domingo, 6 de maio de 2012

In memoriam

Você está no meu jeito de abraçar. No meu jeito de gostar de mãos, de ser prestativa e atenciosa com quem eu gosto. Você está na minha atenção com os detalhes. Você está no meu jeito de amar.

Você está nas minhas mãos que se tornaram levemente marcadas por cortes estúpidos na cozinha, como as suas eram. Você está no meu gosto pelos livros, na minha alfabetização precoce. Na Mafalda, Grimble, no Voltaire, George Orwell, no livro do Nietzsche que eu convenci ele a te comprar uma vez. Você está no fato de eu saber escrever Nietzsche e saber mais ou menos quem ele foi.

Você está na minha suposta habilidade na escrita. Você está no meu gosto por The Wall, por Pink Floyd, Brain Damage. Por If. Por Cremant nuvols, por Run run se fue pa'l norte, por The Scientist, When you were young, O Peixe, Colorblind.

Você está no meu gosto por chá mate, erva doce, cidreira, hortelã. Do mingau de aveia que talvez eu nunca mais tome. Na lentilha, no feijão, no tahine, no quiabo, na torta de limão, nos bolos que você não sabia fazer.

Você está na tua risada escandalosa, como você contou da primeira frase que eu li - "Alugo mobilete". Eu era novíssima (3 anos? 4?), e você contou que ficou encantada e riu bem alto. E eu fiquei meio assustada. Isso é bem nossa cara.

Você está nas correções que não fez na minha alfabetização, porque achava meus erros (como um "E" com muito mais de três traços) bonitinhos.

Você está no meu senso de humor, no meu jeito contestador. Você está no meus valores, na integridade e honestidade que eu tento sempre ter.

Você está no fato de eu gostar do jeito que certas pessoas mexem no meu cabelo - porque é parecido com o jeito que você mexia. Você era muito carinhosa. E dizem que eu também sou.

Você está na minha baixa estatura."Soy pequena pero cumplidora/compridona". Você está nos nossos infinitos trocadilhos e piadas internas. Você está nas nossas análises intuitivas sobre as pessoas e fatos. Você odiava hipocrisia.

Você está nas coisas que costurou pra mim, e no pouco que sei costurar. Você está nos nossos desenhos. Você está nas nossas viagens.

Você está em mim inteira. Em inúmeros aspectos meus. Você está nos sucessos que eu espero obter e queria que você assistisse. Você está em dezessete anos de lembranças. Você está no mero fato de eu existir, e o tanto que te condenei por isso.

E eu te amo. E você está na minha crença no amor.

"Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura." 
- João Guimarães Rosa, teu escritor favorito. E eu espero que você descanse, mãe, que você descanse. Espero que encontre paz. Queria ter te abraçado mais nos últimos tempos. Mas acho que você me perdoa. 


Vou honrar sua memória.


Eu te amo. Você tinha duas pastas de desenhos nos quais eu dizia basicamente isso. Mas eu ainda queria ter dito isso mais.



Enquanto eu viver, sentirei saudade. Descanse.

* 21/11/1957
†  04/05/2012

terça-feira, 1 de maio de 2012

Pequenas epifanias

"Qualquer amor é um pouquinho de saúde, um descanso da loucura."
- Guimarães Rosa

Esses dias tem sido doces. E li algumas postagens muito bonitas hoje.

Cheguei a uma conclusão simples, mas abençoada: Eu ainda sei amar. O amor continua sendo parte inerente da minha essência.

Isso pode parecer tão leve ou clichê. Mas para mim, significa muito. Porque eu sofri o suficiente pra ficar um bocado amargurada. E conheci pessoas o suficiente para me perguntar se eu não havia perdido a capacidade de amar. E isso me angustiou. Porque eu acredito de verdade que, se existe salvação para uma alma, ela é através do amor. Romântico, fraternal, seja pela humanidade, por uma única pessoa ou pelo seu gato. Mas algum tipo de amor. De conexão. 

(que fique claro que cada um encontra seu próprio caminho. Mas temi ter perdido esse que sempre me pareceu ser o meu.)

Sinto-me em paz. Espero que dure. A paz, digo. O resto... que seja doce. E que seja real. Só isso.

domingo, 29 de abril de 2012

The Pains of Being Pure at Heart - My terrible friend

What did you take? 'Cause that's what I'll take,
and I can't take it without you

When I feel dead, I lay in my bed
I don't want to lay here without you

Now you can't stand, well I understand
You can take my heavy hand

'Cause I can't resist the touch of your lips
I feel the bliss on my fingertips-oh shit

And I'm scared that this could end
face down in the park again
wondering where I left my mind last night
but that's alright, you're my terrible friend


Everyone is pretty and fun, everyone is lovely and young
Everyone is gentle and gone, but everyone's just everyone

And you're the one who's breaking me
And you're the one who just won't leave
Still I don't want it to end, you are my terrible friend

domingo, 22 de abril de 2012

Tão alegre que quase esqueci
Da habitual vergonha de sorrir

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Por infâncias sem violência

A Lei da Palmada (Lei 7.672/2010) proíbe o uso de castigos corporais em crianças. A lei, extremamente polêmica, baseia-se na ideia de que é possível educar sem castigos corporais, que seriam potencialmente prejudiciais e até mesmo traumáticos para a criança.


Há equívocos acerca do que representa essa lei: ela não criminaliza nem multa os pais ou guardiões adeptos da “palmadinha para educar”. O que ela determina é que , caso sejam denunciados por aplicarem castigos corporais em crianças, eles sejam advertidos e recebam orientação e tratamento psicológico ou psiquiátrico, bem como a criança receba tratamento especializado.


Porém, mesmo entre aqueles que sabem disso, a lei é polêmica. Por muito tempo, educar crianças com castigos corporais foi comum, e ainda é. É interessante observar que herdamos esse costume dos jesuítas portugueses na colonização brasileira, e não dos indígenas. Segundo o professor da UERJ José Ribamar Bessa Freire, índios não batiam em seus filhos, e eram amplamente condenados por isso pelos jesuítas. No entanto, a pedagogia hoje tem quase como consenso que castigos físico não são recomendáveis.


Além do argumento de que crianças educadas sem palmada (e por alguma razão, muitos acreditam que uma “palmadinha” é completamente diferente de violência contra a criança) crescerão sem limites, sem disciplina e sem caráter, há o argumento de que a Lei da Palmada representaria uma intromissão excessiva e autoritária do Estado dentro dos lares brasileiros.


Ora, “Uma democracia não é uma ditadura da maioria. (...) Em uma democracia, há direitos que são tão fundamentais que devem ser respeitados mesmo que haja oposição por parte da maioria. Estes direitos estão previstos na Constituição brasileira e não podem ser suprimidos nem mesmo por emenda constitucional.”, explicou o doutor em Direito do Estado Túlio Vianna.


A dignidade da pessoa humana é direito tão essencial que é um dos fundamentos da Constituição brasileira de 1988. E não é possível haver dignidade numa vida com violência. Se alguém fosse agredido pelo seu chefe no trabalho, e este dissesse que foi apenas uma “palmadinha corretiva”, soaria absurdo. Mas para muitos, é aceitável que crianças passem por isso através daqueles que deveriam zelar por elas. Crianças não são propriedade de seus pais, como já disse Khalil Gibran: “Vêm através de vós, mas não são de vós.” Infância e violência não podem coexistir.


(Referências:

http://terramagazine.terra.com.br/blogdaamazonia/blog/2012/01/15/faz-mal-uma-palmadinha/

http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_materia.php?codMateria=8887 )

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Arte de amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

- Manuel Bandeira

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Burn it down till your heart is an empty room

Às vezes tenho a impressão de que alguns amores não necessariamente morrem.

Alguns amores, creio eu, você é obrigado a abandonar ou desistir. Por ser um amor platônico, unilateral, inatingível, ou por ter se esgotado em si mesmo ou esgotado você.

Alguns amores vsão como um quarto que você tranca a chave e deixa lá. Se tornarão um quarto trancado no seu coração. Mas é mais fácil fingir que um quarto trancado está vazio. Mesmo que dificilmente esteja.

E lá fica o quarto trancado. A besta do amor aprisionada. Ocasionalmente, você pode destrancá-lo, cuidadosamente, e dar uma olhada. Sentar-se no chão do quarto e contemplar as lembranças. Às vezes, o quarto está claro, acolhedor e nostálgico. Noutras, chuvoso, frio, hostil e doloroso.

Mas um dia o quarto haverá de se tornar vazio. E então, eu o abrirei novamente.