumínio. Devia ser um corvo libriano. O corvo era um corvo, não uma pessoa, então ele nunca mensurou o que escolhia por seu valor monetário, e sim pelo quanto brilhava. Um cordão de ouro esquecido no banco de um parque ou um papel prateado de maço de cigarro eram para ele igualmente belos. E a beleza bastava. Não havia necessidade de ser útil, só de brilhar.

Era uma vez uma mulher. Ela se chamava Samantha. Ela era apaixonada por um amigo. Ele sabia, mas não correspondia. Samantha, à sua maneira, catava coisas brilhantes para levar para ele. Fragmentos de textos que ela achava bonitos. Músicas, daquelas suavemente melancólicas. Comidas, situações engraçadas. Seu amigo gostava de quase tudo, e sabia que ela se esforçava. Às vezes ficava constrangido com isso, porém, nunca pediu para ela parar. Sabia que era importante para ela. E sabia que ela se contentava em oferecer a ele o que ela achava digno de ser compartilhado.

Um dia, o corvo engoliu um anel de lata de cerveja. Samantha estava indo para casa e o viu convulsionando no chão. O corvo havia ficado interessado por aquilo, prateado, mas opaco. O corvo nem sabia que aquilo era considerado lixo, resto, e menos ainda que pessoas que também não eram consideradas muita coisa pela maior parte da sociedade catavam aquilo para seu sustento. O lixo de uns era o sustento de outros. O lixo de uns era a beleza no ninho de outros.

Porém, o corvo não teorizou isso tudo. Ele apenas pegou com o bico aquele anel de lata de cerveja. Na mesma hora, um adolescente jogou uma pedra em sua direção. O corvo ficou assustado e engoliu o anel.

Quando Samantha viu o corvo no chão, convulsionando, não soube o que fazer. Tentou pegá-lo nas mãos e pegou um táxi para um veterinário. O corvo já quase não era mais. No calor das mãos de uma moça gentil, o corvo emitiu um som baixo, como de quem descansa, e morreu.

Samantha chorou, e não entendeu porquê. Era só um corvo, ou não. Chegou em casa e o enterrou. À noite, chorou mais um pouco. As pequenas perdas às vezes são metáforas das grandes. O que importava era tudo que brilhava enquanto podia brilhar.


segunda-feira, 21 de outubro de 2013

freedom

once i was a mountain of sadness
an ocean of sadness
once i was sadness itself

once i couldn't stand myself
the girl in the mirror was someone i would kill
once pain was so overwhelming
i couldn't recognize myself

to be happy is to be free
to be myself
and to tell the girl in the mirror
she is fine the way she is

once i ran against the wind
and it blew in my ear
"you don't need to hurt yourself
in order to fit in a world
that you think wasn't made for you

this world is also yours
and so is the universe
you don't need to kill yourself
in order to be free
your body is not a burden
and your life is not a mistake"

once i took a cup of wisdom
and i knew that i could be useful
mother nature will show me how.

domingo, 20 de outubro de 2013

de alma a alma

eu o amo por todas as razões racionais
que aqui poderia listar
(algumas -
são tantas)
amo porque me fez bem
amo porque me amou
amo porque cuidou de mim
amo porque é lindo
amo porque é correto
amo porque é sobrevivente
daqueles que não se deixaram corromper

mas amo também
por aquilo
que não consigo descrever
amo por aquela parte imaterial
que não dialogou com meu racional
e sim de alma pra alma
eu vi a sua
e me apaixonei
e o que vi de abismo
não me assustou
eu não fugi
eu não temi
eu não pedi arrego

o que tiver de difícil
eu encaro
o que tiver de pesado
eu ofereço meus ombros para ajudar com o fardo
o que tiver de escuro
eu tenho luz o bastante para iluminar
o que tiver de profundo
não é mais profundo do que meu amor
e minha força para dissipar

não preciso de laço firmado
e tampouco de reciprocidade
preciso só que receba
a força de cada palavra
que senti que deveria estar aqui.

sábado, 19 de outubro de 2013

real deal

just like as they say in fake plastic trees
you look and taste like the real thing

but you are not a fake plastic love
you're my love
and you're the real deal

this is why i can't be with anyone else but you
as long as i still love you like i do
i can't pretend someone else is other than wrong

you're the real deal
and you're my favoite thing
even though you're not a thing
you're my new deal
even though you're not mine

but for sure
you're my love
you're the one i love
you're the one i dream about
you're the one i love
you're the one that awake my soul
you're the one that made me shine
and i'm shining, sweetheart

i wish you were here to see me shine
and maybe
you would fall in love in with me
one more time

but you're not here
and even if you were
things are not that simple

but at least
you made me a poet
you made me a lover
you made me a living one

maybe someday my love will vanish
maybe not
thing is
i'm fine
and i'm gonna give every cell of mine
for you to be fine too
you don't need to love me
you don't need to thank me
you only need to keep on living
and shining
too.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

rainha

quando escrevo sou rainha
de um império imaterial

aqui nesse feudo
nesse reino
nesse pedaço
crio e recrio
a meu bel prazer

eu poderia escrever infâmias
e vilezas
ou sutilezas
eu poderia fazer rimas pobres
aliterações
versos livres e brancos
ou livres e negros
versas livres e negras

eu poderia criar uma personagem
com tudo que eu não sou
(sempre há
algo de autobiográfico
na escrita
nem que seja pra se inspirar e fazer tudo ao contrário)

eu poderia reescrever mil vezes
ou deixar a palavra fluir quase sem pensar
sem refrear
inspiração bruta
ou não

eu poderia escrever uma história
sobre uma menina perfeitamente bem ajustada
que estaria a essa hora dormindo para ser produtiva
em vez de ruminar e escrever
fingindo que não tem louça a lavar

e eu poderia nesse império escrito em que sou rainha
entregar minha coroa
celebrar a anarquia
descer do pedestal
e dançar
a beleza
das coisas
que simplesmente
são.

gosto das palavras
pela ilusão de que as controlo.

existência bonita

às vezes eu quero chorar de saudade
mas me esforço
pra sorrir
porque você existe

e isso é de fato algo pra se sorrir bastante

você é tão bonito
quanto a vida

e eu amo você
com as melhores partes de mim

a sua existência nesse corpo, bem como a minha, um dia cessará
mas esses versos são imortais
talvez um dia daqui a décadas ainda haja alguém pra achá-los casualmente
e pensar
"poxa
eis algo
que apesar de tudo
sempre foi
de verdade"

a vida

O que eu adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que existe
A beleza é um conceito
E a beleza é triste
Não é triste em si
Mas pelo que há nela
De fragilidade e incerteza

O que eu adoro em ti
Não é a tua inteligência
Não é o teu espírito sutil
Tão ágil e tão luminoso
Ave solta no céu matinal da montanha
Nem é a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti
Não é a tua graça musical
Sucessiva e renovada a cada momento
Graça aérea como teu próprio momento
Graça que perturba e que satisfaz

O que eu adoro em ti
Não é a mãe que já perdi
E nem meu pai

O que eu adoro em tua natureza
Não é o profundo instinto matinal
Em teu flanco aberto como uma ferida
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti lastima-me e consola-me:
O que eu adoro em ti é a vida!


- Manuel Bandeira

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

haikai de inverno

o nome é pura fanfarronice
não tenho a elegância sintética dos japoneses
o ethos do meu país é a angústia adolescente

maio/2012

o amor dele
salvou minha vida
hoje vivo sem
consigo viver sem
mas só cheguei nesse ponto
porque em maio tive alguém pra me fazer sorrir
tive alguém pra me abraçar e se preocupar comigo
tive alguém que respeitou minha dor
tive alguém que teve paciência
tive só o melhor companheiro do mundo
é natural que eu sinta saudades
é esperado que eu sinta saudades
e eu
vou
superar
(espero)
mas nunca
vou
esquecer.

In a parallel universe

hoje andando sozinha
eu percebi
que Perfect do Depeche Mode
já não me dói
e sim consola

em algum universo paralelo
em alguma existência em algum plano
talvez estejamos juntos
de mãos dadas
dormindo
suas costas estreitas envolvidas pelos meus braços
sua pele macia ao alcance da minha
seus poros ao alcance dos meus olhos
seu cheiro bem perto de mim

em algum universo paralelo
o que durou um ano
talvez dure 50
em algum universo parelelo
aquilo de envelhecermos lado a lado e você me achando linda enrugada
talvez seja verdade
talvez tenha acontecido bem daquele jeito
ou de outro ainda melhor

em algum universo paralelo
em vez de eu sonhar com você todas as noites
eu acordo do seu lado
e sorrio
e te faço café da manhã

em algum universo paralelo
as coisas fazem sentido
embora nesse também façam
preferia que fizessem contigo ao meu lado

em algum universo paralelo
eu não te feri tanto
em algum universo paralelo
nada te faz não querer me amar
nada te refreia de confiar em mim

em algum universo paralelo
nossos corpos se unem
e eu choro de alegria
e sinto seu corpo junto ao meu
como a coisa mais viva e preciosa em que já toquei

em algum universo paralelo
talvez eu gerasse seus filhos
talvez fôssemos uma família
talvez fôssemos só eu e você
e os gatos
com certeza bastaria

em algum universo paralelo
as coisas não precisariam ser perfeitas
as coisas não precisariam ser exatas
me bastaria que as coisas apenas fossem
eu só queria estar contigo.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sobre Watchmen e ser feliz

Eu estou muito feliz por estar viva. Eu literalmente agradeço a Deus por isso várias vezes por dia. O engraçado é que isso é algo totalmente novo pra mim.

Eu tenho 19 anos. Eu sou bem jovem. Contudo, eu passei 18 anos sofrendo muito. Eu fui uma criança extremamente melancólica, eu tentei me matar pela primeira vez com 10 anos. E às vezes eu achava que meus problemas eram as circunstâncias desfavoráveis, em especial questões familiares. Muito pior foi quando comecei a achar que o problema estava em mim - que eu simplesmente tinha vindo a esse mundo quebrada de um jeito irrecuperável. E suicídio é uma ideia que faz muito sentido quando você acredita que é quebrada de um jeito irrecuperável.

Atualmente, eu me sinto, totalmente bem. Como disse a May F., aquela linda, "É como ser um bebê, fascinado com as próprias mãos e pés". É uma ótima definição. É delicioso mudar sua ótica sobre tudo. Redescobrir beleza em coisas pequenas e simples.

Na série de quadrinhos Watchmen (senta que lá vem spoiler), existe um personagem chamado Dr. Manhattan. Ele é um cientista que sofre um acidente no laboratório e se torna uma espécie de mutante com vários poderes. Ele tem um romance com uma moça, e após ela deixá-lo, por ele ser demasiadamente frio e inacessível, ele resolve ir embora da Terra.

Numa época muito péssima da minha vida, eu me identificava com o trecho que o Dr. Manhattan diz a sua ex companheira, quando ela vai vê-lo em Marte:
"Quando você me deixou, eu deixei a Terra. Isso não lhe diz nada?". Eu me identificava com esse trecho porque eu acreditava que com o rompimento de certos laços, eu não tinha mais o que fazer aqui. Eu queria partir da Terra, também.

Atualmente, eu me identifico é com outro trecho:
Dr. Manhattan: Milagres termodinâmicos… eventos tão improváveis que são impossíveis na prática, como oxigênio virar ouro espontaneamente. Eu quero muito observar algo assim. No entanto, em cada par humano, milhões de espermatozóides avançam rumo a um só óvulo. Multiplique as possibilidades por incontáveis gerações, junte à chance de seus ancestrais estarem vivos; de se encontrarem; de conceberem esse precioso filho; essa exata filha… Até mesmo sua mãe amar um homem que tinha todas as razões para odiar, e dessa união, das milhões de crianças competindo pela fertilização, foi você, apenas você que emergiu… extraindo uma forma específica desse caos de improbabilidades, como o ar se transformando em ouro… Isso é o pináculo do improvável. O milagre termodinâmico.  
Laurie: Mas… se eu, meu nascimento, se isso for um milagre termodinâmico… pode-se dizer o mesmo de qualquer pessoa no mundo!  
Dr. Manhattan: Sim. Qualquer pessoa no mundo. Mas o mundo é tão cheio de pessoas, tão repleto desses milagres que eles se tornam lugar comum e nós esquecemos… eu esqueci. Nós contemplamos continuamente o mundo e ele se torna opaco às nossas percepções. No entanto, encarado de um novo ponto de vista, ainda pode nos tirar o fôlego. Vamos… enxugue as lágrimas, porque você é vida, mais rara do que um quark e mais imprevisível do que qualquer sonho de Heisenberg; a argila na qual as forças que moldam a existência deixam as impressões digitais mais visíveis. Enxugue as lágrimas… e vamos para casa.

Eu tenho um milagre termodinâmico preferido, cuja mera lembrança me faz sorrir e querer continuar. Mas todes somos milagres.

É muito novo para mim enxergar a minha vida como preciosa, e não um fardo. É novo e lindo. Quando eu tomava antidepressivos, eu sentia que eles me davam uma paz artificial, como se nada pudesse me perturbar. E de fato, era artificial. Agora é real. Adversidades e vicissitudes virão, fazem parte da condição humana nessa fase de nossa existência. Porém, hoje sei que sou forte o bastante para enfrentar o que acontecer. Hoje sei que viver é possível e incrível. Hoje sei que quero continuar. Hoje sei que enquanto eu estiver aqui, eu posso evoluir e tentar fazer o máximo de bem possível para outres.

Estou muito feliz por estar viva.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

da arte da paciência

o amor vai embora
quando for a hora
a angústia eu combato
com um pouco mais de paciência
o receio eu combato
com a fé no meu futuro

eu suspiro e sonho
todas as noites
mas eventualmente
tudo irá pro seu devido lugar
em sentido mais amplo, meu lugar é o mundo
ainda bem que permaneci aqui

"they say that I'll recover my love for her once in a while
but I don't know, I don't think so"

eu ainda acho que não
mas já não me defino em função dessa ausência
ou das outras
eu sou inteira
mesmo com saudades.

dueto

eu sou muito boa em amar as pessoas
mas meu amor por você foi minha obra prima.

a espera

se eu te mostrar coisas bonitas
se eu mantiver meu coração puro
se eu ficar quieta
você sentiria minha falta?

sobre medos e amores

você ama alguém
ou uma projeção?
você ama o que está na sua frente
ou uma criação da sua mente?
você ama pra fugir da vida
ou celebrá-la?

você ama porque teme o abismo
ou porque sabe que amar é força para enfrentá-lo?
você ama com compaixão
ou você ama com vício e obsessão?
você ama enxergando quem você ama como um ser humano
com respeito pelas fraquezas, limitações, traumas, defeitos
ou você ama esperando salvação?
você ama alguém
ou você não ama a si?
você ama na transitoriedade do possível
ou esperando uma ilusória eternidade numa vida de vacuidade?

você tem amor
ou você tem medo?

sábado, 12 de outubro de 2013

verso solto

respeito teu silêncio como expressão de Deus.

not frightened of dying

"And I am not frightened of dying
any time will do, I don't mind
why should I be frightened of dying?
there's no reason for it
you've gotta go sometime."

and I am still not frightened of dying
now I know someday I will leave this body
but I won't leave life
only this life

I am not frightened of dying
but these days I don't want to die
anymore
I want to live
and rise and shine
I don't want to die
'cause I've got so much to do
I want to see people and places
I want to celebrate
and I want to build a better world
I want to hold the ones who are aching
I want to help
as much as I can
as long as I can

I don't want to die
but I am still not frightened of dying
now I know
there's much more
and I feel peace
and I feel safe and whole
in my own arms
even though
I still miss yours.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Vento

o vento vibra com a vida
a palavra fluida me escapa entre os dedos
lembro do seu cheiro e seus silêncios
lembro dos seus olhos escuros e seus braços

eu lembro como quem celebra o que teve
como quem sente na brisa um sopro do divino
como quem se sente agraciada
com a doce serenidade do universo
como quem se sente abençoada
com a paz da comunhão

eu caminho com Quíron em Escorpião
eu amo com a força ancestral da união

eu vivo com a vibração do desconhecido
eu sinto com o destemor dos que amam.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Calle 13 - La vuelta al mundo

No me regalen más libros
Por que no los leo
Lo que he aprendido
Es porque lo veo
Mientras más pasan los años
Me contradigo cuando pienso
El tiempo no me mueve,
Yo me muevo con el tiempo
Soy las ganas de vivir,
Las ganas de cruzar
Las ganas de conocer
Lo que hay después del mar
Yo espero que mi boca nunca se calle
También espero que las turbinas de este avión
Nunca me fallen
No tengo todo calculado,
Ni mi vida resuelta
Solo tengo una sonrisa
Y espero una de vuelta
Yo confío en el destino
Y en la marejada
Yo no creo en la iglesia
Pero creo en tu mirada
Tú eres el sol en mi cara
Cuando me levanta
Yo soy la vida que ya tengo
Tú eres la vida que me falta
Asi que agarra tu maleta,
El bulto, los motetes
El equipaje, tu valija,
La mochila con todos tus juguetes.
Y! Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
La renta, el sueldo,
El trabajo en la oficina
Lo cambié por las estrellas
Y por huertos de harina
Me escapé de la rutina
Para pilotear mi viaje
Por que el cubo en el que vivía
Se convirtió en paisaje
Yo! era un objeto
Esperando a ser ceniza
Un día decidí
Hacerle caso a la brisa
A irme resbalando detrás de tu camisa
No me convenció nadie
Me convenció tu sonrisa
Y me fui tras de ti
Persiguiendo mi instinto
Si quieres cambio verdadero
Pues, camina distinto
Voy escaparme hasta la constelación mas cercana
La suerte es mi oxigeno
Tus ojos son mi ventana
Quiero correr por siete lagos
En un mismo día
Sentir encima de mis muslos
El clima de tus nalgas frías
Llegar al tope de la tierra.
Abrasarme con las nubes
Sumergirme bajo el agua
Y ver como las burbujas suben
Y! Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Dame la mano
Y vamos a darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo
Darle la vuelta al mundo

terça-feira, 8 de outubro de 2013

só o amor salva

amor
é contemplar o abismo
é conseguir contemplar o abismo
é encarar o abismo
sem temer
sem correr
é tentar proteger
com tudo de si
é ver as trevas
e não deixá-las entrar
amor é enxergar a alma
na sua frente
como merecedora
de Deus
da salvação
da paz
da cura
amor é suportar a verdade
e descobrir a força
que nem se imaginava ter 
porque alguém pode precisar dela
amor é compaixão
delicadeza
e devoção
aceitar pacientemente as coisas como são
amor é querer não simplesmente para si
é te querer para o universo
livre
brilhante
fulgurante como um cometa
o rabo do cometa do divino
do sagrado
do etéreo
e do eterno.

sábado, 5 de outubro de 2013

salvai

mãe
ó mãe, ó mãe, ó mãe
salvai, salvai, salvai
iluminai os caminhos
guiai os desígnios
salvai, salvai, salvai
sob a proteção de Deus
amém.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Hoje foi um bom dia.

''Yesterday, I spent 60 dollars on groceries, took the bus home, carried both bags with two good arms back to my studio apartment and cooked myself dinner. You and I may have different definitions of a good day. This week, I paid my rent and my credit card bill, worked 60 hours between my two jobs, only saw the sun on my cigarette breaks and slept like a rock. Flossed in the morning, locked my door, and remembered to buy eggs. My mother is proud of me. It is not the kind of pride she brags about at the golf course. She doesn’t combat topics like, ”My daughter got into Yale” with, ”Oh yeah, my daughter remembered to buy eggs” But she is proud. See, she remembers what came before this. The weeks where I forgot how to use my muscles, how I would stay as silent as a thick fog for weeks. She thought each phone call from an unknown number was the notice of my suicide. These were the bad days. My life was a gift that I wanted to return. My head was a house of leaking faucets and burnt-out lightbulbs. Depression, is a good lover. So attentive; has this innate way of making everything about you. And it is easy to forget that your bedroom is not the world, That the dark shadows your pain casts is not mood-lighting. It is easier to stay in this abusive relationship than fix the problems it has created. Today, I slept in until 10, cleaned every dish I own, fought with the bank, took care of paperwork. You and I might have different definitions of adulthood. I don’t work for salary, I didn’t graduate from college, but I don’t speak for others anymore, and I don’t regret anything I can’t genuinely apologize for. And my mother is proud of me. I burned down a house of depression, I painted over murals of greyscale, and it was hard to rewrite my life into one I wanted to live But today, I want to live. I didn’t salivate over sharp knives, or envy the boy who tossed himself off the Brooklyn bridge. I just cleaned my bathroom, did the laundry, called my brother. Told him, “it was a good day.''

"Hoje, eu gastei 60 dólares em mantimentos, peguei ônibus para casa, carreguei ambas sacolas com dois bom braços de volta ao meu apartamento e cozinhei meu próprio jantar. Você e eu podemos ter diferentes definições do que é um bom dia. Essa semana, eu paguei meu aluguel e meu cartão de crédito, trabalhei 60 horas entre meus dois empregos, só vi o sol nas minhas pausas pro cigarro e dormi como uma pedra. Passei fio dental pela manhã, tranquei minha porta, e lembrei de comprar ovos. Minha mãe está orgulhosa de mim. Não é o tipo de orgulho que ela discorre sobre no trajeto de golf. Ela não combate assuntos como "Minha filha entrou em Yale" com "Ah sim, minha filha lembrou de comprar ovos.". Mas ela está orgulhosa. Veja, ela se lembra do que veio antes disso. As semanas nas quais eu esqueci como usar meus músculos, como eu fiquei silenciosa como uma neblina espessa por semanas. Ela achava que cada ligação de um número desconhecido era a notícia do meu suicídio. Esses foram os dias ruins. Minha vida era um presente que eu queria retornar. Minha cabeça era uma casa com torneiras vazando e luzes queimadas. Depressão é uma boa amante. Tão atenciosa; tem esse jeito nato de fazer tudo ser sobre você. E é fácil esquecer que seu quarto não é o mundo. Que a sombra escura que sua dor causa não é iluminadora de humor. E é mais fácil continuar nessa relação abusiva do que consertar os problemas que ela criou. Hoje, eu dormi até às 10, lavei cada louça que eu tenho, briguei com o banco, cuidei de papelada. Você e eu podemos ter diferentes definições de ser adulto. Eu não trabalho por salário, eu não graduei na faculdade, mas eu não falo mais pelos outros, e eu não me arrependo de nada que eu não possa genuinamente me desculpar por. E minha mãe está orgulhosa de mim. Eu pus abaixo uma casa de depressão, eu pintei em cima de murais em escalas de cinza, e é difícil reescrever minha vida em uma que eu queira viver. Mas hoje, eu quero viver. Eu não salivei por facas afiadas, ou invejei o garoto que se jogou da ponte de Brooklyn. Eu só limpei meu banheiro, lavei as roupas, liguei para meu irmão. E disse a ele: Hoje foi um bom dia."

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

imagens

escrevo para evocar imagens
minto; escrevo inicialmente para desfazer-me da dor
mas com sorte, gosto da catarse
de alguém ler estas palavras e sentir-se contemplada
escrevo porque sou uma desajustada
que quer fazer arte e poesia a partir da dor

me orgulho de meus êxitos
em todos os sentidos

o principal, sempre
é estar viva e íntegra.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

One of a kind

O tipo de amor que vale só por existir. Sem necessidade de cobranças, exigências, mesquinharias humanas. Só por existir.

O tipo de beijo no qual você não consegue pensar em mais nada; só sentir. Que parece uma droga por oferecer tantas nuances e sutilezas de sentimentos e sensações.

O tipo de amor em que olhar por horas alguém dormir não é uma hipérbole. Em que analisa-se cada poro, cada detalhe, mesmo os mínimos - eu o amo como uma virginiana.

O tipo de amor em que você tem vontade de agradecer ao Insondável pela pessoa existir. Que faz uma agnóstica desejar que exista algo além apenas para pedir a esse algo que proteja a pessoa amada. Que ilumine seus caminhos. O tipo de amor que faz você desejar que alguém jamais esteja só, imerso em sofrimento, que jamais alcance seu ponto de ruptura.

O tipo de amor que poderia ser resumido num querer-bem. Um querer-bem total, completo; muito mais espiritual, profundo e íntimo do que um mero querer para si.

Quero-o pra mim apenas na medida que isso for o que ele quiser, se quiser. Apenas se eu puder ser o que ele merece. Quero-o, em suma, na transitoriedade do possível. E na serenidade da aceitação do não-possível.

Querer bem a ele, porém, é para sempre. O tipo de amor que aquece seu coração com os sentimentos mais bonitos e elevados que uma alma humana pode ter.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

deixar ir

eu nunca quis
invadir o espaço
violentar a intimidade e os silêncios
quis só ajudar
e me ceguei na arrogância de achar que sabia o que estava fazendo

eu nunca quis
ser invasiva
e pediria perdão
mas acho que o melhor jeito de demonstrar que entendi meu erro
é não repeti-lo
e deixar ir

M de Márcia

M de Márcia querida, e não de morte
s de solidariedade
a solidariedade e o acolhimento entre almas que justifica a existência humana
o apoio mútuo que ampara na crise
a empatia que eleva o espírito
a risada compartilhada que embeleza o momento
e afasta o desespero
gentileza que salva
e amor que constrói
seguir honrando as semelhanças com minha mãe
e celebrando as diferenças

e a Márcia e Carol sou profundamente grata
por cada sutileza de afeto
e por ser querida em minha integridade
obrigada, obrigada.

domingo, 29 de setembro de 2013

choose life

meu coração pesa
mas só pesa porque bate
e fazê-lo parar de bater às vezes parece tão mais fácil
do que lutar e esperar que pare de pesar
eu me esforço, porém

nunca deixei de entender Elliott Smith
ou Yoñlu
ou Virginia Woolf
ou minha mãe
ou a Giovana de 10, 12, 15 e 18 anos

mas eu tenho um lembrete gravado eternamente na minha pele
para tentar escolher a vida
exatamente nos momentos em que for mais tentador traí-la com a morte
levei quase 4h para fazê-lo, e doeu por uns poucos dias
mas está lá para sempre
talvez algumas dores também passem com o tempo
e reste seu próprio ser vivendo enquanto for possível

ou talvez algumas ausências a gente apenas aprenda a se acostumar
de viver com vazios eu entendo
e, talvez, com sorte, de curá-los também.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

transitoriedade

tudo é transitório
e impermanente
na melhor das hipóteses somos todes mortais

dado isso,
estou feliz por ter tido o tempo que tive ao lado dele.

missionária da melancolia

sou a missionária da melancolia
missionária da nostalgia
missionária da poesia
missionária da empatia

e às vezes, só às vezes, missionária da alegria
mas nessa função
fico confusa
me perco

sou sensível em demasia para estar sempre alegre
mas tenho compaixão o suficiente no coração para tentar sempre ser, ao menos, acolhedora

às vezes nem isso consigo
às vezes tenho êxito
e sorrio
radiante
ou melancolicamente.

(lua em câncer, lua em câncer)

fluxo

penso
sinto
peso
suspiro

reflito
teorizo
reorganizo

escrevo
apago
reescrevo
penso melhor:
não, não

só queria poder deixar fluir
escorrer a palavra amorfa pelos dedos
transcrever o fluxo
transgredir o tudo

queria poder gritar a verdade
mas sempre achei que não é grandes bosta ser honesta
isso não é mais do que a obrigação
e não é uma boa razão para ser vil 
sempre detestei quem é cruel e diz que está apenas falando a verdade
existem tantas formar de dizer a verdade
e não só tergiversar como um covarde
mas dizê-la como é sem esquecer-se da empatia

não acredito que precisamos lembrar às pessoas para serem gentis
todes sentimos dor
isso não seria razão o bastante para procurar a delicadeza?

somos todes falíveis
somos todes projetos
somos todes inacabados
e somos todes valiosos
de alguma forma

abençoade és se você não precisou da vida inteira pra perceber isso.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

uno

meu amor não é legião, não
é só um
que eu me esforço diuturnamente para transformar em inspiração
e não em peso
não bola e corrente em meus calcanhares
mas em asas

eu poderia, agora, fumar um cigarro
na janela
pensando sobre nós
sobre seu sorriso
seu sorriso
seus lábios
seus olhos tão escuros
e tão expressivos
ninguém tem olhos no formato dos teus
parei de fumar
não parei de lembrar

quase todo mundo se apaixona
e quase todo mundo se envolve
pelo menos uma vez
afinal, no final
me sinto grata por me lembrar dessas coisas
me lembrar dos abraços
e das pernas enlaçadas
e de tantas piadas
e xícaras de café

me lembro da lealdade
inabalável
me lembro do amor
da confiança
da intimidade
imperturbável
impenetrável

no final
estou feliz
por amar
amar e só
sem exigir reciprocidade
sem exigir nada
sem fingir nada
sem fugir e sem me forçar 
só sorrir
e sentir
em cada partezinha de mim
amor
tão real
e pulsante
quanto a vida.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

dura lex, sed lex


meu pensamento sempre volta a você
eu não te vejo pessoalmente há 4 meses
você está a 1700km de distância
e eu penso em você  o-tempo-todo
e às vezes
eu sinto sua presença de um jeito físico, íntimo e
inexplicável
mas acho que é coisa da minha cabeça
acho que se tivéssemos algum tipo
de ligação espiritual
seria mútua
não unilateral

às vezes eu me pergunto se nossa história realmente existiu
mas tenho fotos
e testemunhas
e lembranças muito complexas para serem forjadas
afinal, não sou psicótica
só alguém atormentada por saudades
do intangível.

(se eu pudesse fazer um acordo com deus*,
eu não trocaria nossos lugares.
mas faria um acordo de que, caso ele exista,
ele te proteja e te ajude a encontrar sua paz.

a minha, encontrei. falta algo. mas cá está.)

* http://www.youtube.com/watch?v=xH6AOaqVsGA

querer bem

espero que a essa hora
você esteja dormindo
e que seus sonhos
sejam
doces

espero que amanhã você acorde
e que seu dia seja
doce
e que mesmo combatendo contra o mundo
seu coração não doa

espero que você tenha um amor
para celebrar e viver
e que seja
doce

eu te desejo, em suma,
o que não tenho
ou
o que me escapou pelas mãos
mas sou uma moça persistente
e vou retomar minha vida
e serei tão feliz quanto desejo que você seja

um dia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Pasta azul da minha mãe

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Com escritos e desenhos meus e dela, desde talvez 1999
Eu tinha só 5 anos
Mas nossa sinfonia era tão afinada
A conexão não era sanguínea ou genética
Era de alma

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Ficaria tudo blue, como ela dizia
Embora "tudo blue" significasse "tudo bem", não "tudo triste"
Triste fico eu pois sei que jamais terei novamente aquela pasta

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Eu levaria os poemas dela ao sarau do Palavreado
Eu mostraria aos presentes a força da palavra
De uma mulher considerada louca
De uma mulher considerada irresponsável
Uma mulher que desviava da norma
Uma mulher soberbamente divergente
Três caracteres de um CID
Não dão nem sombra de toda a genialidade dela
A inefável subjetividade dela
Ou a minha, também patologizada

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Declamaria pra vocês aqueles poemas
Mas jamais terei novamente
Só posso oferecer minha própria palavra
Da herdeira marcada pela loucura, amor, ausência e perda
O resto é silêncio, e saudade.

pânico

acabei de passar por algo horrível
e senti uma necessidade tão forte de falar com ele quanto a de fumar e chorar
mas agora já não sou apenas dependente emocionalmente
também sinto vontade de falar sobre quando estou ótima e me sinto feliz por estar viva
contenho essa vontade
porque sei que não devemos mais nos falar

mas hoje eu precisei falar
não precisei de ti
mas precisei saber da tua existência
e fingir que posso contar com ela
para que isso fosse suportável.

desculpa.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

suspiro

"não podia mesmo dar certo", suspirou ela
até estatisticamente
eram muito novos
ele era muito sensato
e ela estava cega de dor
ela era um livro aberto
ele, fechado
ela era emotiva
ele, contido

mas se amavam
o melhor que podiam
o que não era pouca coisa
e amor dele ajudou-a se manter viva
e a paixão dela quase terminou de matá-la
até que ela aprendeu a ressignificar o que não se pode ter
e entendeu que a ausência é uma força criativa

não podia mesmo dar certo
mas mesmo que pudesse
desta vez, não deu.

suspiro.

Salsinha

Enquanto picava a salsinha para temperar a batata, Stella sorriu de leve. Ele não gostava de salsinha, e por isso, ela não usava. Mas agora eles não estavam mais juntos e ela podia colocar tanta salsinha quanto quisesse.

Uma pequena vitória triunfante que não valia de nada comparado ao quanto ela ainda queria tê-lo dormindo ao lado dela todas as noites e manhãs. Mas as coisas são como são.

Ao menos tinha batatas assadas. Com salsinha.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

catando os cacos

vou encher meu coração de compaixão
porque paixão romântica mata
e eu quero viver

se você deixar
uma paixão mal posicionada te come inteira
e teus restos não servem mais pra nada

e prefiro parar por aqui, enquanto meus cacos ainda refletem a luz
porque sei que ainda posso, com sorte, voltar ao ponto em que
mesmo que talvez eu nunca torne a ser inteira,
esses cacos não firam os pés de quem se aproximar de mim.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Sobre suicídio, condenação e solidariedade

 Existe uma mulher muito maravilhosa chamada Adriana Mendes, jornalista, guerreira, e igualmente, como eu, fã de The Cure e Smiths que me citou num post dela. Eu havia postado uma imagem do Calvin e Haroldo (que nem sei se era a tirinha original; acredito que substituíram as falas) falando sobre bandas de mEtAl e a mãe do Calvin dizendo que se eles fossem tão tr00 assim eles se matariam num ritual satânico no meio de um show, e que na verdade eles só falavam desses assuntos nas músicas pelo dinheiro. Eu compartilhei a imagem e comentei da minha teoria de que o Robert Smith e o Morrissey são dois posers porque estão desde os anos 80 falando de suicídio sem concretizar.

Mas o post dela apenas citou isso, por cima; era um post sobre suicídio, especificamente, o suicídio do Champignon, da banda Charlie Brown Jr.

Eu não ouço Charlie Brown. Eu não estou inteirada do caso. Contudo, suicídio é um tema que me toca profundamente.

Eu tentei me matar pela primeira vez aos 10 anos de idade - enforcada. A segunda, aos 12, com overdose de medicamentos. Aos 15, enforcada. Aos 18, aluguei um quarto do 13º andar pra me jogar, tentei injetar vaselina na veia (não tenho as manha), cogitei me enforcar, caminhei até a rodoviária do Plano pra me jogar (chegando lá achei que não seria alto o bastante), e, por fim, tomei meu antidepressivo em superdosagem. Acordei com uma crise de ansiedade terrível e, desde então, decidi que, por ora, não quero morrer. Isso foi em julho.

Recentemente, no dia 1º de setembro, eu completei 19 anos, e no dia 2, me tatuei. Tatuei "Choose Life." "Escolha vida."









Como eu disse a uma amiga,
"Eu acho que suicídio é meu fantasma da vida inteira
por isso que quero tatuar choose life
pra quando tudo doer muito e eu ver a tattoo no espelho, eu lembre de que a tattoo doeu mas tá ali pra sempre
e que algumas dores são transitórias também
e porque, se um dia eu realmente não conseguir ir além, vai estar gravado na minha pele o quanto eu tentei, tentei a sério e com tudo de mim"
 

Ela: "é como se vc admitisse que o suicidio é uma parte de vc que vai existir pra sempre, mas q ela pode se manter menos forte que outras vontades."
 

Eu: "sim
é bem isso mesmo

eu não ouso dizer "estou curada", "essa ideia está totalmente fora de cogitação"

o que digo é: tentarei ser mais forte que isso

tentarei domar a ânsia.
"

Eu tatuei Choose Life, porque eu quero viver, e, mais importante, para eu ter isso gravado na minha pele. Eu dizia muitas vezes a meu ex namorado que eu tinha vontade de tatuar alguma frase relacionada a força, resistência, sobrevivência, porém, que eu temia tatuar e um dia de fato me suicidar e a tatuagem me denunciar como uma covarde. Eu já não penso assim.

Suicidas nunca são covardes. Suicidas nunca são fracos. Cada dia em que acordamos vives é um novo marco de que nunca vivemos, numericamente, tantos dias quanto aquele. E sobreviver custa caro. Todas as pessoas que estão vivas, hoje, merecem parabéns por terem conseguido isso, especialmente se o fizeram e fazem tentando não prejudicar o próximo.

Eu já discuti com um bom número de psiquiatras, durante o pior da minha depressão, quando eu estava decidida a me suicidar. E, francamente? Eu tenho certeza que eles não entendiam essa vontade. Na minha opinião, por trás dessa ideia de patologizar tode suicida (a todes se atribuem ou atribuiríam depressão ou qualquer desordem psiquiátrica), e interná-les, existe um medo muito grande de admitir que uma pessoa totalmente lúcida possa sentir tanta dor que decida pôr fim a própria vida. Disso, decorrem inúmeras besteiras sobre suicidas, do tipo "Poderia ter tentado mais", "Não se esforçou o bastante", "Jovem demais", "Tinha saúde", "Deveria ter procurado ajuda."

"Deveria ter procurado ajuda". Era esse o ponto que eu queria chegar.

Quando alguém diz isso, a que tipo de ajuda a pessoa se refere? Profissional? Acho importantíssimo refletir sobre por que depositar tantas esperanças nas ciências psi, e mais do que isso: Refletir sobre o que qualquer um pode fazer.

Você acredita que você seja uma pessoa que um suicida poderia ligar para pedir ajuda? Você acredita que você mostra às pessoas que lhe cercam que você está disposte a apoiá-las, cuidar delas, ouvi-las e respeitá-las caso elas recorram a você?

Eu tive essas pessoas, esse ano. Nunca na vida eu tive tanta certeza de que eu era amada e tinha em quem me apoiar.

Já postei aqui no blog o que o psicanalista do Yoñlu falou:

"Namorar a idéia do suicídio é uma coisa que muita gente faz, é fantasia comum na adolescência e visitante freqüente dos desesperados. Chegar à beira de se matar também é algo que ocorre muito mais do que se admite publicamente, mesmo com pessoas que estão bem acompanhadas na vida, que possuem vínculos sólidos. Mas poucos chegam a se matar. Na hora, falta uma energia extra. Há uma força vital que nos segura no último momento. Essa força que nos prende ao grupo, às outras pessoas, ao quanto os outros gostam da gente e ao quanto nós gostamos dos outros. Isso tece uma rede, uma teia que nos suporta na vida. Muitas vezes, quando o sangue aparece nos pulsos cortados, as pessoas acordam do seu transe mortífero e pedem ajuda. Para dar esse último passo, se suicidar, é preciso de um desespero, de uma desesperança muito forte ou de alguém que te puxe para baixo."*

E eu comentei, dia 8 de fevereiro deste ano: Minha teia contra minha desesperança. Façamos nossas apostas. 

Houve um tempo em que mesmo a teia existindo, a desesperança quase me levou embora. Nessa última tentativa de suicídio, com os medicamentos, eu fiquei em dúvida entre tentar me enforcar ou tomar os remédios. Optei pelos remédios. Creio que uma parte de mim quis dar uma chance de eu falhar. E felizmente, falhei.

Há quem não falhe. Há quem tenha êxito no suicídio. Minha mãe teve.

As religiões, majoritariamente, condenam o suicida a sofrimentos terríveis após sua morte. Muita gente cita "Ser ou não ser, eis a questão", do Hamlet, peça do Shakespeare, todavia, poucos sabem que esse trecho é uma divagação sobre suicídio. 

Ele diz:  
"Morrer... dormir; nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os mil naturais conflitos que constituem a herança da carne! Que fim poderia ser mais devotadamente desejado? Morrer... dormir! Dormir!... Talvez sonhar! Sim, eis aí a dificuldade! Porque é forçoso que nos detenhamos a considerar que sonhos possam sobrevir, durante o sono da morte, quando nos tenhamos libertado do torvelinho da vida. Aí está a reflexão que torna uma calamidade a vida assim tão longa!" 
E se põe a citar várias coisas desagradáveis que viver nos obriga a enfrentar. E para mim faz muito sentido: as religiões condenam o suicida (o que eu acho extremamente cruel) como um mecanismo de controle. Através do medo, tentam impedir as pessoas a suicidar-se. Porque de fato, se a morte é o supremo desconhecido, suicidar-se é espontaneamente lançar-se a ela. E ainda há quem diga que suicidas são covardes. Acredito, também, que a patologização do suicídio também se preste a esse controle: vamos dar um remedinhos que deixem essa pessoa tão anestesiada que não se jogue da janela, mas ainda produtiva. Produtiva pra ela mesma? Não, ingênue: para o mercado de trabalho, para suas obrigações perante a sociedade.

Se alguém se suicida, o sofrimento não foi pequeno. Julgar essas pessoas é julgar-se dotade de uma força moral  da sobrevivência que essas pessoas também tiveram, até o momento em que deixaram de ter.

Em vez lamentar suicídios, ou ceder a essa ânsia cruel de condená-los e julgá-los, é muito mais producente tentar evitar suicídios.

Seja sensível ao sofrimento alheio. Ofereça ajuda. Pergunte com honestidade como as pessoas estão; tenha tempo para as pessoas. Talvez a pessoa não esteja nem cogitando suicídio, mas está mal, e às vezes gentileza gratuita e inesperada pode realmente mudar um dia. Ou salvar uma existência.

Eu que o diga.

Obrigada a todes que me querem viva e me ajudaram a conseguir nisso. 


1- Post da Adriana Linda: http://etudoverdademesmo.blogspot.com.br/2013/09/a-decisao-de-champignon.html?spref=fb

2- Post em que está a entrevista do psicanalista do Yoñlu: http://conhecerparaprevenir.blogspot.com.br/2009/08/o-caso-vinicius-em-uma-corajosa.html

3- Post da citação de Hamlet: http://abaixoagravidade.blogspot.com.br/2013/07/shakespeare-hamlet.html

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Hesitation wounds

Elliot Smith had no hesitation wounds*
some people think he was stabbed by his girlfriend
I guess they never heard about King's Crossing

I have no hesitation wounds either
no hesitation wound in my flesh

Mine are invisible
and heavy.

smile like you mean it

a gente vai
a gente toma um rumo
a gente finge
a gente se esforça

a gente vai
a gente fecha os olhos, suspira
sente o peso
a gente só vai
às vezes só ir basta
noutras não

contudo, a gente vai
e eu, mesmo estagnada, preciso ir
vou fingir
até se tornar verdade
e se não se tornar
me limitarei a caminhar

Chama e fumo


Amor - chama, e, depois, fumaça...
Medita no que vais fazer:
O fumo vem, a chama passa...

Gozo cruel, ventura escassa,
Dono do meu e do teu ser,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Tanto ele queima! e, por desgraça,
Queimado o que melhor houver,
O fumo vem, a chama passa...

Paixão puríssima ou devassa,
Triste ou feliz, pena ou prazer,
Amor - chama, e, depois, fumaça...

A cada par que a aurora enlaça,
Como é pungente o entardecer!
O fumo vem, a chama passa...

Antes, todo ele é gosto e graça.
Amor, fogueira linda a arder!
Amor - chama, e, depois, fumaça...

Portanto, mal se satisfaça
(Como te poderei dizer?...)
O fumo vem, a chama passa...

A chama queima. O fumo embaça.
Tão triste que é! Mas...tem de ser...
Amor?...- chama, e, depois, fumaça:
O fumo vem, a chama passa.

- Manoel Bandeira

sábado, 31 de agosto de 2013

"você é a melhor pessoa do mundo"

algumas ausências
talvez a gente não supere
apenas se acostume
ao buraco

nem é tão ruim assim
depois que você consegue sobreviver

19

eu vou aprender a tocar violão
e musicar meus poemas
(talvez piano também)
eu vou ser uma boa música

eu vou deixar meu cabelo crescer
eu vou fazer tatuagens lindas
eu vou praticar algum esporte

eu vou melhorar meu francês
eu vou melhorar meu inglês
e talvez eu aprenda espanhol

eu vou entrar na faculdade
e dessa vez vou fazer as coisas direito
tirarei muitos SS
e serei pesquisadora

eu vou ler sobre vários temas
e vou refletir e escrever também

eu vou conhecer pessoas
e saber que cada uma tem uma história
que sempre vale a pena ouvir
caso elas queiram
ou precisem

eu vou amar meus amigues
e vou tentar acolhê-los tão bem quanto possível
hoje e sempre

eu vou vender meus bolinhos
e vai um pouco de amor em cada coisa que cozinho

eu vou fazer muitas coisas
e nem todas darão certo
outras podem ser frustrantes
de algumas posso desistir
sempre posso mudar de ideia

mas hoje,
eu vou viver.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A ausência é uma força criativa.

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

sempre é possível aprender algo com as pessoas

nem que seja a deixá-las ir.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

disfarça e chora

meus poemas são seus
mas você já não os vê
porque minha obra te dói
e possivelmente constrange

aqui estão desnudos
meus sentimentos por ti
expostos como em carne viva
nessa tela em branco
meus dedos deslizam pelas teclas procurando as palavras
não precisam ser exatas, servem as aproximadas
para que eu diga, eu diga, eu diga
o que preciso dizer
mesmo que você não vá ler

talvez tanto amor te agradasse quando era mútuo
mas agora você pode só escolher não ver
e eu não posso desligar o botão de senti-lo
posso respeitar que você não veja
posso torcer para que estejas feliz

contudo continuo a amá-lo
"como se ama a um passarinho morto"

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

e há pesar, apesar

nesse exato momento do espaço-tempo
há pesar de tudo

mas apesar de tudo, tudo
se eu não vou me matar, 
eu tenho a vida inteira pra tentar
 todas as reconstruções e melhorias de mim possíveis

e apesar de tudo
eu nunca eu me senti
tão confortável em ser quem eu sou 
e buscar me tornar cada vez mais o que quero 
a utopia, esse horizonte inalcançável que nos impele a caminhar

afinal, apesar de tudo
sempre posso voltar a velha filosofia
de continuar o esforço hercúleo da própria caminhada

às vezes ela basta, noutras não muito
mas ao caminhar vem os raros sagrados momentos em que sinto
que valeu a pena continuar
ora caminhando, ora me arrastando
por tortuoso que tenha sido o trajeto, farei 19 anos
eu, que tentei tirar minha vida pela primeira vez aos 10

sobrevivi
cheguei até aqui, eis minha maior conquista
estar lúcida e respirando nesse momento
meu coração pode pesar
mas ele pesa porque bate
e isso já é o bastante para viver
em algum momento ele vai cessar de doer
e a única coisa que me pesarão
serão meus 46kg de integridade
e de potencialidade de vida pulsante

desejo
que meu amor só cure
pulse livre
e não me mate.

sábado, 24 de agosto de 2013

O morto que canta

"Há uma morte que vem de fora e uma morte que cresce por dentro. Cada uma delas produz uma dor diferente. Nas representações artísticas, como na tela terrível de Brueghel, a primeira que é representada - como cavaleiro de alfanje na mão. Ela chega sem ser convidada, como intrusa, nas mãos do assassino, no acidente que mata como um raio, na doença que entra e vai tomando conta do corpo, por mais que se tente mandá-la embora... Aparece como uma interrupção. No seu livro 'Lições de abismo', Gustavo Corção lamentava-se de que a vida não fosse como uma sonata de Mozart: curta, não mais que 20 minutos. E, no entanto, nesse curto tempo, tudo que há para ser dito é dito. Os últimos acordes nada interrompem. Apenas completam. O que se segue, então, é o silêncio da saudade, abençoadamente feliz, pois é o silêncio que vem depois da experiência da beleza. Que pena que a vida não seja assim... Pois o que acontece é que a sonata é abruptamente interrompida pela morte intrusa, um golpe de desarmonia bruta desferido por uma potência sinistra, surda à melodia que se queria cantar. E a sonata fica ali, quebrada ao meio, fragmento, caco, incompleta...

 A morte do suicida é diferente. Pois ela não é coisa que venha de força, mas gesto que nasce de dentro. O seu cadáver é o seu último acorde, término de uma melodia que vinha sendo preparada no silêncio do seu ser. A primeira morte não foi um gesto; foi um acontecimento de dor. Mas no corpo do suicida encontra-se uma melodia para ser ouvida. Ele deseja ser ouvido. Para ele valem as palavras de César Vallejo: "su cadáver estava lleno de mundo". O seu silêncio é um pedido para que ouçamos uma história de cujo acorde necessário e final é aquele mesmo, um corpo sem vida.(...)"

O Quarto do Mistério
, Rubem Alves

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

apartamento vazio

saio
passo o dia fora
me distraio
troco palavras com estranhos
sinto-me bem
sinto-me melhor
sinto o sol na minha pele
sinto a vida me preencher
sinto de um jeito leve

mas ora ou outra eu preciso ir para casa
e ora ou outra chega a madrugada
e a saudade me atinge
e eu sinto sua falta
aquela falta desesperançada
de quem sabe que nunca mais vai estreitar nos braços
aquele amor enorme

de dia eu te amo tanto que te quero bem seja como for
de madrugada eu lembro do quanto a ausência dói
e eu nunca quis que doesse em ti
quis só que você continuasse
em mim

pode ir, meu bem
eu já deixei
antes disso, você foi
reclamou seu direito de ir
reclamou seu direito a uma vida livre
da minha existência tempestiva

você foi
e eu deveria ir pela outra porta
mas eu fiquei
e afinal, depois de tudo isso
eu ainda estou aqui
como quem não consegue sair
de um apartamento vazio que não é mais seu
pelas memórias

mas o apartamento já não é mais meu
e a imobiliária logo deve ligar
pedindo a chave
daqueles metros quadrados que me abrigaram no pior ano da minha vida
que foi também onde eu tive o que eu mais quis no mundo.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Bukowski - Raw with love

I won’t blame you,
instead
I will remember the kisses
our lips raw with love
and how you gave me
everything you had
and how I
offered you what was left of
me,
and I will remember your small room
the feel of you
the light in the window
your records
your books
our morning coffee
our noons our nights
our bodies spilled together
sleeping
the tiny flowing currents
immediate and forever
your leg my leg
your arm my arm
your smile and the warmth
of you
who made me laugh
again.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

final

acho ele a coisa mais bonita do mundo
acho que ele me acha constrangedora.


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

in vino veritas

tal como em os três mal amados do joão cabral de melo neto
achei que o amor comia tudo
até por fim comer quem o sentia
numa deprimente autofagia
(hoje o rolê é vinho e nostalgia)

hoje eu tento pensar que não
que amor é amor, destruição é destruição
que um paradigma de amor que naturalize o sofrimento extremo é algo a ser abolido
logo eu dizendo isso, a suicida

então eu me esforço dia e noite para que o amor que não consigo fazer passar
ao menos não me faça definhar e morrer
que tudo que amo nele seja força pra lutar e viver
me impelir nessa caminhada
e que essa caminhada não seja uma espera de longo prazo pela morte
mas vida
das pulsantes e úteis
das apaixonadas
mas paixão sem páthos

"o amor romântico é o único que mata
todos os outros se alinham com a potência da vida"

e eu quero viver
eu quero viver
quero até sem você

mas me dou esse luxo de te amar
ciente de que não vou ter
nunca mais em meus braços
mas vou amar, sim
a 1700 km
vou viver e vou amar
para que eu possa continuar aqui
de todas as formas possíveis
sem me trair.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

shwarmas

eu queria dizer
que lembro de você com coisas bonitas
com poemas e músicas
com textos e fragmentos
quando vejo algo
que me faz querer viver

eu queria agradecer
pelas pequenas coisas
pelas grandes também
pela sua existência
e o que ela representa pra mim

eu queria dizer
que meu amor por você
já não dói nem pesa
mas me mantém firme
em buscar quem eu quero ser

e essa caminhada
já não é algo que faço de olhos fechados
não mais uma corda bamba sobre o abismo
não é a ânsia pelo supremo desconhecido
da morte
e sim um caminho novo
desbravado com cuidado
porém, de olhos abertos
afastando os galhos que ferem
pisando com cuidado aqui e ali
parando pra descansar e respirar se necessário
contudo, disposta a continuar
a caminhar

o melhor presente que você me deu
foi ter me mantido viva
enquanto eu não conseguia
e tudo bem ter ido embora
porque esse presente é uma dádiva eterna
e, sem demora,
eu o honrarei
sendo pra mim mesma
ainda melhor do que eu quis ter sido pra você
e falhei
todavia, por estar viva, tudo é possível
inclusive melhorar
até às raias da mais sublime imperfeição

mas olha que loucura
eu já sou exatamente a pessoa que eu quero ser.


"And it's funny how I imagined
That I could win this win-less fight
Maybe it isn't all that funny
That I've been fighting all my life
But maybe I have to think it's funny
If I want to live before I die
And maybe it's funniest of all
To think I'll die before I actually
See
That I am exactly the person that I want to be


Fuck yes
I am exactly the person that I want to be"
Amanda Palmer - In my mind