máscara cair
é tão bom e tão ruim
caí na sua falsa gentileza
caí na sua falsa amizade
ah, "cobrinha verde enrolada no capim
na frente diz que é amigo
por trás fala mal de mim
fala mal de mim, mas não fala por detrás
pega ela, gato preto, pega ela, Seu Tata"
tenho cinco bilhões de defeitos
ser traíra não é um deles
se não gosto de alguém
limito-me no máximo a ser educada
sou fisiologicamente incapaz
de tratar como amiga querida
alguém que eu desprezo
que bom que meu corpo não me permite
ser asquerosamente falsa e mentirosa
disfarçar de passivo-agressividade condescendente
o que é, em verdade, pura violência
prefiro mil vezes que digam
"a Gio é brava"
do que sintam
"ela fala com tanta doçura
as maiores crueldades
que te destroem por dentro"
se for pra machucar eu falo com todas as letras
prefiro xingar a me fazer de santa
não encarnei pra fazer média com otária
não vou honrar Mulambo sendo capacho
de mulher que vale nada
não sou tua mana
sou filha do grande rio Oxum
que deságua na correnteza
água doce também afoga
e ela não merece minha rosa
não merece sequer meus espinhos
pode ficar tranquila
nunca acendi uma vela pra derrubar ninguém
seu pior castigo é ser você mesma
vou tirar o que de quem não tem nada?
quando mais me demanda
mais meu currículo cresce
mais bonita eu fico
mais em paz com meu destino
pode demandar
quem tem medo de quiumba não nasceu pra demandar
eu não mexo com o que é dos outros
já ela...
quando cair
quando cair realmente
não vai ser tropecinho de "ops"
quando a máscara for arrancada
quando a vergonha te cercar
um dia lembrará do meu nome
ouvirá a gargalhada da calunga te lembrando
a cova pode ser rasa mas a terra é profunda
e eu plantei com mais destreza
não porque me acho um santo anjo do Senhor
não
sou cheia de erros e falhas
mas só de não pagar de detentora
de uma pureza que não sou
já tenho passos a frente na caminhada
só de não ter um filho pra viver em necrose simbiótica comigo
melhor meu útero vazio
nunca na minha vida
amarrei o destino de ninguém
quer ir? vai com Deus
e Nossa Senhora
bifurcou na encruza
disse madrinha
"quem quiser ficar preso, que fique"
não é meu papel libertar cativo que escolheu cativeiro
entrego pra barca do divino
Iemanjá mãe da calunga grande
vai com Deus, meu filho
minha filha
por aqui nunca foi fácil
mas o cerne da minha vida
o objetivo mais importante
o caminho para o sublime
o início e o fim
sou eu
minha medicina é minha verdade
e quando a morte chamar
estarei em paz
não porque não errei
mas porque não fugi de mim
porque acolhi e encarei
o pacote completo
eu venço não porque não sofro
eu sofro e muito
eu venço porque não minto
eu venço porque cedo ou tarde
a verdade sempre aparece
e Deus o abençoe quando a dor bater
ao ver a realidade como é
colha os preços das escolhas
estou em paz com as minhas.