quinta-feira, 23 de junho de 2016

catando os cacos

para Beatriz, que me inspira e a quem me conecto
para ela que carrega o mesmo nome da minha mãe 
mas diferentemente dela, tem conseguido com maestria permanecer viva

o suicídio é minha cicatriz indelével
são hesitation wounds 
profundamente gravados na minha pele 
e na minha carne
ainda que invisíveis 

e pessoas que não se sentem assim
simplesmente não entendem 
curioso eu já ter ouvido que parecia alegre
que não parecia depressiva 

não é mentira
mas também não é muito verdade 

eu tenho olhos cansados
e um coração cheio de amor 
eu tenho esperanças gastas 
e outras tantas renovadas 

eu carrego minha cicatrizes 
eu sei muito bem o quanto sou pesada 

eu não devo minha vida a ninguém 
ela pertence a mim
apossando-me dela, hoje quero viver 
é pesado, sim, existir
eu o sei bem demais 
eu passei tempo demais tolerando mal a vida
na ânsia de poder sumir um dia 

e eu sumirei um dia 
não hoje, porém 
hoje recolho a bagunça pelo quarto 
e as mágoas peso tristeza melancolia angústia desespero saudade
traumas 
saudade de uma casa que nunca foi minha 
hoje escolho recolher todos esses cacos 
e criar algo pra fora
que expresse a ambivalência de dentro 
sem contudo eu ser uma poetisa suicida

estou tentando ser uma poetisa viva.

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