terça-feira, 20 de setembro de 2016

navegar

19.09.16

tire o medo do caminho que eu vou passar com meu amor
segurar firme a mão do outro e pular
no abissal desconhecido
universo alheio
tire os calçados e deixe na porta de entrada
pise com cuidado ao entrar noutra alma

acenda uma vela pr'Oxum
talvez nem careça de perguntar pra sua orixá
se amor só é bom se doer
bom mesmo é viver
saúde a gente constrói
é no cotidiano convívio
e na confiança íntima, contínua, tácita
saúde no amor é dádiva

segurar firme a mão do outro e pular
respirar fundo e caminhar
(ou pedalar)
inspirar e expirar e sentir o gosto
o cheiro, o tato
a memória que outro corpo carrega
reciprocidade explícita é dádiva
tentativas que florescem e frutificam
fluem, nutrem
a alma

amar e permitir ser amada
ser amada e permitir amar
chorar lágrimas salgadas e aceitar
que estar perto exige encarar
os pedaços nossos que gostaríamos de negar
reuni-los e cantar uma canção
que una todos os ossos cansados
costurar os fragmentos de si soltos pela estrada
"desenha minha vida na tua"
borda meu caminho no teu

se as ondas escuras ameaçarem me tragar
sou sereia e vim de uma ilha
(ele também)
e nado furiosamente para não me afogar
posso mergulhar no mar escuro
se for para emergir maior
mais sã, mais inteira
pulsante
posso até aprender a surfar
importante é sobreviver
o melhor possível

fechar os olhos e sentir em cada poro
paixão
vibrante
sentir com consciência o quanto custa
o mero ser
e apesar de tudo isso
honrar as partes minhas em ti
e as tuas em mim
ousar viver o novo
e puxar pra mais um beijo
com gosto de lua e memória de mar.

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