sexta-feira, 21 de agosto de 2015

separação II

achei por muito tempo que eu era
uma dessas raríssimas pessoas
que encontra o grande amor da vida delas
bem cedo
e que transcenderíamos todos os problemas
todas as mágoas e máculas
casaríamos firmando o compromisso contraído em nome somente
do amor
achei que meu ventre carregaria os filhos dele
que quando fôssemos bem enrugados, lentos
e cheios de histórias
ainda nos amaríamos profundamente
achei que eu poderia
sentir a admiração pulsante e total nos olhos dele
o amor imenso nos olhos dele
por décadas e décadas
achei que a morte poderia ser só a passagem
para segurarmos a mão um do outro até no astral
achei que ele lutaria por mim
e por nós
por saber que sentir isso
é coisa que há quem morra sem jamais sentir

mas ser uma das pessoas
que acha que encontrou o grande amor da sua vida
cedo
e então tudo desmoronar
acabar
desgastar
ser a pessoa que permanece quando a outra já foi
embora
achar que encontrou o grande amor da sua vida
e então a vida não permitir o encontro mais
faz de mim nada rara
faz de mim até bastante comum
faz da nossa história um filme que vários já viram

e eu não queria que ele me salvasse de mim mesma
eu amo quem sou
eu só queria que ele pudesse amar-me assim também.

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