eu consigo ver séries com assassinatos
estupros
e até transfobia
mas quando eu vejo numa série
uma pessoa se entendendo não binária
e sendo amade
assim
por sua parceria
meu coração estilhaça
e eu me pergunto
por que eu não pude ter essa conversa com você
por que o universo me trouxe
para amar
alguém não transfóbico
mas incapaz de segurar minha mão
com todo o rojão
que ser trans é
indo pro Paraguay eu li boa parte de sua dissertação
vou concluir em alguns dias
lá foi incrível e minhas apresentações foram ótimas
mas
lidar com a transfobia defensiva
de uma pesquisadora feminista
peixe grande na Agroecologia brasileira
me fez lembrar
esfregou na minha cara, como sal nas feridas
quão difícil é
quão difícil será
precisei tomar 3x minha dose habitual
de ansiolítico
para apresentar meu trabalho
sobre pessoas trans na Agroecologia
no dia seguinte ao comentário dessa pesquisadora:
“quando você falou que precisa de um GT de gênero na ANA
eu quis rir”
“eu quis rir”
“eu quis rir”
foi um ato falho
certamente ela não se considera transfóbica
mas
meu coração se partiu
porque lembrei
como a dor que eu já vivo
diariamente, há 30 anos
de tentar ocupar um lugar no mundo
de provar pra mim mesme que eu mereço um lugar no mundo
que minha existência é digna
que minhas palavras são importantes
se eu já era invalidada como mulher cis
imagina agora
não binária
“eu quis rir”
e eu quis chorar
porque não tinha nos braços de quem falar
o quanto aquilo me rasgou
sexta eu tenho terapia
e o resto da minha vida
pra tentar aprender
a ser eu
e me amar
divergente de mente
e divergente de corpo
incongruência de gênero
talvez me defina melhor que disforia
algo não encaixa
e eu só queria poder ter seu amor em toda essa jornada
minha küyen.
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