sexta-feira, 23 de setembro de 2016

"você é uma sobrevivente do caralho"

para Luana e Louis, que também o são
para Aninha, que me entende obscuramente
e para Laravilhosa, por tanto amor de graça


o dano ficou mesmo sem intenção
percebe a fragilidade das coisas?
todo cuidado é pouco

ontem bêbada deixei minha caneta cair
debaixo da porta da sacada da casa
do meu amigo
na ânsia de tirá-la, enfiei ela mais pra dentro da porta
fora do alcance de meus dedos
ao final da noite pedi ajuda para pegar
e ele conseguiu fazer isso em poucos segundos
e é com ela que escrevo esse poema agora
esses fragmentos soltos, retalhos
de pensamentos

dormi mal a semana toda, exceto ontem
bendito e maldito é ocupar minha própria pele
sagrado ofício, intransferível
e tão doloroso

sou multiforme
multifacetada, lapidada na dor e no riso
densa como água escura, doce como água gelada
sinuosa como são os rios
mar adentro, vida afora
vida aflora
escorrendo pelos poros

e eu que tenho a memória
congestionada e parcialmente arruinada
pela depressão
lembro-me das roupas que usávamos
na primeira vez em que saí com ele
detalhe trivial que só comprova que
"A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu;
e ela não perderá o que merece ser salvo."
- Eduardo Galeano

"E é isso que quero: partilhar nosso tempo, embora nosso tempo
seja feito
de silêncios a anônimos
(...)
Sonho dobrar uma página dessas vozes todas. Todas minhas.
Sonho dobrar essas vidas de vozes que choram."
- Vítor Brauer - Dobrar (part. Marcelo Diniz)

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