sábado, 17 de maio de 2014

Ptolomaica

- Eu gosto de poliedros.
- Eu gosto de vértices.
- Eu gosto de arestas.
- Ah, disso eu não gosto.
- Por quê?
- Acho que pela expressão "aparar arestas." Me traz a sensação de perdas.
- Eu não gosto de perdas.
- Nem eu. Quem gosta? Mas a gente aprende a lidar. A ressignificar. A sobreviver. A coexistir. A recomeçar.
- Eu gosto de ressignificar. Eu gosto da ideia de que "todos os fenômenos são vazios em sua essência".
- Eu gosto de budismo.
- Eu gosto de umbanda.
- Eu gosto de meditar.
- Eu gosto de rezar um terço.
- Voltemos aos poliedros. Eu gosto de geometria.
- Eu gosto de matemática.
- Eu gosto de astronomia.
- Eu gosto de astrologia.
- Eu gosto de Ptolomeu, das dignidades e debilidades planetárias.
- Eu gosto de astrologia moderna.
- Aí já é vandalismo. Ptolomeu era de Alexandria. Eu gostaria de Hipátia, mas os homens a mataram.
- Os homens matam demais. Não gosto disso.
- Nem eu. Eu gosto de estar viva.
- Eu também. Eu gosto de buscar.
- Eu gosto de achar.
- Eu gostaria, mas ainda não achei. Eu gosto de caminhar
- Eu gosto de você.
- Eu não. Sinto muito.

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