terça-feira, 16 de agosto de 2016

sobre medos e amores II

as pessoas tem medo da palavra amor
e eu tenho medo da palavra suicídio
as pessoas tem medo da vulnerabilidade
e eu tenho medo dessa variação perversa de morte
violência brutal auto-infligida
violência simbólica da falta, da ausência
para sempre marcada na carne e na alma de quem fica

as pessoas tem medo da palavra amor,
e eu tenho medo, porque conheço,
do vácuo do excesso de dor
que resulta
num suicídio
e sua notícia

as pessoas tem medo da palavra amor
e nenhum medo nessa vida é fraqueza
eu, no entanto, temo outras coisas
e me dou o luxo de amar e sentir imensamente
e enxergar nisso fortaleza
("it takes strength to be gentle and kind",
gravei na pele)

as pessoas tem medo da palavra amor
e respeito, contudo, meu maior medo e receio
meu maior gatilho nessa vida
é a palavra suicídio
não é a palavra morte
nem despedida
nem rejeição
meu maior gatilho é a palavra suicídio
porque perpassa uma miríade de acúmulos
de sofrimentos indizíveis
que resultam na dicotomia absurda e dolorosa
da dor de não querer mais ficar viva
e a dor de ficar viva
após alguém que tinha uma parte nossa
partir assim

há quem tenha medo da palavra amor
mas eu amo muito e sempre
e digo
porque triste mesmo para mim
é morrer dessa forma supradita
tristeza de fato para mim não é não ouvir "eu também"
tristeza é querer e nunca mais pode dizer isso
para alguém ouvir
viva. vivo.

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