sexta-feira, 31 de maio de 2013

Watchmen

"Enlouquecido pela impotência, amaldiçoei Deus e chorei, indagando se ele também chorava. Mas de que valem as lágrimas dele se sua ajuda me foi negada?
Meu pranto assustou as gaivotas. Elas partiram... e, em meio ao terrível silêncio, compreendi a verdadeira plenitude da palavra 'isolamento'.
Aquela noite, dormi mal sob estrelas distantes e frias, meditando sobre Deus, também frio e distante, em cujas mãos jazia o destino de Davidstown.
Estaria ele lá?
Teria estado antes e agora partido?
O sol matutino não me encontrou mais sábio ou menos perturbado. Logo adiante, na praia, vários cadáveres haviam se inflado com o gás. Eu me pus a enterrar carcaças encharcadas, emparelhando membros como pude. Com elas, soterrei todas as esperanças de sobrevivência de minha família.
Usando madeira flutuante, abri uma vala larga e profunda. Jamais vi ou imaginei tantos mortos. O meio-dia veio e se foi. Ao entardecer, a cratera estava ampla o bastante e tratei de rebocar aquelas coisas gélidas, mutiladas e disformes para o leito que havia preparado.
Arrastando e amaldiçoando, rogava para que minha esposa e filhas, quando chegasse sua vez, fossem carregadas por mãos mais gentis.
Tornei a chorar. Deus do céu, quem as protegeria?"

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