e isso me deixa feliz
parece-me que a existência de fato precede a essência
e sagrada seja a reinvenção de si
bendita a possibilidade
de recomeços incessantes
são bem-vindas as dúvidas
quero a verdade, e não a convicção estagnada
quero a verdade, não a absoluta
mas a que é real exatamente por ser circunstancial
quero a verdade, não só por capricho pessoal
mas porque verdadeiramente livre é quem liberta
e todxs deveriam poder
ser
e só
e viver e amar e crescer e cuidar
e construir e reconstruir
e desistir e recomeçar
e chorar e se arrepender
e gritar e respirar fundo
e sentir o peso do luto
e a leveza da consciência do transitório
e a ir embora e voltar
para os braços de si mesmx
e sentir a dor e o pesar
e sentir-se faltar
sentir-se falhar
e no entanto apesar de todos os contratempos
nosso corpo semi-alienado insiste em continuar
com todas as somatizações, o corpo insiste em sobreviver
e a despeito da vontade de enfiar uma faca num coração que insiste em bater
a despeito da vontade de enfiar uma faca num coração que insiste em doer
ele prossegue sem sossego
com sua sístole e diástole
e o amor pode ser catástrofe
contudo ainda há o livre-arbítrio
a amplitude revolucionária de escolher
ser.
Belíssimo tal viver, onde o caminho importa mais que o destino...
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