sábado, 9 de junho de 2018

sobrevivência

o capitalismo existe, infelizmente
e já que existe tangível
e cobra sua materialidade
às custas de nossa carne
a resistência passa pelo corpo

descosturemos nossos lábios
e bocas silenciadas
encher o pulmão de ar para clarear as ideias
e também para gritar

costurar laços de solidariedade
real
uma jovem mulher suicidou-se
e as aulas no prédio fatídico
foram mantidas no dia seguinte
a única resposta aceitável para isso
seria a via da ação direta
incendiar a reitoria
mas eu tenho, nós temos
medo

a miríade de acúmulos de catástrofes
que, por vezes, chamamos de capitalismo neoliberal
pode ser quantificada com uma série de números
há porém diversas tragédias anônimas
toda prisão é política
e, ao meu ver, todo suicídio também
não estamos no vácuo
o social nos perpassa
e frequentemente nos mata
no plano simbólico
ou um corpo no chão

Elly, presente
Maria Beatriz, presente
Gabriel Mosna, presente
Ariadne, presente
e também eu estou presente
a despeito das feridas
sigo e permaneço viva e combativa
pois o ódio que sinto pelo sistema
e aos que dele se beneficiam
sem sentirem nenhum pesar
este meu ódio é a expressão política do meu amor
pelas pessoas, pela natureza, por mim mesma

no solo árido de um capitalismo assassino, capataz,
cruel, algoz
existem sementes de revolta
não joguemos agrotóxicos
não precisamos do glifosato
ou benzoato de emamectina

adubemos nosaas sementes de ódio, revolta e revolução
com o amor contra-hegemônico
de quem sabe que outro mundo é possível
um mundo verdadeiramente humano
em que caibam muitos outros mundos
que cada lágrima de quem luta
irrigue este solo
e que a esperança brote e floresça
em nós que ainda estamos
por aqui

eu quero menos suicídios
e mais molotovs.

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