sábado, 4 de maio de 2013

Um ano de saudade, ou: Afetos não são mercantilizáveis

Eu comecei a vender cupcakes. Comecei bem no freestyle, então ainda me faltavam/faltam materiais, e por isso, quinta-feira fui numa cidade próxima comprá-los.

Fui num aglomerado de lojinhas. Por muitas, espalhavam-se cartazes sobre o dia das mães. "Compre uma panela/ tupperware/ joia/ calcinha para sua mãe!"

Dia 4 de maio de 2012, uma sexta, à noite, eu saí com o Alex. Estávamos ficando há umas duas semanas. Comecei despretensiosamente, mas me apaixonei. E nesse dia eu resolvi falar que estava gostando dele e preocupada em não ser recíproco. E começamos a namorar, e foi lindo.
Alex: Que dia é hoje?
Eu : 4 de maio.
Alex: Não é um dia muito massa pra fazer aniversário de namoro.
Eu: Por quê?
Alex: 4 é um número da morte pros japoneses.
Eu: Hmm...

Marcamos de nos encontrar no dia seguinte no shopping.

No dia seguinte, sábado de manhã, 5 de maio, mais ou menos 10h, ligam na minha casa. Meu irmão atende. Desliga e bate na porta do meu quarto com delicadeza, o que eu estranho, já que ele era extreamente grosso pra simplesmente abri-la quando resolvia me acordar porque "já tava tarde".

"Posso entrar?"
"Sim"
"Giovana... minha mãe morreu."
"Como assim? Como assim? Como assim?"

Comecei a chorar mas parei logo. Meu irmão me ofereceu um café, eu recusei. Fiz um chá. Ele disse que ela havia se matado em Abadiânia, GO. E que iria com outros familiares resolver burocracias do corpo. E eu disse que iria ver o Alex no shopping. Ele não tinha celular na época, eu não queria dar bolo.

Quando estávamos lá, contei o que havia acontecido e fomos tomar um café. Eu estava calma. Vi a vitrine, "Bolo das mães". Comecei a chorar. Assim como chorei muito quinta-feira voltando de Taguatinga, onde fui comprar as coisas pros cupcakes.

Mas o ônibus levou 1h30min e além de chorar eu refleti bastante. E refleti sobre o dia das mães.

Não sei se já dei presente de dia das mãe pra ela alguma vez na vida, mas se dei, foram com certeza pouquíssimas vezes. Ela não fazia nenhuma questão. Minha mãe dizia que não era, nas palavras dela, convencional, e de fato ela nunca foi, para o bem e para o mal.

Minha mãe com certeza diria que o dia das mães era só uma data comercial, como outras. E realmente é.

Afetos não são mercantilizáveis, não importa o quanto o capitalismo tente te convencer disso. Se eu pudesse presentear minha mãe esse ano, seria com mais compreensão, carinho e um pedido de perdão. Talvez eu levasse ela pra sair, mas não por causa do dia das mães, e sim porque eu quero.  Como já levei antes. Tendo momentos agradáveis ou com a gente se espezinhando. Mas para todos a vida é uma alternância de momentos, e hoje eu tenho consciência disso.

"Hoje eu faria
Algumas coisas de um jeito diferente
Levaria o "be kind" mais a sério
Mas eu não podia ser mais velha do que era"
http://abaixoagravidade.blogspot.com.br/2012/12/sobre-continuar.html

Dei o nome da minha "marca" de cupcakes de Diadorim. Diadorim é um protagonista de Grande Sertão: Veredas, do autor preferido dela: Guimarães Rosa. Cozinhar pra mim é um ato de amor. Também quero ter um dia um local para pessoas que precisem dormir e viver com o nome de Casa Beatriz.

A única coisa que posso fazer com a saudade, a dor, e o arrependimento, e as reflexões, e as experiências, é tentar evitar que me dilacerem e tentar sempre ser uma pessoa melhor, mais gentil e compassiva. Alguém que ela pudesse ter orgulho, se Deus quiser.

Ela entenderia que eu estou tentando, como ela tentou. Enquanto pôde e até o final.

Eu te amo, mãe. Espero que você esteja num lugar melhor.

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