quinta-feira, 18 de julho de 2013

Voo

Cassandra acendeu um cigarro e se sentou no parapeito da sacada. Era um dia nublado. Cassandra tragou profundamente como se a fumaça pudesse preenchê-la, e soltou bem devagar. Cassandra lembrou-se de coisas. Olhou pra baixo.

Cassandra sentia-se pesada e exausta. Cassandra pensou "Por quantas vezes eu terei de profetizar minha tragédia?". Cassandra pensou:
"E se"
"E se"
"E se"
E Cassandra subiu no parapeito e olhou pra baixo, e pensou em pular.
Pensou em como seria cair por treze andares. Pensou no quanto doeria ao seu corpo chocar-se contra o chão. Pensou se a existência realmente cessa no instante que morremos, ou se existe algo imaterial que sobrevive. Pensou em como seria o mundo sem ela. Pensou nxs que sentiriam sua falta.


Por tantas vezes Cassandra havia chegado naquele ponto, de tantas formas.

E daquela vez Cassandra pulou.

E voou.


Cassandra descobriu que existe vida para além de se sentir miserável.

Cassandra descobriu que existe força na solidão.

Cassandra descobriu que mesmo as experiências mais insuportavelmente dolorosas de uma vida contém algum aprendizado.

Cassandra descobriu que sempre existe um caminho, e que traçá-lo cabe tão-somente a cada indivídux.

Cassandra descobriu que sempre é possível interromper o processo, mas que sempre é possível continuar e transcender o momento.

Cassandra ouviu King's Crossing e entendeu como sempre cada verso. Cassandra jamais acharia que Elliott Smith era alguém fora de si, alguém a ser internado, alguém que não estava se esforçando o bastante, alguém que havia entendido a vida errado.

Porque afinal, de dor, Cassandra entendia.

E ao voar, percebeu que entendia de sobreviver também.

4 comentários:

  1. e que o voar traga consigo a leveza <3

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  2. Nossa Gi, eu comecei a seguir teu blog e ele é realmente interessante. Esse teu texto me emocionou muito, a tua escrita é muito leve apesar de profunda. Me obriguei a reler escutando Elliott Smith e me surpreendi mais uma vez ♥

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  3. Are you flying, little miss?

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