banho quente
roupas quentes
cobertores
para sentir-me aquecida
e menos só
estou tão cansada
e não sei se é do dia cheio
dos exercícios
ou de chorar.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
terça-feira, 6 de maio de 2014
sobrevivente
e quando eu me sinto tão mal quanto me sinto
ao menos tenho o consolo
de estar viva
e ter lavado louça hoje
é exatamente todo esse esforço
que me deixa cansada quase de forma perpétua
eu queria descansar
e não há horas de sono o bastante
para descansar de ser eu mesma
e de sentir tudo tanto o tempo
todo.
ao menos tenho o consolo
de estar viva
e ter lavado louça hoje
é exatamente todo esse esforço
que me deixa cansada quase de forma perpétua
eu queria descansar
e não há horas de sono o bastante
para descansar de ser eu mesma
e de sentir tudo tanto o tempo
todo.
domingo, 4 de maio de 2014
O Peixe
"Eu sou daime, eu sou amor
A estrela que vem chegando, ela vem me iluminando na estrada do amor"
https://www.youtube.com/watch?v=wYTT_czUVBY
Tem coisas que são tão lindas, tão lindas, que parece que me doem um pouco. Essa música é uma delas.
Esta, de Oxum, em iorubá, é outra: https://www.youtube.com/watch?v=eSxEZBzgJ10
Outra é essa aqui: O Peixe.
https://www.youtube.com/watch?v=eSxEZBzgJ10
Um dos autores dessa música era um baixista por quem minha mãe foi apaixonada. E eu amo essa música. Ela tem um crescendo maravilhoso. Parece que vai florescendo, crescendo, sinuosa, errante, mas certa, vibrante, rítmica, viva, viva, dentro de mim e chegando num ápice tão lindo.
E aí, às vezes, eu choro.
Esse ano, eu estava voltando do trabalho quando ouvi uma música ao vivo em uma das ruas e resolvi atravessar para ouvir mais de perto. Bati o olho no letreiro: Guinha Ramirez, que havia sido amigo da minha mãe e um dos membros dessa banda. E, na sequência, começaram os primeiros acordes de O Peixe.
E eu chorei. Chorei. Chorei. Na frente de todo mundo, dos músicos que ficaram espantados com minha reação, do próprio Guinha, que não me reconheceu, pois provavelmente tinha me visto pela última vez quando eu tinha uns 7. E hoje eu tenho 19.
Minha mãe tatuou um peixe dourado na nuca por causa dessa música (ou desse músico). O peixe foi inspirado na capa de This Desert Life, do Counting Crows. Outra banda que ela amava. Outro músico que ela admirava.
E eu um dia me tornarei música. Canto bem, toco mal. Escrevo bem. Amo bem.
Uma vez, em 2011 ou 2012, minha mãe foi me ver, e ela estava muito, muito triste. E disse-me que pedia desculpas por ter me colocado no mundo (eu sempre disse que ela devia se desculpar por isso), que havia sido um ato de profundo egoísmo para fugir da solidão, mas que havia funcionado, porque eu era a pessoa mais parecida com ela no mundo.
E ela também era a pessoa mais parecida comigo.
Sinto saudades. Tem dias que é doce, tem dias que rasga. Nesse exato momento, adoça mais do que rasga. Mais tarde, não sei.
Por mais de um ano, essa lembrança dela dizendo que pedia desculpas me atormentou, porque ela finalizou esse diálogo dizendo que esperava que um dia eu encontrasse um lugar para mim, porque ela nunca encontrara.
E por Deus, como isso me destruía. A dor de saber que ela passou 53 anos neste plano sem sentir que tinha encontrado seu lugar, a dor de eu aos 18 ainda não ter encontrado e ter perdido totalmente as esperanças de encontrar. Eu achei que acabaria como ela. Por diversas vezes, tive certeza.
Já não acho isso. Acho que há sim lugar no mundo pra mim, embora eu ainda precise achá-lo. E acho, também, que viver de um jeito são, honesto, limpo, amoroso e artístico é um tributo muito mais adequado ao meu amor por ela do que segui-la precocemente, violentamente. Prefiro mostrar minha lealdade honrando o que ela acreditava.
Que minha vida seja um tributo à sua memória, a gratidão que tenho a ela por ter me posto aqui, e a Deus por estar me dando as oportunidades de curar-me. Às vezes sinto tristeza por querer que ela desfrutasse disso, da cura, do poder de uma comunidade espiritual amorosa. Contudo, ela dizia que a melhor forma de agradar uma mãe era ser gentil com os filhos. Que de alguma forma meu bem-estar a nutra, do outro lado. Sinto saudades da minha mãe Maria. Ela rege o meu astral.
Como diria Saramago, "Encontramo-nos noutros sítios."
E como diria Guimarães Rosa, o escritor preferido dela, "Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura."
Que meu amor nos cure a ambas. Que Deus te embale até nosso reencontro. Que mamãe vá em paz e possa retificar-se na próxima. Que descubra a fagulha divina dentro de si.
Que mamãe seja luz. Como, no fundo, sempre foi pra mim.
A estrela que vem chegando, ela vem me iluminando na estrada do amor"
https://www.youtube.com/watch?v=wYTT_czUVBY
Tem coisas que são tão lindas, tão lindas, que parece que me doem um pouco. Essa música é uma delas.
Esta, de Oxum, em iorubá, é outra: https://www.youtube.com/watch?v=eSxEZBzgJ10
Outra é essa aqui: O Peixe.
https://www.youtube.com/watch?v=eSxEZBzgJ10
Um dos autores dessa música era um baixista por quem minha mãe foi apaixonada. E eu amo essa música. Ela tem um crescendo maravilhoso. Parece que vai florescendo, crescendo, sinuosa, errante, mas certa, vibrante, rítmica, viva, viva, dentro de mim e chegando num ápice tão lindo.
E aí, às vezes, eu choro.
Esse ano, eu estava voltando do trabalho quando ouvi uma música ao vivo em uma das ruas e resolvi atravessar para ouvir mais de perto. Bati o olho no letreiro: Guinha Ramirez, que havia sido amigo da minha mãe e um dos membros dessa banda. E, na sequência, começaram os primeiros acordes de O Peixe.
E eu chorei. Chorei. Chorei. Na frente de todo mundo, dos músicos que ficaram espantados com minha reação, do próprio Guinha, que não me reconheceu, pois provavelmente tinha me visto pela última vez quando eu tinha uns 7. E hoje eu tenho 19.
Minha mãe tatuou um peixe dourado na nuca por causa dessa música (ou desse músico). O peixe foi inspirado na capa de This Desert Life, do Counting Crows. Outra banda que ela amava. Outro músico que ela admirava.
E eu um dia me tornarei música. Canto bem, toco mal. Escrevo bem. Amo bem.
Uma vez, em 2011 ou 2012, minha mãe foi me ver, e ela estava muito, muito triste. E disse-me que pedia desculpas por ter me colocado no mundo (eu sempre disse que ela devia se desculpar por isso), que havia sido um ato de profundo egoísmo para fugir da solidão, mas que havia funcionado, porque eu era a pessoa mais parecida com ela no mundo.
E ela também era a pessoa mais parecida comigo.
Sinto saudades. Tem dias que é doce, tem dias que rasga. Nesse exato momento, adoça mais do que rasga. Mais tarde, não sei.
Por mais de um ano, essa lembrança dela dizendo que pedia desculpas me atormentou, porque ela finalizou esse diálogo dizendo que esperava que um dia eu encontrasse um lugar para mim, porque ela nunca encontrara.
E por Deus, como isso me destruía. A dor de saber que ela passou 53 anos neste plano sem sentir que tinha encontrado seu lugar, a dor de eu aos 18 ainda não ter encontrado e ter perdido totalmente as esperanças de encontrar. Eu achei que acabaria como ela. Por diversas vezes, tive certeza.
Já não acho isso. Acho que há sim lugar no mundo pra mim, embora eu ainda precise achá-lo. E acho, também, que viver de um jeito são, honesto, limpo, amoroso e artístico é um tributo muito mais adequado ao meu amor por ela do que segui-la precocemente, violentamente. Prefiro mostrar minha lealdade honrando o que ela acreditava.
Que minha vida seja um tributo à sua memória, a gratidão que tenho a ela por ter me posto aqui, e a Deus por estar me dando as oportunidades de curar-me. Às vezes sinto tristeza por querer que ela desfrutasse disso, da cura, do poder de uma comunidade espiritual amorosa. Contudo, ela dizia que a melhor forma de agradar uma mãe era ser gentil com os filhos. Que de alguma forma meu bem-estar a nutra, do outro lado. Sinto saudades da minha mãe Maria. Ela rege o meu astral.
Como diria Saramago, "Encontramo-nos noutros sítios."
E como diria Guimarães Rosa, o escritor preferido dela, "Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura."
Que meu amor nos cure a ambas. Que Deus te embale até nosso reencontro. Que mamãe vá em paz e possa retificar-se na próxima. Que descubra a fagulha divina dentro de si.
Que mamãe seja luz. Como, no fundo, sempre foi pra mim.
sábado, 3 de maio de 2014
gratidão II
ser
é a melhor coisa que já me aconteceu
eu diria que a segunda foi ser
na graça do Eterno
porém são bênçãos
indissociáveis
sou um livro aberto
e lindo.
é a melhor coisa que já me aconteceu
eu diria que a segunda foi ser
na graça do Eterno
porém são bênçãos
indissociáveis
sou um livro aberto
e lindo.
monogamia
quanto mais conheço pessoas
mais sinto sua falta
quanto mais conheço pessoas
mais penso
"eis uma oportunidade inexplorada
...que preguiça
não vale o que custa"
que saudade
mais sinto sua falta
quanto mais conheço pessoas
mais penso
"eis uma oportunidade inexplorada
...que preguiça
não vale o que custa"
que saudade
sexta-feira, 2 de maio de 2014
fora de lugar
eu tentei me enforcar
eu tentei tomar
uma porrada de fluoxetina
que era dela
eu tentei me enforcar
eu parei de tentar
eu quis o acolhimento dela
mas não tive de fato
ela tentou tomar chumbinho
ela conseguiu tomar chumbinho
ela foi
eu fiquei
eu tentei alugar um quarto de hotel pra pular
eu tentei injetar vaselina na veia
eu tentei tomar
uma porrada de venlafaxina
que era minha
tive uma crise de ansiedade fabulosa
mas não deu
eu fiquei
eu fiquei
ela foi, eu fiquei
eu tô aqui
e tem dias que dói muito
tem dias que dói demais
tem dias que massacra
mas eu tô aqui
eu fiquei.
(inspirado por weltschmertz, disponível aqui http://fundodocopoprofundo.blogspot.com.br/2014/04/weltschmertz.html?showComment=1399068914293#c1351038815734675771)
eu tentei tomar
uma porrada de fluoxetina
que era dela
eu tentei me enforcar
eu parei de tentar
eu quis o acolhimento dela
mas não tive de fato
ela tentou tomar chumbinho
ela conseguiu tomar chumbinho
ela foi
eu fiquei
eu tentei alugar um quarto de hotel pra pular
eu tentei injetar vaselina na veia
eu tentei tomar
uma porrada de venlafaxina
que era minha
tive uma crise de ansiedade fabulosa
mas não deu
eu fiquei
eu fiquei
ela foi, eu fiquei
eu tô aqui
e tem dias que dói muito
tem dias que dói demais
tem dias que massacra
mas eu tô aqui
eu fiquei.
(inspirado por weltschmertz, disponível aqui http://fundodocopoprofundo.blogspot.com.br/2014/04/weltschmertz.html?showComment=1399068914293#c1351038815734675771)
quinta-feira, 1 de maio de 2014
abstrações
escrevo
exaustivamente
incansavelmente
sobre o que ainda não aprendi a superar
e escrevo
verborrágica, desesperada
ora desnuda, ora tácita
"arrebento a alma no papel"
ou na tela
para depois passar os dedos de leve nos cortes
e constatar que parecem sangrar menos após o exercício
de expurgo
escrevo
para expiar
ora escrevo para celebrar a vida
ora escrevo porque não a suporto
escrevo sobre o que amo
e sobre como queria parar de amar
ou sobre a diferença entre amor
e apego
escrevo
porque sinto muito
e pra não pirar
nem repetir para os meus amigos as mesmas coisas
de sempre
escrevo, escrevo
as palavras sempre me foram mais familiares
acessíveis
e terapêuticas
do que a vida
escrevo pra não morrer
e pra viver
parece redundante
ou hiperbólico
mas a um exame mais atento
há um bocado de literalidade aí
e de coexistência
alternância
de sentimentos
escrevo
e bendita seja a literatura
prosa e poesia
minha alfabetização precoce
e minha mãe intelectual
pois sei que a escrita
nunca me faltará
nunca me falhará
caio f. dizia que escrever
era como meter o dedo na goela para vomitar
e que tinha de sangrar
a-bun-dan-te-men-te
cada um que escreva como queira
mas eu também escrevo assim
sagradas as palavras que transmutam minhas angústias
em algo mais fácil de lidar
mais claro
mais belo
ou talvez
só um pouco mais externo
minha obra é repetitiva
na medida em que são repetitivas minhas angústias
minha obra é criativa
na medida em que preciso sê-lo para encontrar estratégias
minha obra é só minha
na medida que amei o que produzia antes mesmo de aprender a amar a mim.
exaustivamente
incansavelmente
sobre o que ainda não aprendi a superar
e escrevo
verborrágica, desesperada
ora desnuda, ora tácita
"arrebento a alma no papel"
ou na tela
para depois passar os dedos de leve nos cortes
e constatar que parecem sangrar menos após o exercício
de expurgo
escrevo
para expiar
ora escrevo para celebrar a vida
ora escrevo porque não a suporto
escrevo sobre o que amo
e sobre como queria parar de amar
ou sobre a diferença entre amor
e apego
escrevo
porque sinto muito
e pra não pirar
nem repetir para os meus amigos as mesmas coisas
de sempre
escrevo, escrevo
as palavras sempre me foram mais familiares
acessíveis
e terapêuticas
do que a vida
escrevo pra não morrer
e pra viver
parece redundante
ou hiperbólico
mas a um exame mais atento
há um bocado de literalidade aí
e de coexistência
alternância
de sentimentos
escrevo
e bendita seja a literatura
prosa e poesia
minha alfabetização precoce
e minha mãe intelectual
pois sei que a escrita
nunca me faltará
nunca me falhará
caio f. dizia que escrever
era como meter o dedo na goela para vomitar
e que tinha de sangrar
a-bun-dan-te-men-te
cada um que escreva como queira
mas eu também escrevo assim
sagradas as palavras que transmutam minhas angústias
em algo mais fácil de lidar
mais claro
mais belo
ou talvez
só um pouco mais externo
minha obra é repetitiva
na medida em que são repetitivas minhas angústias
minha obra é criativa
na medida em que preciso sê-lo para encontrar estratégias
minha obra é só minha
na medida que amei o que produzia antes mesmo de aprender a amar a mim.
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