(18.08.2018)
a vida é cheia de mistérios
uns lindos, outros trágicos
belezas sutis
enquanto eu conseguir,
que minha existência
que minha persistência
em estar aqui
seja também um tributo
a quem não conseguiu seguir
pois sei quanto dói
e sei quanto custa
este para alguns tão mero fato
de estar aqui
eu choro meus mortos
e os honro também
há gratidão pelo que foram e são
e não há julgamento por suas decisões
meu lamento é acompanhado de compreensão
suicidas são egoístas?
o que somos nós então quando queremos
ao nosso lado
pessoas dilaceradas
que não conseguem mais seguir?
temos o direito de querer, de pedir
que alguém passe décadas de dor viva
para nós não vivermos um luto?
eu sei que não tenho esse direito
e com essa consciência, eu deixo ir
quero quem amo vivo para que possa
se possível
ser feliz
não quero que ninguém viva por mim
o amor que tiveram por mim
me manteve viva também
vezes demais foi apenas pensar nos outros
que me impediu de dar o passo final
the final cut
hoje todavia sigo por mim
é a mim que devo a chance
desta nova vida
em que seguir é possível
e bom
eu amo, honro e abençoo
meus mortos e minhas mortes
honro os ecos feridos de meus ancestrais
porém meu pacto atual
é com a vida
novamente, todo dia
eu escolho viver.
*o título do poema foi retirado da música Ancestors, the ancients, de Chelsea Wolfe
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