quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Insegurança

Acho que até meus doze anos, eu não tinha muita consciência da minha aparência. Quando comecei a ter, comecei a detestá-la.

Eu sou muito branca. Na segunda série, me zoaram algumas vezes por isso. Embora no sul tenha mais gente clara, Florianópolis tem praia e as pessoas iam nela e pegavam um bronze, diferentemente de mim, haha. Eu amo o mar, mas minha mãe nunca podia me levar. Nota: hoje em dia, acho o mar de Floripa muito gelado. Piçarras, em SC também, é bem mais agradável.

Então, primeiramente, eu era"branca demais". Com olheiras. Não era coradinha, nem loira (só quando bem nova), nem de olhos claros, pro maldito padrão. Baixinha. Mais tarde, lá pelos 14, percebi que eu também era "magra demais" (39kg pra 1,54m, mais ou menos).

Passei a odiar meu corpo - meus seios pequenos, minhas coxas "finas e tortas", que faziam eu não querer usar shorts, meus olhos pequenos, meu nariz batatinha, minhas bocechas, minha testa grande. Meu sorriso.

Ah, meu sorriso. Acho que até meus 13 eu não percebia que ele era torto. Quando percebi, fodeu. Eu o detesto. Fui num ortodontista que colocou aparelho em várias pessoas da minha família, e que, pelo que vi na internet, tem doutorado. O ortodontista pediu radiografias e recusou meu caso porque envolve cirurgia. Fiquei triste. Passei a não gostar do meu queixo também, já que aparentemente ele é o responsável pela necessidade de cirurgia de avanço mandibular.

Enfim. Eu me sentia feia, eu culpava minha aparência pelas rejeições amorosas, e eu me sentia fútil por me importar com ser feia.

Quando eu percebi, principalmente via internet, porque minhas poucas amigas não falavam disso, quantas mulheres maravilhosas, admiráveis, inteligentíssimas e etc. também sofreram ou sofrem com insegurança, foi um alívio. Um alívio meio assustador e preocupante, porque isso é muito, MUITO mais comum do que eu imaginava.

Não somos fúteis nem estúpidas por nos importamos com a aparência. Isso nos é cobrado diariamente. A piada do Rafinha Bastos sobre estupro é um bom exemplo: é engraçado (???) zoar mulher feia (e/ou gorda), porque é como se elas fossem menos mulheres, menos humanas. Como se estivessem falhando em algo fundamental para o gênero feminino: a beleza, a delicadeza, a vaidade. Como se essas coisas fossem completamente naturais, e não construídas. Como se, de fato, o padrão de beleza atual fosse acessível e NECESSÁRIO para todas as mulheres. Como se gordas, ou magrelas, ou negras "do cabelo ruim" (?), enfim, não pudessem ser felizes até que tentassem ao máximo possível se adequar ao padrão. Padrão esse que ajuda a criar a anorexia, a bulimia, a auto-mutilação, o ódio contra nós mesmas e a insegurança.

Então, eu tenho um recado pra você, mulher:

VOCÊ É LINDA.
Nossa sociedade que é fodida.

Tente acreditar nisso. Eu sei que é difícil. Frequentemente, eu olho pro espelho e me sinto feia, desproporcional, barriguda (e olha que tenho 62cm de cintura haha). Mas eu tento olhar pro que gosto em mim, e me questionar porque não gosto do resto. Bem ou mal, aceitei minhas coxas finas e uso bastante saia e vestido hoje em dia, aprendi a gostar da minha cor da pele, dos meus seios pequenos, do meu nariz. Tive ajuda, hoje é por conta própria. Continuo tentando, porque, feio ou não, esse é o corpo que carrega minha alma e, apesar de tudo, acho que valho alguma coisa.


NOTA: Eu foquei esse texto em insegurança relativa a aparência porque a Esther ( http://twitter.com/#!/Mexy_ ) falou disso hoje; se eu falar sobre a insegurança sobre a minha personalidade........ não. Não quero.

8 comentários:

  1. O que mais me chateia são mulheres criticando umas as outras. Se aceitar para aceitar o outro, aceitar o outro para se aceitar.
    Bonito texto, obrigada por partilhar seu íntimo.

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  2. ótimo texto, gi, falou tudo!
    e, não que isso vá fazer alguma diferença, mas só reafirmando que você é linda, por dentro, por fora, tem o sorriso LINDO (de verdade <33 juro juro juro) e ainda é estilosa pra carai :~~
    mas acho que é isso, né? aproveitar os dias que a gente se sente bem e fugir do espelho nos outros hahaha!

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  3. Lindo texto, Gi. Eu gosto de ler sobre as inseguranças de outras garotas, especialmente qdo gosto delas e as admiro, me faz sentir vontade de abraçar e falar como são lindas. =~ E vc É linda. Caramba! É incrível como nos vemos deformadas no espelho... como crescemos assim, e fizeram isso conosco. Eu me identifiquei com qdo vc falou q não tinha mta consciencia da própria aparencia até certa idade, e de repente se deu conta e odiou. Comigo foi igual, haha! Apesar de q quando pequena eu já tinha o sonho de ser "loira de olhos azuis", pq queria ser uma princesa igual às da disney... mas nao chegava a me achar horrível ou me odiar nem nada. Só queria ser linda.
    E eu passei por um periodo mto ruim na puberdade, fiquei realmente esquisita, meu cabelo armou, fiquei cheia de espinhas, eu queria fugir de mim mesma, me achava indigna de coisas boas, de ser amada, me achava suja, imperfeita, grotesca. Foi meio recentemente q comecei a gostar mais de mim - a adolescencia bravia passou, me tornei mais "eu", desencanei (quase) de algumas coisas. Mas antes disso nunca tive a oportunidade de ser bonita. Nunca fui uma jovem em plenos 18 anos com um corpinho perfeito e durinho, bundinha redonda, peitinhos no lugar, como essa img da "juventude" q se vende. Desde nova já tinha celulite, achava meu corpo com um formato estranho, meus peitos meio caídos. Passei anos contando calorias, tentado emagrecer, me sentindo fracassada.
    Sinto q se eu tivesse descoberto o feminismo mais cedo, esses tempos teriam sido mto melhores... eu teria uma idéia melhor do q estava acontecendo, e como me defender de tudo isso.

    Ah, já escrevi demais... e isso tudo tbm sem entrar no mérito de inseguranças de personalidade, hahaha!! Mas eu queria q constasse aqui: eu te acho LINDA, e doce e inteligente! ♥ E, oras, vc É.

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  4. te acho tão a cara daquelas mulheres dos anos 60,70. tou sempre te imaginando de pin up, hahaha.
    sério, você é linda, linda mesmo.

    na minha adolescência (tenho 28 anos) o sexy era ter seios pequenos. os meus eram "grandes" pro padrão e eu sempre tinha muita vergonha de usar determinadas blusas. vivi um paradoxo estranho: como toda mulher que cresceu numa sociedade patriarcal, aprendi a sentir ódio do meu corpo, ódio de mim mesma. mas por outro lado eu sempre odiei a sexualização do corpo feminino. e eu sentia vergonha dos meus seios porque os homens olhavam, comentavam, porque chamavam atenção. eu não queria aquilo, tentava evitar e me sentia culpada por não conseguir. minha luta foi sempre passar despercebida. o que mais me confundiu, sempre, foi esse ódio misturado com a vontade de desaparecer, de não ser notada pelos homens como um pedaço de carne.

    descobri o feminismo há alguns anos e é libertador, né? mas como concluímos hoje na solidariedade feminazi, é uma luta diária, é difícil, é doído, é complicado. e engraçado você falar de insegurança quanto a personalidade, porque sempre observei as feministas punk rock hardcore lindas, contestando padrões, e pagava pau mesmo, achando que elas se sentiam ótimos consigo mesmas. e eu, de tão insegura, sempre fiquei as admirando em silêncio. e de repente descubro que não. elas não são tão seguras o quanto pensei que fossem. e minha admiração cresce porque, porra, são inseguras, mas tão corajosas de ser o que são.

    todos os dias descubro um pouquinho mais sobre ser mulher.

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  5. "porque sempre observei as feministas punk rock hardcore lindas, contestando padrões, e pagava pau mesmo, achando que elas se sentiam ótimos consigo mesmas. e eu, de tão insegura, sempre fiquei as admirando em silêncio. e de repente descubro que não. elas não são tão seguras o quanto pensei que fossem. e minha admiração cresce porque, porra, são inseguras, mas tão corajosas de ser o que são."

    EXATAMENTE oq ocorreu comigo, tbm. =)
    Eu me sentia até meio inferior nesse sentido tbm, tipo, "po, não to fazendo jus ao feminismo... elas sim são feministas de verdade, sendo autênticas e seguras e mandando os padrões de beleza patriarcais se foder, queria ser q nem elas".
    Mas no final, estamos todas realmente juntas nisso. Mesmo.

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  6. AIII QUE COMENTÁRIOS LINDOS AQUI <3333

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  7. JESUS AMADO, VOCÊ ME DESCREVEU, FOI ISSO NÉ.

    <3

    atualmente desencanei mais dos padrões de beleza, mas na época que estudei no imaculada (quinta-série e sétima-série) acho que foi o ápice de tudo. As pessoas julgam pq não temos um sorriso perfeito, não vestimos tais roupas ou porque usamos óculos. Depois que sai taquei um foda-se em tudo, tentei me procurar, saber qual era minha beleza, ser segura do meu corpo. Hoje estou um pouco mais feliz, mas as marcas ficam para sempre.

    o importante é você feliz e o resto pode explodir haha

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  8. Eu já comentei no facebook, vim aqui pra dizer que voce me inspirou a escrever nesse blog que tava jogado às traças há quase um ano!
    http://petit-saumensch.blogspot.com/

    Eu acho que me impolguei e acabei escrevendo demais, então entendo se não queira ler haha

    Ah, sobre o texto, maravilhoso... sabes muito bem que admiro sua forma de pensar cada vez mais ao passo que vejo a mulher que você está se tornando.

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