sexta-feira, 11 de abril de 2014

Parte I - Prólogo - De porque Hipólito sofreu

Houve uma vez um jovem chamado Hipólito, que gostava da natureza, da caça e dos esportes. Gostava, sobretudo, de cultuar Ártemis, deusa da caça e da vida selvagem. Ártemis era uma deusa virgem. E, por afinidade a ela ou natureza inerente, Hipólito havia também escolhido a castidade.
- Eu não tolero isso - disse Afrodite, deusa do amor e do sexo.
- O que, mãe? Hipólito não querer amar nem deitar-se com mulher alguma? - disse Eros, o cupido, seu filho, brincando de abrir e fechar uma lótus.
- Não apenas... Isso é bastante avesso a minha natureza e aos assuntos que são meus domínios na Terra, mas não deixa de ser um direito dele. Contudo, Hipólito zomba do amor. Zomba de mim. Zomba da intimidade física, crendo-se superior aos outros homens por ser casto. Pobre ignorante que desconhece o poder sagrado do sexo feito com amor. E, novamente, Hipólito zomba de mim - não digo nem por extensão, é um fato declarado. Por desprezar meus assuntos, Hipólito acha-me uma deusa menor! Prefere Ártemis. Ora, Ártemis está ligada à vida selvagem, à natureza. Como dissociar a natureza humana do amor? - Afrodite discorria, irritada e ofendida, os longos cabelos balançando conforme ela balançava a cabeça de frustração.
- Mãe... Onde pretendes chegar com isso?
- Quero destruir Hipólito. Com a deusa do amor não se brinca. Ele, que se acha superior por estar isento das paixões românticas, verá que isso não o protege dos infortúnios de ser amado. Você, Eros, meu filho, lançará sua flecha sobre Fedra, esposa de Teseu, logo, madrasta de Hipólito.
- E qual será a consequência disso?
- Nada bom poderá sair disso - disse Afrodite -, pois não será cálido como o amor abençoado por mim, e sim uma paixão fulminante incitada por mim.
- E o que a pobre Fedra tem a ver com isso, minha mãe? Por que envolvê-la nisso? - suspirou Eros.
- Será a última chance de Hipólito aprender a respeitar o amor. Ele não precisa vivê-lo, mas ao menos que respeite o sentimento. Ou enfrente as consequências.
- Eu não quero tomar parte nisso, mãe. Queria ficar aqui no meu cantinho, sem flechar ninguém que não estivesse disposto a viver o amor. Porém, lembro-me do que você fez com Psiquê. E não serei eu a provocar tua ira.
- Obrigada - sorriu, Afrodite, vencendo.

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(A lenda de Hipólito existe. Estou só fazendo uma releitura, me baseando principalmente na obra de Eurípides. Continua nos próximos posts.)

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