um corpo que cai
ossos que quebram
pulmões cheios d'água
olhos também
gastrite nervosa
dentes rangendo
cabelos caindo
fôlego curto
dormir pra esquecer
dormir pra tentar esquecer
dormir pra ensaiar morrer
boca seca
vícios clandestinos
medo de se importar
medo de ser tocado
medo de amar
um emprego sem graça
uma graduação frustrada
falta de tempo
interações automáticas
saúde em segundo plano
mas culpa em primeiro
orar sem ter fé
descrer por ter ódio
livros não lidos
filmes mal assistidos
pedaços por toda parte
uma tonelada de saudades
buscas incessantes
e o eterno retorno ao vazio
velho conhecido
de quando o fado de viver
se torna abissalmente excessivo.
sábado, 4 de junho de 2016
domingo, 29 de maio de 2016
Aos pedaços
Eu perdi um amigo e então se abrem
as feridas antigas
as feridas do que restou do que sou
Eu perdi um amigo e agora acabou
de novo
a chance
de recomeço
eu perdi um amigo e não sei lidar
eu perdi minha mãe e achei que isso fosse me matar
Noites insones e o pesadelo era real
ela havia tirado a própria vida e não havia nada, nada
capaz de salvar
E agora o que faço do que restou
o que fazer com todos os pedaços
com todos os machucados
o que fazer num mundo tão hostil e cruel
que jamais cessa de mutilar
um coração já tão pesado
E o que faço agora com todos esses pedaços
dele, dela
de quem ficou e foi
o que faço com as metades arrancadas
prematuramente do coração de quem os amava
O que faço eu com todos esses pedaços de mágoa
com esses estilhaços de carne pesada
o que fazer com todas as partes fragmentadas
o que fazer de uma existência retalhada
O que fazer de si
para que imersos no caos abissal de sentir
ainda seja possível estar aqui
para que pareça viável seguir
para que possamos seguir
O que fazer da vida
que não seja morte
o que fazer da vida
para que não seja morte
para que se finde de forma diferente
O que fazer da vida e morte
para não sermos os próximos
para que não haja próximos
para que descansar nao exija cessar de viver
O que fazer da vida
para ela parecer digna de ser vivida
e não um entrave no caminho para os braços da morte
O que fazer da minha vida
para conseguir continuar viva
mais dias
apesar
do pesar
de pesar
e rasgar.
as feridas antigas
as feridas do que restou do que sou
Eu perdi um amigo e agora acabou
de novo
a chance
de recomeço
eu perdi um amigo e não sei lidar
eu perdi minha mãe e achei que isso fosse me matar
Noites insones e o pesadelo era real
ela havia tirado a própria vida e não havia nada, nada
capaz de salvar
E agora o que faço do que restou
o que fazer com todos os pedaços
com todos os machucados
o que fazer num mundo tão hostil e cruel
que jamais cessa de mutilar
um coração já tão pesado
E o que faço agora com todos esses pedaços
dele, dela
de quem ficou e foi
o que faço com as metades arrancadas
prematuramente do coração de quem os amava
O que faço eu com todos esses pedaços de mágoa
com esses estilhaços de carne pesada
o que fazer com todas as partes fragmentadas
o que fazer de uma existência retalhada
O que fazer de si
para que imersos no caos abissal de sentir
ainda seja possível estar aqui
para que pareça viável seguir
para que possamos seguir
O que fazer da vida
que não seja morte
o que fazer da vida
para que não seja morte
para que se finde de forma diferente
O que fazer da vida e morte
para não sermos os próximos
para que não haja próximos
para que descansar nao exija cessar de viver
O que fazer da vida
para ela parecer digna de ser vivida
e não um entrave no caminho para os braços da morte
O que fazer da minha vida
para conseguir continuar viva
mais dias
apesar
do pesar
de pesar
e rasgar.
A um amigo suicida
sexta, 27 de maio de 2016
A um amigo suicida
Não tenho nenhuma raiva
Não tenho nenhuma mágoa
Querido amigo
Não tenho a pretensão
De dizer que compreendi sua dor
Rasgando
Partindo
Ao meio
Estilhaçando pedaços de alma
O que tenho é amor
Para dizer
Queria que você tivesse sobrevivido
Queria que você
Estivesse aqui
Comigo, com elas
Eles, nosotros
Queria que você
Estivesse vivo
Cantando, sentindo
Respirando, abrindo
O caminho não traçado
Que levaria ao verdadeiro lar
Para que apesar de tudo
Você não se sentisse despedaçado
Eu queria que você acordasse amanhã
Talvez ainda triste, rasgado
Contudo, acordado
E então, querido amigo
Todos os abraços
E apoio
Toda forma de amor
Direcionaríamos a ti
Para que você pudesse seguir
E acordando ferido
Porém cercado de carinho
Você pudesse compreender
Na prática
Que passa
A dor passa
O desespero passa
O desamparo passa
A negação passa
A tristeza passa
Sim
Se seguir
Se seguir
Hoje você não está aqui
E te envio meu amor
Para que na hora de voltar
Você saiba
Que apesar de tudo
Você tem o direito de estar aqui
Inclusive, sendo feliz
Daqui deste lado
Envio amor a ti
Envio amor a ti
Envio amor a ti.
Não tenho nenhuma raiva
Não tenho nenhuma mágoa
Querido amigo
Não tenho a pretensão
De dizer que compreendi sua dor
Rasgando
Partindo
Ao meio
Estilhaçando pedaços de alma
O que tenho é amor
Para dizer
Queria que você tivesse sobrevivido
Queria que você
Estivesse aqui
Comigo, com elas
Eles, nosotros
Queria que você
Estivesse vivo
Cantando, sentindo
Respirando, abrindo
O caminho não traçado
Que levaria ao verdadeiro lar
Para que apesar de tudo
Você não se sentisse despedaçado
Eu queria que você acordasse amanhã
Talvez ainda triste, rasgado
Contudo, acordado
E então, querido amigo
Todos os abraços
E apoio
Toda forma de amor
Direcionaríamos a ti
Para que você pudesse seguir
E acordando ferido
Porém cercado de carinho
Você pudesse compreender
Na prática
Que passa
A dor passa
O desespero passa
O desamparo passa
A negação passa
A tristeza passa
Sim
Se seguir
Se seguir
Hoje você não está aqui
E te envio meu amor
Para que na hora de voltar
Você saiba
Que apesar de tudo
Você tem o direito de estar aqui
Inclusive, sendo feliz
Daqui deste lado
Envio amor a ti
Envio amor a ti
Envio amor a ti.
domingo, 24 de abril de 2016
"faltou mãe na sua vida"
um dia na casa do ex
fiz babaganoush
pra mãe dele, com carinho
carbonizei a berinjela na chama do fogão
bati no liquidificador, temperei
fiz meu melhor
ela disse que adorou
algum tempo depois, um dia
ao falarmos sobre o filho dela
ela disse
"aquele dia que você fez a pasta, eu percebi
que faltou mãe na sua vida
e ele tem a mim e não aproveita"
e aquilo me rasgou em várias direções
por ser verdade que ele não aproveitava
a mãe dele ali, viva
e me rasgou também o fato de,
mesmo eu tendo feito meu melhor ao cozinhar,
eu ter soado desajeitada, inábil
por ter mesmo me faltado mãe
e por minha mãe dizer, em tom de crítica
quando eu não morava mais com ela
sobre minhas roupas que ela achava não tão bem lavadas
(especialmente meias)
"está faltando mãe na sua vida"
e eu ficava incrédula e irritada
claro que estava
e ela estava viva
e nesses momentos, viva e crítica
mas nunca entendeu que quem ruiu nossa relação
foi ela, não terceiros
e por Deus, as meias eram o de menos
me faltou mãe
me faltava mãe
me falta mãe
todos os dias da minha vida
falta a minha mãe
e pra mim minhas roupas estão limpas o bastante
o que faltou foi a parte minha que ela levou junto
para o túmulo.
fiz babaganoush
pra mãe dele, com carinho
carbonizei a berinjela na chama do fogão
bati no liquidificador, temperei
fiz meu melhor
ela disse que adorou
algum tempo depois, um dia
ao falarmos sobre o filho dela
ela disse
"aquele dia que você fez a pasta, eu percebi
que faltou mãe na sua vida
e ele tem a mim e não aproveita"
e aquilo me rasgou em várias direções
por ser verdade que ele não aproveitava
a mãe dele ali, viva
e me rasgou também o fato de,
mesmo eu tendo feito meu melhor ao cozinhar,
eu ter soado desajeitada, inábil
por ter mesmo me faltado mãe
e por minha mãe dizer, em tom de crítica
quando eu não morava mais com ela
sobre minhas roupas que ela achava não tão bem lavadas
(especialmente meias)
"está faltando mãe na sua vida"
e eu ficava incrédula e irritada
claro que estava
e ela estava viva
e nesses momentos, viva e crítica
mas nunca entendeu que quem ruiu nossa relação
foi ela, não terceiros
e por Deus, as meias eram o de menos
me faltou mãe
me faltava mãe
me falta mãe
todos os dias da minha vida
falta a minha mãe
e pra mim minhas roupas estão limpas o bastante
o que faltou foi a parte minha que ela levou junto
para o túmulo.
segunda-feira, 11 de abril de 2016
até hoje
fico surpresa
quando alguém
me ama de verdade
e não digo nem romanticamente
mas nos campos da amizade
anos de solidão imprimiram um certo senso
de rejeição
e ainda me comovo e surpreendo um pouco
quando alguém me ama de verdade
ainda que eu ache que mereça
ainda que eu tanto dê
e é bom ser amada
romanticamente faz tanto tempo
que é melancólico lembrar
como era ser amada da cabeça aos pés
por alguém
desejada, querida
era doce ser profundamente amada
mesmo adoecida mentalmente
mesmo com a psique
toda desorganizada
hoje depois de tudo e com o auxílio do avô tempo
melhorei muito
a melancolia ainda existe
mas agora, é bem mais acompanhada de autonomia
como posso, caminho com meus próprios pés
ainda busco, contudo, algo profundo
e que eu possa eventualmente me conectar
novamente
com uma alma que queira
se conectar com a minha
verdadeiramente.
fico surpresa
quando alguém
me ama de verdade
e não digo nem romanticamente
mas nos campos da amizade
anos de solidão imprimiram um certo senso
de rejeição
e ainda me comovo e surpreendo um pouco
quando alguém me ama de verdade
ainda que eu ache que mereça
ainda que eu tanto dê
e é bom ser amada
romanticamente faz tanto tempo
que é melancólico lembrar
como era ser amada da cabeça aos pés
por alguém
desejada, querida
era doce ser profundamente amada
mesmo adoecida mentalmente
mesmo com a psique
toda desorganizada
hoje depois de tudo e com o auxílio do avô tempo
melhorei muito
a melancolia ainda existe
mas agora, é bem mais acompanhada de autonomia
como posso, caminho com meus próprios pés
ainda busco, contudo, algo profundo
e que eu possa eventualmente me conectar
novamente
com uma alma que queira
se conectar com a minha
verdadeiramente.
segunda-feira, 21 de março de 2016
teto
quando olho pra fotos de épocas passadas
sou a mesma pessoa doce e cansada
que só quer um colo pra chamar de lar
mas ninguém é teu lar
tornar alguém isso é acabar sempre sem teto
casa é dentro
bagunçada ou não.
sou a mesma pessoa doce e cansada
que só quer um colo pra chamar de lar
mas ninguém é teu lar
tornar alguém isso é acabar sempre sem teto
casa é dentro
bagunçada ou não.
abissal
"é preciso ter asas quando se ama o abismo"
mas com tanto abismo interno
pra que buscar outro lá fora?
minhas asas de Ícaro estão derretendo
e eu nunca chego
cada momento de extrema ternura me faz acreditar estar próxima
e eu nunca chego
e busco, procuro, insisto, respiro fundo
tiro cartas
e me indago
por quê?
e acreditei: conseguirei porque o amor é grande
e nunca chego
porque grande que seja, não bastará nem suprirá
quem escolheu ser difícil de alcançar
quem quer ser impossível de alcançar
e eu não chego
e é mais fácil alcançar seu rosto para um beijo
do que alcançar um coração sombrio que ele quer tornar inalcançável
meu amor é grande
mas é só meu
não vai transpôr o intransponível
o abismo que carrego já é fardo pesado demais
para alguém que não queira estar lá
eu estando no seu
eu estando nas portas do seu abismo e cansada de bater a porta
pedindo pra entrar
peço então licença pra me retirar
volto quando for chamada
volto quando for bem vinda
volto quando for querida
do contrário
"pra que correr tanto se eu não vou te alcançar?
pra que deixar esse encanto em mim
se há tanto mar."
mas com tanto abismo interno
pra que buscar outro lá fora?
minhas asas de Ícaro estão derretendo
e eu nunca chego
cada momento de extrema ternura me faz acreditar estar próxima
e eu nunca chego
e busco, procuro, insisto, respiro fundo
tiro cartas
e me indago
por quê?
e acreditei: conseguirei porque o amor é grande
e nunca chego
porque grande que seja, não bastará nem suprirá
quem escolheu ser difícil de alcançar
quem quer ser impossível de alcançar
e eu não chego
e é mais fácil alcançar seu rosto para um beijo
do que alcançar um coração sombrio que ele quer tornar inalcançável
meu amor é grande
mas é só meu
não vai transpôr o intransponível
o abismo que carrego já é fardo pesado demais
para alguém que não queira estar lá
eu estando no seu
eu estando nas portas do seu abismo e cansada de bater a porta
pedindo pra entrar
peço então licença pra me retirar
volto quando for chamada
volto quando for bem vinda
volto quando for querida
do contrário
"pra que correr tanto se eu não vou te alcançar?
pra que deixar esse encanto em mim
se há tanto mar."
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