eu tomei um trem para uma viagem
dentro de alguém
e o trem sacolejava e eu persistia
e meu estômago embrulhava e eu persistia
o trem era escuro
e denso
eu tomei o trem e andei
e andei
querendo ir além
querendo encontrar
querendo conhecer
querendo merecer
e 'as vezes apesar do trem ser a viagem
na qual persisto
me pergunto se há destino final
ou se viajarei de estômago embrulhado
para sempre.
sábado, 24 de janeiro de 2015
domingo, 28 de dezembro de 2014
"That’s what really scares me.
Falling in love is easy. Having sex is easier. But bumping into someone that can spark your soul - that shit is rare.
Falling in love is easy. Having sex is easier. But bumping into someone that can spark your soul - that shit is rare.
You could fuck four, five, all the people in a god damned room and you’d only feel a connection with one. Or none at all.
And what sucks is despite the undeniable real magnetic pull between the two of you, more often than not, you don’t end up together.
I’m afraid I won’t meet anyone else I can connect with.
I’m scared it’ll be just you.”
—Connection, Sade Andria Zabala
—Connection, Sade Andria Zabala
quinta-feira, 9 de outubro de 2014
Meninas
Para Yasmin Souza
Eu gosto de crianças, embora não conviva muito com elas. Gosto especialmente de meninas. Acho que elas são menos escutadas. Acho que elas ouvem muito sobre serem lindas, comportadas e doces, e ouvem pouco sobre serem elas mesmas. Sobre ser permitido a elas vicejar.
Gosto das meninas e busco ouvi-las porque fui eu própria uma menina com muito a dizer e execrada por ser muito inteligente. Hoje penso na minha insegurança com a minha própria aparência e no quanto eu ouvia que era feia e não consigo dissociar disso do desconforto que minha inteligência causava nos meninos da minha escola. Olhando minhas fotos, eu não acho que eu era uma criança feia. Acho que eu era bonita. Receio pensar a mesma coisa aos 22 olhando minhas fotos atuais, aos 20. E acho, também, que eu era uma criança e que eu não deveria ter aprendido desde cedo a vincular minha aparência ao valor que me seria dado em sociedade.
Essa era eu com 10 anos, aliás
Voltando a digressão. Não é fácil ser uma menina. Se é difícil ser mulher, ser menina pode ser muito complicado também, porque as crianças são pouco levadas a sério. E eis que você é uma criança do gênero socialmente inferiorizado.
Eu fui uma menina muito melancólica. Muito só. Os livros foram meu consolo. Aprendi a ler muito nova, com 4 anos, acho, sozinha. Era Jardim alguma coisa e a professora nos disse o som de cada letra e como cada letra era. Um dia, andando com a minha mãe no nosso bairro, li na frente de uma casa de câmbio. "Alugo mobilete". Minha mãe dizia que eu li isso sem hesitar, sem gaguejar. Ela começou a rir muito alto - eu fiquei meio assustada. Enfim. Eu lia muito quando era criança. De Pedro Bandeira a mitologia grega. Com 10 anos li Revolução dos Bichos e apaixonei. Li também dois livrinhos do Voltaire e adorei.
Se hoje eu, com 20 anos, ainda me sinto só, frágil e deslocada, às vezes, ser uma menina era muito pior.
Uma vez eu conheci uma menina de 8 anos que ajudava a cuidar dos irmãozinhos e tentava lidar com a saudade do pai, que desencarnou (faleceu) quando ela tinha 3. Ela era canceriana. Eu convidei ela pra sentar no meu colo e conversamos. Eu disse que era ótimo que ela fosse tão forte, mas que ela não podia se esquecer de que era uma criança, e que segurar mais do que ela conseguia, um dia poderia fazer ela não aguentar mais. E eu disse que isso aconteceu comigo, e que eu não queria que acontecesse com ela. Ela disse "obrigada, tia".
Se um dia eu tiver uma filha, tudo que gostaria era de poder fortalecê-la na infância mais do que foi possível que me fortalecessem. Porque esse tipo de herança é sagrada. Sei, contudo, que minha mãe lidou o melhor que podia.
Nesse dia das crianças, que todas as meninas um dia possam ser livres de um sistema misógino que mina a potência mulheres que elas merecem se tornar.
Eu gosto de crianças, embora não conviva muito com elas. Gosto especialmente de meninas. Acho que elas são menos escutadas. Acho que elas ouvem muito sobre serem lindas, comportadas e doces, e ouvem pouco sobre serem elas mesmas. Sobre ser permitido a elas vicejar.
Gosto das meninas e busco ouvi-las porque fui eu própria uma menina com muito a dizer e execrada por ser muito inteligente. Hoje penso na minha insegurança com a minha própria aparência e no quanto eu ouvia que era feia e não consigo dissociar disso do desconforto que minha inteligência causava nos meninos da minha escola. Olhando minhas fotos, eu não acho que eu era uma criança feia. Acho que eu era bonita. Receio pensar a mesma coisa aos 22 olhando minhas fotos atuais, aos 20. E acho, também, que eu era uma criança e que eu não deveria ter aprendido desde cedo a vincular minha aparência ao valor que me seria dado em sociedade.
Essa era eu com 10 anos, aliás
Voltando a digressão. Não é fácil ser uma menina. Se é difícil ser mulher, ser menina pode ser muito complicado também, porque as crianças são pouco levadas a sério. E eis que você é uma criança do gênero socialmente inferiorizado.
Eu fui uma menina muito melancólica. Muito só. Os livros foram meu consolo. Aprendi a ler muito nova, com 4 anos, acho, sozinha. Era Jardim alguma coisa e a professora nos disse o som de cada letra e como cada letra era. Um dia, andando com a minha mãe no nosso bairro, li na frente de uma casa de câmbio. "Alugo mobilete". Minha mãe dizia que eu li isso sem hesitar, sem gaguejar. Ela começou a rir muito alto - eu fiquei meio assustada. Enfim. Eu lia muito quando era criança. De Pedro Bandeira a mitologia grega. Com 10 anos li Revolução dos Bichos e apaixonei. Li também dois livrinhos do Voltaire e adorei.
Se hoje eu, com 20 anos, ainda me sinto só, frágil e deslocada, às vezes, ser uma menina era muito pior.
Uma vez eu conheci uma menina de 8 anos que ajudava a cuidar dos irmãozinhos e tentava lidar com a saudade do pai, que desencarnou (faleceu) quando ela tinha 3. Ela era canceriana. Eu convidei ela pra sentar no meu colo e conversamos. Eu disse que era ótimo que ela fosse tão forte, mas que ela não podia se esquecer de que era uma criança, e que segurar mais do que ela conseguia, um dia poderia fazer ela não aguentar mais. E eu disse que isso aconteceu comigo, e que eu não queria que acontecesse com ela. Ela disse "obrigada, tia".
Se um dia eu tiver uma filha, tudo que gostaria era de poder fortalecê-la na infância mais do que foi possível que me fortalecessem. Porque esse tipo de herança é sagrada. Sei, contudo, que minha mãe lidou o melhor que podia.
Nesse dia das crianças, que todas as meninas um dia possam ser livres de um sistema misógino que mina a potência mulheres que elas merecem se tornar.
quinta-feira, 18 de setembro de 2014
buscando
eu quero ser artista
escritora
poeta
cantora
curadora
e não um ser triste
empacado
eu quero caminhar
e seguir
e rir
gargalhar
eu quero fascinar-me
com o mundo
e não sentir falta
de quem não está aqui
e nunca esteve
eu quero o colo
e o amparo
que não ouso pedir
no receio de não receber
eu sigo
buscando
o dia
em que aprenderei
a lidar
sem me paralisar.
escritora
poeta
cantora
curadora
e não um ser triste
empacado
eu quero caminhar
e seguir
e rir
gargalhar
eu quero fascinar-me
com o mundo
e não sentir falta
de quem não está aqui
e nunca esteve
eu quero o colo
e o amparo
que não ouso pedir
no receio de não receber
eu sigo
buscando
o dia
em que aprenderei
a lidar
sem me paralisar.
terça-feira, 26 de agosto de 2014
eu sou vida e perfeição
haverá um dia
no qual eu vou
desencarnar
e seja qual for o jeito
final
pouco importará
haverá um dia no qual
meu espírito vai desprender-se
deste corpo material
vai elevar-se
e vai descansar
haverá um dia
no qual o prazer sensorial
do mais complexo ao mais banal
cessará
haverá um dia no qual
meu corpo será
matéria inerte
eu não temo esse dia
tampouco o desejo
sobretudo não o temo
posto que um dia chegará
posto que "somos seres espirituais
vivendo experiências humanas"
neste dia, quando chegar
o que realmente quero
o que realmente espero
é ter deixado um legado de amor
na terra
o que realmente quero
é que a identidade de Giovana
tenha sido mais do que um ego
e tenha sido uma alma que fez mais
do que existir
e sobreviver
o que realmente quero ter deixado
são corações mais aquecidos
pela compaixão
e empatia
haverá um dia no qual irei desencarnar
e para quem as lágrimas serão inevitáveis
espero que haja ombros e vozes a lembrar
que há um outro lado
haverá um dia no qual serei luz
resplandecente; iridescente
pura energia
circulando pelo astral
por todos os jardins, hospitais e as mais belas paisagens
da cosmologia sideral
eu não temo este dia
e tampouco o desejo
faz apenas um ano
que deixei de desejá-lo;
um ano em que tatuei meu peito
com um "choose life"
eu não temo nem desejo
uma partida precoce mais
sem apego e sem medo
quero celebrar o hoje
e tudo que virá
que minhas mãos criem
que minhas palavras curem
que meus braços abracem
que meus lábios cantem
que assim seja
e assim é.
no qual eu vou
desencarnar
e seja qual for o jeito
final
pouco importará
haverá um dia no qual
meu espírito vai desprender-se
deste corpo material
vai elevar-se
e vai descansar
haverá um dia
no qual o prazer sensorial
do mais complexo ao mais banal
cessará
haverá um dia no qual
meu corpo será
matéria inerte
eu não temo esse dia
tampouco o desejo
sobretudo não o temo
posto que um dia chegará
posto que "somos seres espirituais
vivendo experiências humanas"
neste dia, quando chegar
o que realmente quero
o que realmente espero
é ter deixado um legado de amor
na terra
o que realmente quero
é que a identidade de Giovana
tenha sido mais do que um ego
e tenha sido uma alma que fez mais
do que existir
e sobreviver
o que realmente quero ter deixado
são corações mais aquecidos
pela compaixão
e empatia
haverá um dia no qual irei desencarnar
e para quem as lágrimas serão inevitáveis
espero que haja ombros e vozes a lembrar
que há um outro lado
haverá um dia no qual serei luz
resplandecente; iridescente
pura energia
circulando pelo astral
por todos os jardins, hospitais e as mais belas paisagens
da cosmologia sideral
eu não temo este dia
e tampouco o desejo
faz apenas um ano
que deixei de desejá-lo;
um ano em que tatuei meu peito
com um "choose life"
eu não temo nem desejo
uma partida precoce mais
sem apego e sem medo
quero celebrar o hoje
e tudo que virá
que minhas mãos criem
que minhas palavras curem
que meus braços abracem
que meus lábios cantem
que assim seja
e assim é.
segunda-feira, 25 de agosto de 2014
segunda-feira, 18 de agosto de 2014
2.4
faz dois anos
e quatro meses
que escrevo
para ele
ou sobre ele
faz dois anos
e quatro meses
que amo igual
ou exponencialmente
nunca murchou
nunca regrediu
dois anos
e quatro meses
e eu só quero
poder andar
lado a lado
sem temer
mais um adeus
e quatro meses
que escrevo
para ele
ou sobre ele
faz dois anos
e quatro meses
que amo igual
ou exponencialmente
nunca murchou
nunca regrediu
dois anos
e quatro meses
e eu só quero
poder andar
lado a lado
sem temer
mais um adeus
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