quinta-feira, 27 de junho de 2013

Despedida

Sem sombra de dúvida, haverá quem me chame de fraca - principalmente pessoas que me conhecem pouquíssimo mas acham que conhecem. Em número maior, haverá xs que se solidarizarão com minha dor mas dirão "Ela deveria ter tentado mais um pouco, só mais um pouco. Se ao menos (...)" e aí pode ser "ela tivesse voltado pra medicação/ terapia/ tivesse esperado mais tempo/ tivesse mudado algo na vida dela/ tivesse conhecido Mel Dels", etc. etc.

Um número mínimo de pessoas entenderá de fato, ou, igualmente nobre, respeitará minha decisão como legítima ainda que não a entenda e me ame e me quisesse vivona.

Vai doer pra muita gente. Não posso fingir pra mim mesma que não sou querida, porque sou, imensamente. Nunca fui tanto.

Mas uma vez uma amiga que me conhece bastante bem me disse "Sim, as pessoas vão sofrer, mas sabe, Gi, pra maior parte das pessoas, viver não é tão difícil. Eventualmente, elxs  vão superar." Com isso, ela não queria dizer que eu sou O Ser Humano Com a Pior Vida do Mundo. Nem ela achava isso, nem eu. O ponto dela é que nem todo mundo quer tanto morrer quanto eu quero. E acho que, via de regra, não querem. As pessoas encontram formas de justificar sua caminhada. Mesmo eu tentei vários caminhos, embora muitxs vão menosprezar isso porque eu sou ~muito nova~ e portanto é fácil dizer que tentei pouco em vez de lembrar-se do esforço fodido que cada dia tem sido pra mim há MUITO tempo.

Eu amo muita gente. Muita gente. E eu espero ter demonstrado isso enquanto estive aqui. O número de ligações, sms, visitas e ofertas de visitas que recebi por volta da época que fui internada me faz crer que tive exito.

Voces, certamente, demonstraram muito e de formas lindas e criativas o quanto me amavam e o quão importante eu fui pra voces. Muito obrigada por isso.

Contudo, "O fim é importante em todas as coisas". Para muitxs, estou indo na hora errada, cedo demais. Pra mim, já demorou. Pra mim, se a vida é uma doença sexualmente transmissível com 100% de fatalidade, estou meramente seguindo o script.

Sim, estou escolhendo minha morte. E podem dizer que isso é anti-natural. Pode ser. Mas é comum, também. Não estou inventando a roda. Só estou morrendo. Morrer é nossa única garantia nessa vida.

Se eu passo a mão no meu tornozelo, ainda dói onde tentei injetar vaselina pra me suicidar (me inspirei num caso em que fizeram isso acidentalmente, mas em grande quantidade, e morreu uma menina. Mas não sei acertar minha veia). Essa dor física é mínima, porém, vem duas dores na sequencia: A de várias tentativas frustradas que estão se tornando ridículas, e o fracasso dessas tentativas. É com pesar que sobrevivi. Eu quis muito morrer.

Espero que dessa vez eu consiga.

Sejam tão felizes quanto possível nesse mundo de merda.

Sim, eu poderia ir além dessa noite, me forçar a continuar o caminho. Tenho feito muito isso. Mas prefiro ir embora. Sempre é possível sobreviver, mas a que preço? Não sei nem mais quem eu sou, e isso é horrível.

Voces nunca vão aceitar minha ida. Eu entendo isso.

Sinto muito.

Por favor, não sofram muito. Estarei bem melhor que aqui. Sem sombra de dúvida. A não ser que voces acreditem num Dels cruel que vai me foder ainda mais depois de morta. Bom, aí essa crença não me concerne mais, porque acredito na compaixão.

Um comentário:

  1. quero deixar registrado que eu te amo muito, sempre vou te amar muito! que você é uma das melhores pessoas que apareceram na minha vida e eu sei que, se voce conseguiu o que te traria tanta paz, você estará do lado da sua mãe, sei que vocês estarão juntas.
    caso você não tenha conseguido, espero poder te dar mais um abraço nessa vida! você é extremamente importante pra mim!!!
    te amo!

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