07.05.17
para Carol Knihs
eu não quero o rentável
mercadológico
lucrativo
neoliberal
eu quero o que é humano
cíclico
natural
que fenece e renasce
refloresce
eu quero o que é das mulheres
que sangram sem violência
renovam
criam
plantam
amam
eu não quero a sexualidade
do capital
do patriarca
do poder vertical
eu não quero a erótica da submissão
a estética da auto-anulação
eu quero a sexualidade da liberdade
e "escolher entre diferentes tipos de inferno
não é liberdade"
eu quero a maestria do meu corpo
do meu gozo
eu quero o pulsar da autonomia
autogestionária
eu quero o prazer da comunhão cúmplice
de relações horizontais
se "a heteronormatividade
é um poder paralelo"
eu quero para mim o poder
o poder simples que me foi exilado
de pertencer a mim
eu quero o poder de resistir
sem ter de
sem sequer tentar
me adequar
eu quero a biodiversidade selvática
da flor que irrompe a dureza
do asfalto
da raiz que racha a calçada
da raizeira de pele enrugada
que colhe a cura nas mãos
que revolvem a terra
eu quero transbordar da margem
na qual tentaram me afogar
eu quero a transcendência das mulherem
que riem
que teimam em saber rir
gargalhar do ventre até o céu
apesar de tanto termos a chorar
ainda rimos
pois nos sabemos nossas
e não sós
jamais sós.