terça-feira, 24 de setembro de 2013

missionária da melancolia

sou a missionária da melancolia
missionária da nostalgia
missionária da poesia
missionária da empatia

e às vezes, só às vezes, missionária da alegria
mas nessa função
fico confusa
me perco

sou sensível em demasia para estar sempre alegre
mas tenho compaixão o suficiente no coração para tentar sempre ser, ao menos, acolhedora

às vezes nem isso consigo
às vezes tenho êxito
e sorrio
radiante
ou melancolicamente.

(lua em câncer, lua em câncer)

fluxo

penso
sinto
peso
suspiro

reflito
teorizo
reorganizo

escrevo
apago
reescrevo
penso melhor:
não, não

só queria poder deixar fluir
escorrer a palavra amorfa pelos dedos
transcrever o fluxo
transgredir o tudo

queria poder gritar a verdade
mas sempre achei que não é grandes bosta ser honesta
isso não é mais do que a obrigação
e não é uma boa razão para ser vil 
sempre detestei quem é cruel e diz que está apenas falando a verdade
existem tantas formar de dizer a verdade
e não só tergiversar como um covarde
mas dizê-la como é sem esquecer-se da empatia

não acredito que precisamos lembrar às pessoas para serem gentis
todes sentimos dor
isso não seria razão o bastante para procurar a delicadeza?

somos todes falíveis
somos todes projetos
somos todes inacabados
e somos todes valiosos
de alguma forma

abençoade és se você não precisou da vida inteira pra perceber isso.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

uno

meu amor não é legião, não
é só um
que eu me esforço diuturnamente para transformar em inspiração
e não em peso
não bola e corrente em meus calcanhares
mas em asas

eu poderia, agora, fumar um cigarro
na janela
pensando sobre nós
sobre seu sorriso
seu sorriso
seus lábios
seus olhos tão escuros
e tão expressivos
ninguém tem olhos no formato dos teus
parei de fumar
não parei de lembrar

quase todo mundo se apaixona
e quase todo mundo se envolve
pelo menos uma vez
afinal, no final
me sinto grata por me lembrar dessas coisas
me lembrar dos abraços
e das pernas enlaçadas
e de tantas piadas
e xícaras de café

me lembro da lealdade
inabalável
me lembro do amor
da confiança
da intimidade
imperturbável
impenetrável

no final
estou feliz
por amar
amar e só
sem exigir reciprocidade
sem exigir nada
sem fingir nada
sem fugir e sem me forçar 
só sorrir
e sentir
em cada partezinha de mim
amor
tão real
e pulsante
quanto a vida.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

dura lex, sed lex


meu pensamento sempre volta a você
eu não te vejo pessoalmente há 4 meses
você está a 1700km de distância
e eu penso em você  o-tempo-todo
e às vezes
eu sinto sua presença de um jeito físico, íntimo e
inexplicável
mas acho que é coisa da minha cabeça
acho que se tivéssemos algum tipo
de ligação espiritual
seria mútua
não unilateral

às vezes eu me pergunto se nossa história realmente existiu
mas tenho fotos
e testemunhas
e lembranças muito complexas para serem forjadas
afinal, não sou psicótica
só alguém atormentada por saudades
do intangível.

(se eu pudesse fazer um acordo com deus*,
eu não trocaria nossos lugares.
mas faria um acordo de que, caso ele exista,
ele te proteja e te ajude a encontrar sua paz.

a minha, encontrei. falta algo. mas cá está.)

* http://www.youtube.com/watch?v=xH6AOaqVsGA

querer bem

espero que a essa hora
você esteja dormindo
e que seus sonhos
sejam
doces

espero que amanhã você acorde
e que seu dia seja
doce
e que mesmo combatendo contra o mundo
seu coração não doa

espero que você tenha um amor
para celebrar e viver
e que seja
doce

eu te desejo, em suma,
o que não tenho
ou
o que me escapou pelas mãos
mas sou uma moça persistente
e vou retomar minha vida
e serei tão feliz quanto desejo que você seja

um dia.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Pasta azul da minha mãe

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Com escritos e desenhos meus e dela, desde talvez 1999
Eu tinha só 5 anos
Mas nossa sinfonia era tão afinada
A conexão não era sanguínea ou genética
Era de alma

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Ficaria tudo blue, como ela dizia
Embora "tudo blue" significasse "tudo bem", não "tudo triste"
Triste fico eu pois sei que jamais terei novamente aquela pasta

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Eu levaria os poemas dela ao sarau do Palavreado
Eu mostraria aos presentes a força da palavra
De uma mulher considerada louca
De uma mulher considerada irresponsável
Uma mulher que desviava da norma
Uma mulher soberbamente divergente
Três caracteres de um CID
Não dão nem sombra de toda a genialidade dela
A inefável subjetividade dela
Ou a minha, também patologizada

Se eu pudesse reaver aquela pasta azul
Declamaria pra vocês aqueles poemas
Mas jamais terei novamente
Só posso oferecer minha própria palavra
Da herdeira marcada pela loucura, amor, ausência e perda
O resto é silêncio, e saudade.

pânico

acabei de passar por algo horrível
e senti uma necessidade tão forte de falar com ele quanto a de fumar e chorar
mas agora já não sou apenas dependente emocionalmente
também sinto vontade de falar sobre quando estou ótima e me sinto feliz por estar viva
contenho essa vontade
porque sei que não devemos mais nos falar

mas hoje eu precisei falar
não precisei de ti
mas precisei saber da tua existência
e fingir que posso contar com ela
para que isso fosse suportável.

desculpa.