segunda-feira, 17 de junho de 2013

Sobreviver é sobre deixar ir: eu não sou minha depressão

Minha mãe morreu há um ano. Esses dias, eu remexi uma pasta bem grande em que ela guardou inúmeros papéis nossos de quando eu era criança.

Eu e minha mãe nos amávamos muito. Aqueles papéis são desenhos meus, dela, "passatempos" que ela fazia pra mim - labirinto com "leve o Bin Laden até as Torres Gêmeas", cruzadinhas que não tinham respostas -, fragmentos de textos enigmáticos dela ou meus.

Chorei, claro, sempre. Eu sinto muita saudade dela. Era a pessoa mais parecida comigo no mundo e eu carrego muitíssimo dela.

O  ponto é que, na melhor das hipóteses, somos todxs mortais. E meu novo imperativo categórico é querer ser uma boa lembrança para xs que me amam.

Acho que estou tendo muito êxito, levando em conta as mais de 20 ligações / sms / mensagens no facebook / visitas e ofertas de visitas. Muito carinho sincero e gratuito. Muita gente citando alguma coisa que eu fiz que foi importante para elxs - ouvi-lxs em alguma ocasião, falar de feminismo ou veganismo, oferecer suporte no luto, oferecer minha casa imunda mas cheia de amor, gatos e comida para alguém dormir.

Eu não sou minha depressão. Depressão não é só tristeza. Sou contra a medicalização e patologização de qualquer coisa que existe em nossa sociedade, adoro e recomendo esses dois textos:

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/01/permissao-para-ser-infeliz.html
http://revistaepoca.globo.com//Sociedade/eliane-brum/noticia/2013/06/os-loucos-os-normais-e-o-estado.html

fui internada compulsoriamente por dois dias, foi uma merda e não ajudou em nada, vi minha mãe passar por internação no HPAP também e isso abriu toda a questão das doenças mentais e marginalização pra mim, enfim.

De qualquer forma, quando digo eu não sou minha depressão, eu não estou dizendo que não tenho algo grave que acho, no meu caso, que precisa ser tratado porque quase me levou ao suicídio - oito vezes.

O que estou dizendo é que eu sou mais do que esse sentir-se mal. Eu sou mais do que minhas cicatrizes emocionais, eu sou mais do que o meu luto, eu sou mais do que uma fodida problemática. Eu sou uma pessoa, sensível, e que mesmo devastada nunca negou ajuda a ninguém. E acho que posso sim me orgulhar disso. E acho sim que posso pensar em Sartre - "A existência precede a essência" - ou em budismo tibetano - "Porque você está vivx, tudo é possível" - e tentar encontrar um caminho.

Eu não preciso morrer.

Todo esse blog, praticamente, são tentativas de expiação de dor através da escrita. Às vezes funciona melhor, noutras nem tanto, às vezes saem textos que dizem ser maravilhosos, noutras não falam nada. Sobretudo, porém, esse blog tem sido um diário de tentativas de sobreviver.

E eu estou viva. Vivíssima. Vivona. Muito ferida, certamente. Disposta a lutar para melhorar, também. E disposta a lutar por quem sofre.

Eu não vou mudar o mundo a nível macroscópico, eu não sei nem se existem muitas pessoas com poder político e financeiro para tal.

Mas o mundo é constituído por bilhões de universos individuais e hoje, agora, tenho plena certeza que já alterei vários. E alguns, para melhor.

Eu não vou mudar o mundo, contudo, jamais vou me resignar e dizer "É assim mesmo". Não vou passar reto por mendigxs, ou por alguém que sei que está mal. Não vou me furtar de fazer tudo o que eu puder, mesmo que seja muito pouco.

Acho que nenhum ato de gentileza nesse mundo é em vão. Nenhum.

Então estou dedicando esse post - e minha vida, e minha sobrevivência, a todxs vocês que me querem vivona  e viram em mim alguma coisa que tornava essa vida valiosa quando eu realmente só conseguia ver em mim uma criatura patética e estragada que sempre se sentiu outsider. Obrigada por discordarem.

Eu amo vocês, e eu estou aqui. E isso já é um grande começo.

Obrigada.

7 comentários:

  1. voce me ensinou tanta coisa, mesmo sendo tão pequenininha fisicamente, tão mais jovem e tão mais aparentemente frágil. não acho que a vida valha a pena, sei que ela se torna menos insuportável quando encontramos ao longo dela pessoas como você. beijos ass loryne

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  2. Eu sou a favor da medicação porque sem isso eu jamais teria percebido que eu era mais que minha tristeza, ou que minha depressão não era uma tristeza normal, comum, que só eu que era mais fraca que os demais não conseguia lidar. Por isso acho que demonizá-los não é a saída (para quem precisa). Isso não quer dizer que eu não apoio a sua decisão de não tomá-los, muito pelo contrário. De qualquer forma, eu acho ótimo que você expie sua dor por escrita, pela fala, seja como for... sempre. Calar jamais. Bom, você sabe disso...
    Você é uma inspiração muito grande para mim e me doeria, além de tudo, além da sua própria ausência, saber que pessoas boas como você não sobrevivem a esse mundo em que vivemos, porque seria aceitar que estamos fadados ao fracasso.
    Mas não estamos.
    Beijos!

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  3. Vejo em voce uma pessoa tao boa e pura, do tipo q é naturalmente boa, nao por algum tipo de obrigaçao ou status. Vc tem muito a ensinar pra muita gente. Eu sei q esse mundo é triste, mas fique, ele fica menos pior qnd encontramos pessoas como você nele, mesmo q esporadicamente.
    Vejo que você gosta muito de ajudar as pessoas, entao dedique sua vida, sua existencia a isso. e a ensinar as pessoas a passar isso adiante. um dia, la na frente vc vai olhar pra tras e ver quantas pessoas (e animais) vc salvou/ajudou pq se manteve viva e vai dizer "valeu a pena". um beijao =*

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  4. Giiiiiiiiiii, depois venho com calma responder da forma que eu gosto. Mas, agora, só quero adiantar o quanto estou feliz por você, por mim, por Carol e por todos que tem o privilégio de conviver contigo. É ter a certeza do quanto podemos fazer e receber todo bem, todo amor que existe em nós, entre nós. Acredite: o amor salva... sem ele nada seria... e tudo se torna extremamente gratificante. Hoje, dormirei feliz e em p@z!! E, amanhã, ao acordar, vou novamente celebrar a vida, pois ontem você me presenteou com a melhor e mais maravilhosa declaração: "...Eu não preciso morrer... E eu estou viva. Vivíssima. Vivona. Disposta a lutar para melhorar, também. E disposta a lutar por quem sofre... Acho que nenhum ato de gentileza nesse mundo é em vão. Nenhum... Eu amo vocês, e eu estou aqui... E isso já é um grande começo. Obrigada".
    Obrigada, digo eu!! Eu e todos os seus: somos nós que lhe agradecemos pela oportunidade de aprendermos e crescermos juntos. Fica em p@z!! Bjus, com todo meu amor, carinho e admiração

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  5. Florzinha, muito feliz em te ver evoluindo e encarando tudo que a vida te manda! Que as feridas sumam logo e abram espaço para felicidade que você tanto merece.
    Beijoos

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