quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Eu queria que você estivesse aqui

Eu queria que você estivessse aqui.

Em primeiro lugar, eu te abraçaria. Eu te abraçaria como me arrependo amargamente de não ter feito a última vez que nos vimos. Eu te abraçaria como tenho sonhado fazer, e acordo com o coração doendo, doendo, doendo. Eu te abraçaria apertado e forte como você fazia comigo e como faço com quem gosto.

Eu te apresentaria ao meu namorado. Você gostaria dele no início, e depois não mais, como fazia com qualquer pessoa, me frustrando até a exaustão. Mas ele é bom pra mim. Ele me salvou um pouco do terror que é sua ausência.

Eu discutiria com você sobre os livros que tenho lido. Eu te falaria sobre a faculdade, a aula de Antropologia. Eu te falaria sobre o brilhantismo da Beauvoir ao aplicar o conceito de alteridade a Mulher. Eu te levaria em palestras, caso você quisesse.

Eu te mostraria Amanda Palmer, e as músicas novas que toco no violão. Eu cozinharia pra você.

Você conheceria minha casa nova. Você veria como os gatinhos estão enormes.

A gente poderia conversar sobre biopoder. A gente poderia conversar sobre qualquer besteira.

Você veria minhas metamorfoses capilares. Você veria meus pilcens. Você veria meus dentes se ajustando ao aparelho.

Eu te contaria sobre como a solidão persiste. E você entenderia tudo, na hora, porque partilhamos isso em comum desde que você me pôs nesse mundo escroto. Você também o achava escroto.



Eu perdi minha mãe. Mas eu não perdi só a mulher que tinha meu sangue e me criou, não. Eu perdi minha companheira, minha amiga, minha origem. Perdi minha família. Perdi a pessoa que mais me conhecia e entendia nesse mundo, não por, como no estereótipo materno, apenas conviver comigo, mas porque éramos tão parecidas. Divergentes em muita coisa, mas irmãs de alma no essencial.

"É preciso ser íntegro até a dureza nas questões do espírito para tão-somente suportar a minha seriedade, a minha paixão." - Nietzsche. Você tinha bom gosto, mãe.

A saudade continua numa espiral intoxicante.

Eu penso em você todos dias. Eu espero que, se há alguma coisa depois dessa vida, que seja melhor, porque você sofreu muito. E espero que de alguma forma nossos espíritos se encontrem no ar um dia e eu possa te abraçar e ver seu sorriso de novo. Eu espero que eu possa ver seus olhos sem tristeza. Espero acima de tudo que você não sofra. Porque eu já sofro o bastante por nós duas.

Eu queria que você estivesse aqui. E eu sei que seria muito mais difícil pelos próximos anos do que vai ser. Mas você sempre disse pra eu sair da zona de conforto. Dessa vez, eu sairia. Eu prometo que eu sairia.


Queria que você tivesse orgulho de mim, hoje. Você teria? Eu não tenho.


"E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão."
Você me perdoaria? Porque eu não consigo me perdoar.

Um comentário:

  1. Só queria poder te dar um abraço agora. Queria que essas lágrimas que escorreram no meu rosto enquanto lia isso pudessem, de alguma forma, te confortar ou coisa parecida.

    Não posso dizer que entendo a sua dor, mas posso dizer que estarei aqui sempre que quiser sofrer num colo.

    <3
    ;*

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