quinta-feira, 6 de junho de 2013

"Do or do not. There is no try."

Sempre achei essa frase meio cruel. Mas no momento ela faz muito sentido.

Atirei para todos os lados na tentativa de melhorar. Recebi elogios entusiasmados de quem gosta de mim por isso. Vender cupcakes, ir na prática de Tara Vermelha, ler mais, sair de casa, fazer planos de toda espécie.

Contudo,
estou igual. Não adiantou. Não adiantou.

Tentei muitas coisas. Não tentei outras tantas. Sempre teremos deixado possibilidades inexploradas.

Mas minha energia acabou. Meu ânimo acabou. Minha esperança acabou. Minha persistência acabou.

"E se tudo mais falhar,
[sempre esperei a morte."

The final cut

Uma vez sonhei, pouco depois do suicídio da minha mãe, que ela me mandava uma carta vinda do céu. Literalmente. Nela, minha mãe dizia que lá todo mundo era legal e tal, mas que ela estava chateada/decepcionada por eu não ter ido junto com ela.

A pior parte é que eu sempre quis.

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Keep walking

Eu não quero salvação. Eu quero um caminho. Um caminho do meio.

Eu não exijo companheirxs. Já não tenho mais idade para cobrar eternidade dos laços. Às vezes as pessoas se vão até sem querer. Mas quem quiser caminhar ao meu lado, que venha. Será bem acolhidx, sempre. E, se quiser ir embora, eu vou entender. Eventualmente. Sem ressentimentos, sempre.

Eu não quero - nunca mais - remédios. E eu não quero creditar a ninguém o peso de ser eu, porque esse fardo-fado é só meu. "A existência precede a essência", e, se eu me tornei isso, eu também posso lutar para reverter o que sinto como bola & corrente na construção do meu futuro.

Eu não quero ser uma sombra do meu passado, e não quero ser uma sobrevivente exausta que se sente constantemente quebrada de um jeito irrecuperável. Eu não sou um copo quebrado grudado grosseiramente com Superbonder - eu sou uma pessoa cujas cicatrizes existem, contudo, não precisam só doer e sangrar. Não precisam ser contempladas com auto-piedade. Podem só ficar lá, talvez. Podem sumir com o tempo.

Eu ainda tenho muitos livros para ler. Ainda tenho muitos textos e quadrinhos para ler. Eu ainda tenho muitas comidas a cozinhar, muitos doces a fazer com amor. Eu ainda tenho muitas conversas a conversar e muitos sorrisos a trocar. Eu ainda tenho muitas gentilezas com estranhxs a trocar. Eu ainda tenho muito carinho a fazer em meus gatxs, talvez outrxs gatxs a adotar. Eu ainda tenho muito bem a realizar. Eu ainda tenho muita indignação a ser convertida em luta por quem tem menos voz do que eu. Eu ainda tenho meu pai a conhecer. Eu ainda tenho lágrimas a chorar, e eu ainda tenho de deixar certas dores irem embora. E viver é exatamente isso. É um processo.

Eu não estou decidida a viver porque estou escandalosamente feliz por algum acontecimento. Eu não estou prometendo nada, aliás. Eu estou decidida a continuar tentando porque acho que nesse processo de dor-desconstrução-reconstrução-aprendizado-experiências-amores-saudades-ausências-transitoriedade-recomeços-hiatos ainda existe muita coisa inexplorada.

E sempre vai haver. O desconhecido não vai ser sempre um consolo, e haverá dias em que a consciência de que essas partes ruins são inerentes ao processo me deixará péssima. Todavia, como disse ela, "Quando chegar ao limite, se segure só mais um pouco."


Tem funcionado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Amar e só

talvez o mais importante no amor
não seja a existência de reciprocidade
e sim o que fazer do sentimento
também não é sobre mergulhar de cabeça ou fugir
e sim sobre permitir a ele curar
deixá-lo preencher seu ser
como um bálsamo em feridas antigas
deixá-lo transformar e melhorar quem se é
inspirar-se em crescer e cuidar

então talvez esteja tudo bem em ser unilateral
porque viver e celebrar o amor talvez seja
bem mais do que precisar ser amado
talvez só amar já baste, se é sincero.

domingo, 2 de junho de 2013

As horas

comecei a escrever poemas porque o amava
procurei terapia porque o amava
obriguei-me a continuar viva porque o amava
e de um jeito ou outro isso permanece
isso se segue
quantos amores tem um saldo tão imensamente positivo?

há a hora de chorar a dor da saudade
e da possível impossibilidade
e há a hora da gratidão absoluta pelo privilégio de ter vivido tudo que vivi
sentido tudo que senti
amado como amei
ter sido amada como por 17 anos sonhei
o timing foi errado sob certos ângulos
e perfeito de outros
há a hora de chorar por talvez não poder continuar
e há a hora de sentir-se abençoada por ter tido a honra de tentar

e no final o amor que você pega nem sempre é igual ao amor que você fabrica
e isso não importa
nem todo amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura, com todo respeito, Guimarães Rosa
mas se sincero já é muita coisa
se usado pra tentar fazer o bem já é muita coisa
e se salvou alguém já foi muita coisa
se valeu estar viva, já foi mais do que qualquer coisa.


sábado, 1 de junho de 2013

Imperfeito

- Não podia ter sido diferente.
- Sempre pode.
- Desculpa.
- Nunca culpei.


Mikko Kuorinki