domingo, 23 de abril de 2017

outono

15.04.2017

todo ano eu feneço em maio
todo ano no outono
eu tenho fenecido

todo ano no outono eu pereço
um pouco
desfolham e desbotam alegrias
melancolia no meu peito
nos pulmões
todo ano eu pereço um pouco
na primavera com sorte ressuscito
refloresço
restabeleço
outro pouco
(mas nunca o mesmo)

em cada maio maldito me arde
a ausente presença da falta
a saudade que sinto
de minha mãe

todo setembro amarelo percebo
e constato
que tenho andado viva por aí
por aqui

Deméter sem Perséfone
a ninfa sem a mãe
torna-se a rainha do mundo dos mortos
não desposei Hades
reino como posso
e encaminho quando consigo
Caronte leva os mortos em sua barca
a moeda debaixo da língua
dos defuntos
servia para pagá-lo
e os pretos velho amparam as almas
em cada beco
ou encruzilhada
(Laroyê)

e apesar de toda falta
encontro caminhos
cedo a um ou outro lenitivo
morro com os ciclos para poder
permanecer

folhas secas pelo chão
devem prenunciar
abrigo n'algum lugar
seco e amarelo
com o Sol da plenitude
que vislumbrei num dia
em que quis seguir
e, de alguma forma
consegui
sobrevivi.

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