sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Apaixonar é se perder. Perder-se também é caminho.

Talvez o ápice da paixão seja um pouco incompatível com a vida. Pathos, patologia, paixão: mesma etimologia. Talvez, porém, um certo nível de paixão seja exigência para as poetas. Não necessariamente por alguém, mas facilita.

Em todo caso, a pulsão imensa, a ânsia, sentir o coração mais forte, sentir suas batidas por todo corpo. Sentir as mãos suadas, ou geladas, ou tremendo. Sentir uma angústia criativa, se bem direcionada. Destrutiva, se não contida ou transmutada. Ser roída viva pela violência transbordante de um sentimento. Passionalidade, a onda que traga. Afogar-se no outro. Ou em si. Um mar de possibilidades.

Há quem tente resistir. Eu não tentei.

Aceitei. Me entreguei. Entrei no mar.

Afoguei?

Não sei.

Tenho tentado aprender a nadar. Entrar no mar com cautela. Bóias seriam de todo inúteis. Talvez entrando no mar com mais calma. Com mãos calmas.

Os impulsos são viscerais, contudo.

E o mar alheio é sempre incógnita. É escuro, e mesmo os mares mais límpidos e turquesa guardam segredos. Todo mar tem mistérios. Todo mar é mistério.

Sou d'Oxum. Amo e respeito Iemanjá, sou uma boa filha das águas. As minhas, porém, são as doces e geladas. A água da cachoeira e dos rios. Suave e sinuosa, a água boa de beber. Água que nutre. O amor é o domínio dela, Oxum, orixá da beleza e da riqueza.

Desconheço riqueza maior do que amar e ser amada, inclusive.

Oxum também é senhora das lágrimas. "Pergunte ao seu orixá: amor só é bom se doer?" Preferível sempre que não doa. Mas se a dor é inerente a vida, como não ter suas aparições no amor, que é vida pura?

Vida que pulsa. Vida que finda. Vida que pune e recompensa. Vida que sangra e que cura, vida que aspiramos arduamente tornar digna de ser vivida.

Paixão é a patologia de amar com tal intensidade que beira a loucura. O desespero. Paixão é falta de controle.

Apaixonar é se perder.
"Perder-se também é caminho."

Tracemos caminhos doces. Abandonemos os que traem a nós.

Pois se o amor não for libertário e emancipatório, criação e autonomia, se o amor não for potência que liberta e rompe limites, então o que será?

"Amor livre? Como se o amor pudesse ser outra coisa que não livre!" - Emma Goldman

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