quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

por todas mis relaciones II

para minha madrinha amada Lua Bittes

tenho estado à flor da pele
mas de um jeito bom
de um jeito doce


de quando a imensidão da vida
multiforme
mareja os olhos
e é sentida no peito
e no entanto
não intoxica de desespero
emerge o clarão
do entendimento que leva ao seguimento

em julho de 2013 eu decidi escolher a vida
em maio de 2015 foi difícil manter a decisão
fevereiro de 2016
e eu reitero os votos

tenho estado à flor da pele
mas de um jeito bom
de um jeito doce
de quem quer viver
e não quer morrer
sabe?
eu sei.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

por todas mi relaciones

amor mole em alma dura
tanto bate até que cura?

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

depois da queda

Para Kenah, Clarisse e Juliana

eu amei um rapaz
e eu o amei
tão profundamente
tão intensamente
tão desesperadamente
que mesmo amando tantas outras coisas
eu queria deixar a Terra
quando a jornada junto a ele
acabou

nove meses depois
a vida floresceu em mim
a poetisa em mim
a curandeira em mim
a cozinheira em mim
a amiga em mim
a irmã em mim
o ser divino em mim
todas as partículas emergiram
e continuam a emergir
e seguindo e buscando
eu fui encontrando significados
razões e sentires

eu lembro daquele dia no hospital
e eu lembro que a dor era tão imensa que eu sentia que ela me deformava
e eu tinha quase vergonha das amigas minhas que estavam ali
e elas me viram num estado de desespero tão cru
e me amaram
e eu as amei
e tenho amado tanta gente
não romanticamente
e meus pedaços pela estrada
não são metades arrancadas
são fagulhas do eterno
são pedaços cintilantes lapidados na dor
são pedaços de cristais
com os quais presenteio minhas irmãs
e meus iguais.

domingo, 24 de janeiro de 2016

dormir só

durante as madrugadas
eu penso em quem eu amo
e do lado de quem não durmo mais

e eu me pergunto
se as pessoas que me amaram
também pensam
vez ou outra
no calor do meu corpo pequeno
do lado cama virado pra parede

eu preciso aprender a dormir sozinha
sem tatear pela cama
a falta de um corpo
que me desse segurança
eu preciso parar de procurar um lar
em outro corpo
e me contentar com um teto
com meus gatos
me contentar com o calor do meu próprio corpo
quarenta e poucos quilos de saudades

às vezes eu acho que se eu pudesse curar
a falta da minha mãe
subitamente, peças se encaixariam
minha psique se reorganizaria
e viver
doeria menos
mas cada falta e cada ausência
e cada perda e cada abraço
interrompido
são como sal esfregado nas feridas
são metáforas da saudade
e da dor que nunca passa.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Shine on you crazy diamond

Eu queria escrever um conto sobre saudades.

Sobre transcendê-las.

Eu gosto dos meus contos curtos.

Eu gosto das minhas metáforas e,
como escrevi uma vez,
escrever é a minha metáfora para sobreviver.

Eu queria escrever um conto sobre saudades
sobre como, apesar de tudo
a gente vive com elas
a gente sobrevive a elas
de todas as espécies

Eu queria escrever um conto bonito e eufônico sobre a falta
as faltas
metades soltas das saudades

Como já escrevi, também
quando escrevo sou rainha de um império imaterial
E ao escrever esse conto
eu sentiria que reescrevo levemente minha história
nesse conto haveria alguma lição moralizante sobre escolher lidar
escolher seguir
e ressignificar
as faltas

E eu não consegui escrever esse conto
essa noite
são quase 3 da manhã
e meus olhos estão cansados
e meu coraçãozinho está fatigado
de um jeito que esgota as ideias das metáforas
adequadas
para transmitir esse tipo
de esperança

fica um poema com pouco brilho
um poema que é o que deu pra ser
como todos somos, no final das contas
os sobreviventes do que conseguimos ser
no final das noites.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

umidade

talvez meu problema com aquela cidade
seja me lembrar dela:
minha mãe.

cresci ali
mas em verdade
sua falta estende-se por todo lugar
está em todos
pedaços dilacerados
de mim

quero que esse ano acabe
por mais arbitrário que o  calendário seja
quero que meia-noite do 31 eu consiga de algum jeito constatar
que sobrevivi
mais um ano
apesar.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

tempo perdido

queria de volta o tempo que passei com ele
queria que devolvessem
não por ter sido ruim
mas precisamente por ter sido sempre
permeado pelo amargo doce
da efermeridade

(doce demais pra acabar tão rápido
amargo demais pra poder ter durado
resta-me me contentar com o que de fato houve
com o que de fato tive
queria ainda assim
que tivesse seguido
e sido bom.)