sábado, 29 de junho de 2013

cid f33

É bem mais fácil patologizar meu sofrimento do que cogitar que a vida nem sempre vale a pena, em todas as ocasiões, para todas as pessoas no mundo, e que frente a isso, algumas pessoas preferem ir embora. É mais fácil jogar um rótulo de doente mental nelas, porque são numericamente poucas, do que pensar "o que leva 1 milhão de pessoas por ano a decidirem destruir o próprio corpo na esperança de cessarem de existir?"

É muito melhor para a estrutura de uma sociedade medíocre obcecada com produtividade / ser funcional pensar em mim como uma doente mental do que aceitar que uma pessoa completamente lúcida pode sentir tanta dor que viver não vale a pena para ela.

Acho até uma questão filosófica interessante: as pessoas recriminam tanto os suicidas porque enxergam que em sua negação individual da vida consiste, no fundo, uma negação da vida humana em geral?

De minha parte, nego ambas e respeito quem discorda. Não estou pintando cartazes escritos "Suicídio sim". Só quero respeitada minha autonomia para ir embora. Só isso.

"A society in which no tear is shed is inconceivably mediocre."


3 comentários:

  1. Bom, Gi, não tenho uma opinião formada sobre o assunto e seria até desrespeitoso com que sente a sua dor te-la.
    Por um lado, algumas leituras sobre depressão dizem que ela é uma doença grave. Vendo de fora, me parece que o "bom" disso é que abre a possibilidade de as pessoas tratarem, não todas, claro, mas aquelas que se sentirem contempladas com um tratamento.
    Por outro lado, ignora essa nossa estrutura social massacrante, que faz qualquer pessoa "sã" pirar e não ver sentido em continuar vivendo.
    Além dos problemas pessoais, muitas vezes graves, que ferem as pessoas de muitas formas.
    E eu concordo com vc quando diz que "uma pessoa completamente lúcida pode sentir tanta dor que viver não vale a pena". Com certeza sim.

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  2. lembro que na minha última crise eu perguntava isso pras pessoas que considerava "normais" (pq sou meio bitolada assim mesmo) o tempo todo. gente, mentira que vcs gostam de viver????
    ainda penso nisso direto. acho que não, de verdade. acho que é muito mais confortável aceitar a vida, ficar na inércia e fechar os olhos pra certas coisas. coisas que eventualmente vão estar tão escancaradas pra você (e só pra você) que vai se tornar impossível ignorar. não acho que isso seja saudável.
    acho que talvez todos no fundo percebam que isso tudo aqui dói muito mais do que gratifica. acho que se liberassem o suicídio assistido e sem dor todo mundo ia querer se matar na hora sim. e isso não é muito reconfortante, né? pensar que você tem que fazer esse esforço absurdo só pra conseguir sobreviver num mundo que nem vale a pena.
    meu bem, acredite que eu não quero tentar te convencer de nada. nem acho que você tenha que colocar qualquer pessoa querida acima da sua vontade por um segundo que seja, pq realmente, ninguém pode nem deve te pedir isso. só que eu acho que a vida pode ser doce, que a gente pode tentar mudar as coisas aos pouquinhos e que cada pouquinho desse vai nos trazer um sentimento único e maravilhoso. e todas as características que eu imagino pra construir um mundo que valha a pena viver eu encontro em ti.
    e eu sei que você sabe disso e sei que sabe do que to falando, e que agora isso tudo não faz a menor diferença porque é tão menor do que a dor... mas você sabe a infinidade de gente que tá aqui pra te ajudar a sair desse buraco mais fundo e escuro, esse que suga todo o resto. quantas vezes for necessário. e só espero que isso traga algum conforto em pensar que a gente pode até compartilhar a dor, que isso vai expandir nosso coração e tornar mais fácil o seguir-em-frente. até acabar, pq vai acabar. mas de um jeito talvez um pouco mais tranquilo...

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  3. Anônima, pessoalmente, acho que o problema nem é a vida em si. Se vc me perguntar o que é a vida, eu não saberia te dizer filosoficamente o que é. Acho a vida em si bonita. Gosto das sutilezas que a compõe. Parece idiota, mas às vezes presto atenção na minha respiração, nos movimentos do meu braço etc e penso "caralho, como isso é íncrivel, que coisa maluca". O meu grande problema (e acho que o da maioria, me corrijam se eu estiver errada) é com a sociedade/mundo em que "essa vida" está inserida, saca? Nos caminhos que "essa" e "outras" vidas percorrem. Idealista demais, porque pra gostar de viver é necessário se adaptar um pouquinho nesse mundão de merda mesmo em que estamos inseridas hoje. Mas com certeza, essa adaptação é bem mais dolorosa para algumas do que para outras, devido ao histórico de vida, entre outros fatores. É uma batalha um tanto quanto inglória, mas quem sabe a gente consegue deixar esse mundo mais bonito (ou menos pior) para os outros usufruirem melhor desse negócio chamado vida. Mas é compreensível que muitxs tenham cansado de tentar.

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